Número de ataques de escorpião no Ceará subiu 75% nos últimos quatro anos

O período chuvoso aumenta o risco de picadas do aracnídeo. Desde 2015, os casos de acidentes com esses animais, no Ceará, aumentaram mais de 75%. Até 1º de fevereiro deste ano, o Estado já registrou 210 ocorrências

Com o início da quadra chuvosa, aumenta a incidência de um perigo que vive dentro de casa: o ataque de escorpião. Entre 2015 e 2018, o número de picadas por escorpião, no Ceará, cresceu 76% - quando saltou de 2.882 pessoas picadas para 5.090 casos no último ano.

As informações da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) também alertam que o Estado já registrou 210 casos de vítimas de acidentes por escorpiões até 1º de fevereiro deste ano. Em 2018, o Núcleo de Assistência Toxicológica, do Instituto Doutor José Frota (IJF) - localizado em Fortaleza e referência no Estado - realizou 3.023 atendimentos a pacientes atacados.

O período chuvoso aumenta a quantidade de ocorrências porque, devido à água da chuva, os escorpiões saem de seus esconderijos, em busca de locais secos e de alimentação - composta especialmente por baratas, mas eles também comem grilos, aranhas e pequenos vertebrados.

Entre as nove espécies de escorpião que habitam no Ceará, o "Tityus serrulatus" e o "Tityus stigmurus" são os que mais preocupam a população cearense, devido à picada que pode ser letal, e também pela capacidade de se reproduzir por partenogênese, ou seja, a fêmea é capaz de gerar outras fêmeas por si só, sem a necessidade de um macho.

O assessor técnico do programa de acidente por animais peçonhentos da Sesa, comenta que esses ataques não são exclusivos da quadra chuvosa. "Nós temos acidentes com escorpião o ano todo, mas nesse período chuvoso eles acometem mais acidentes porque, ao sair para procurar abrigo, eles encontram as pessoas", comenta Ivan.

A Secretaria ainda alerta que os escorpiões podem "entrar nas residências através de tubulações para fiação e encanamentos de esgoto. Frestas em paredes, portas e janelas também facilitam a entrada deles nas casas. Os escorpiões procuram alimento à noite. Durante o dia, ficam escondidos em lugares escuros, como calçados, armários, gavetas, panos e toalhas em áreas de serviço e banheiros".

Prevenção

De acordo com o Guia Prático para o Tratamento de Intoxicações Agudas do IJF, "a prevenção de acidentes ocorre quando da adoção de procedimentos, tais como evitar entulhos dentro e/ou ao redor de residências, sempre sacudir roupas e calçados antes do uso, sempre usar luva de raspa de couro ao manipular materiais estocados em regiões sabidamente endêmicas para escorpiões". Ivan Luiz ainda alerta para locais como ralos de pia e esgotos.

"Dentro de casa, nos ralos de banheiro e de cozinha, deve-se colocar uma tela, ou aquele ralo que abre e fecha. Nas janelas, colocar tela. Ter cuidado também na cama, no colchão, nos lençóis. E no caso das crianças, que são pacientes de risco, afastar a cama e se possível, colocar mosquiteiro, mas não deixar encostar no chão", complementa o técnico sobre as maneiras de evitar os ataques peçonhentos em casa.

Ivan destaca também as idas ao banheiro no período da noite e/ou madrugada. "Quando for no banheiro à noite, você deve ir usando chinelo, porque ele pode estar no ralo do banheiro, e a pessoa pode não enxergar. Muita gente tem costume de ir ao banheiro descalço", complementa sobre o perigo de estar descalço. O estudante de Biotecnologia, Júnior Farias, 23, sofreu com um ataque de escorpião exatamente pela falta de calçados no momento quando foi picado.

Em relação aos ataques e as maneiras, o Guia Prático do IJF complementa que "na maioria das vezes, os acidentes ocorrem quando os animais são comprimidos no interior de calçados e roupas, ou mesmo quando o indivíduo se deita sobre o animal".

Tratamento

Júnior Farias lembra que foi picado por um escorpião em um momento bastante comum, dentro de casa. "Estava nesse período de chuva, e aparecia muita barata, então a gente já fica preocupado. Eu estava no sofá, assistindo TV, e eu desci descalço e sem olhar para o chão. Daí, eu pisei em cima dele, bem no ferrão", comenta o universitário. Júnior revela a sensação da picada. "Foi uma dor esquisita, parecia que eu tinha pisado em um prego. Doeu muito! Ficou inchado, dolorido. Eu não fui para o hospital porque minha família prefere técnicas de tratamento natural", complementa o estudante.

Apesar do tratamento realizado em casa, Ivan Luiz comenta que "o protocolo clínico é lavar com água e sabão e procurar unidade de saúde. Nada de tentar chupar o veneno, colocar querosene, ou 'xixi'". O especialista explica que esses métodos populares não são aconselháveis.

Em relação ainda ao procedimento após a picada, o especialista explica que "se ele (escorpião) te oferecer algum risco, você pode matá-lo. E se você foi acidentado, se possível, leve o animal junto para a unidade de saúde mais próxima", disse o especialista.

O Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do IJF funciona 24 horas por dia, de segunda a segunda.

A casa é um dos locais onde existe o maior risco de picadas de escorpião. A população deve ficar atenta a ralos de pia e banheiro, camas, lençóis e colchões, pois são locais que podem esconder os aracnídeos

Mais informações:

Núcleo de Assistência Toxicológica do IJF

Rua Barão do Rio Branco, 1816. Centro

(85) 3255-5050 / 3255-5012 / 98439-7494

24 horas por dia. De segunda a segunda.