Miniterminal será erguido em praça que espera reforma há 10 anos

Com a desativação da Praça da Estação, no Centro da Cidade, parte das linhas de ônibus que hoje passam pelo logradouro será encaminhada a pontos que serão construídos em espaço ao lado da Praça José de Alencar

Se na década de 1970, a Praça José de Alencar, no Centro de Fortaleza, foi o ponto de partida de diversas linhas de ônibus urbanos e, posteriormente, com a construção da Praça Castro Carreira, conhecida como Praça da Estação, viu a função de miniterminal mudar de logradouro, nos próximos períodos, esta alteração deve ser revertida.

Embora em moldes distintos do passado, a Praça José de Alencar, que há, pelo menos, 10 anos padece com a degradação e acumula promessas de requalificação, será reformada e voltará a contar com paradas de ônibus, segundo a Prefeitura. A projeção é desativar a Praça da Estação - que também resiste em meio a cenário de desgaste estrutural e insegurança - e deslocar as linhas para o logradouro reestruturado.

Separadas por 650 metros de distância, historicamente, as duas praças se interligam: a José de Alencar, pelo menos, desde a década de 1950 funcionava como um terminal. Em 1987, essa função foi extinta, mas antes disso, a Praça da Estação já havia recebido os pontos de ônibus transferidos da José de Alencar. Bem como outros endereços no Centro receberam as paradas de ônibus.

Além de, no decorrer dos anos, alternar a funcionalidade atrelada ao transporte público, os dois logradouros hoje guardam outra semelhança: a percepção de seus frequentadores sobre a necessidade de reformas e melhorias. Na Praça da Estação, o movimento é sustentado hoje pela circulação de coletivos. A modificação mais recente no local se deu em 2013, quando o espaço foi alvo de uma ação de ordenamento que removeu vendedores ambulantes.

"Esta praça é desprezada. Ninguém liga para o Centro, é um descaso. Já arrancaram os telefones que tinham aqui, depredaram um monumento de ferro. Não tem segurança! E se tirarem esses ônibus, vai ser pior. O que vai sobrar aqui na praça sem transporte?", indaga Célio de Oliveira, 68 anos, que há 22 anos mantém uma banca de revistas no local. "Eu já reclamei para o prefeito, mandei carta. Nada mudou. Outras pessoas não querem lutar por esse lugar, não se importam", destaca.

Ambulantes

Na Praça José de Alencar, os sinais do descaso são visíveis. O piso tem pedras arrancadas, espalhadas fora do lugar. Público não falta, uma vez que o local é conhecido por abrigar vendedores ambulantes que, por volta de 15h, já preenchem o espaço junto a pessoas em situação de rua, que repousam sobre bancos e colchões. Os desgastes se acumulam desde 2009, última vez em que a praça foi parcialmente fechada para reforma.

Os mais de três anos de trabalho como comerciante na praça permitiram que Evineuma Rodrigues, 48, vivenciasse "todo tipo de coisa". Infelizmente, nem todas as experiências foram agradáveis. "Aqui tem assalto direto. Antigamente, era melhor, não tinha tanto roubo. A gente 'tá' aqui arriscado. É triste, porque aqui é o Centro, merece coisa boa", lamenta. Evineuma já teve seu celular roubado no local. Apesar disso, continua a percorrer diariamente o trajeto Maracanaú-Fortaleza, onde permanece de 7h às 17h.

Uma rotina similar é compartilhada por Rosânia Sousa, 52, que vende roupas na Praça. Para ela, o local "tem muito o que melhorar". "É muito lixo espalhado, não tem limpeza. De um tempo para cá, com certeza piorou", afirma. A reforma na Praça José de Alencar é prometida pela gestão municipal desde 2013.

A reforma do espaço foi novamente reafirmada pelo prefeito Roberto Cláudio, na ocasião de anúncio de verbas asseguradas para obras municipais que ainda serão iniciadas pela atual gestão. O prefeito garante que, até setembro de 2019, a José de Alencar terá os trabalhos iniciados. A intervenção engloba tanto a reestruturação física da Praça, com reforma e mudança no paisagismo, como a instalação do miniterminal. O projeto é orçado em R$ 5,1 milhões. A revitalização será conduzida pela Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf), e deve se estender por 12 meses.

"Ao lado (da Praça José de Alencar), vamos construir um miniterminal de ônibus, tendo em vista que o Governo do Estado vai fazer uma grande praça ali na Praça da Estação, onde há um pequeno terminal de integração metropolitana. Vamos levar esse terminal para uma área vizinho à Praça José de Alencar", disse o prefeito. Embora sem especificar data, o Estado, por meio da Secretaria da Cultura do Estado (Secult), informou que a Praça da Estação deve ser revitalizada e incorporada à Estação das Artes. O início da intervenção, cujo projeto será R$ 63 milhões, está previsto para 2019, sem mês definido.

No atual projeto, além das mudanças, as ruas General Sampaio e Liberato Barroso, terão cruzamentos elevados e uma travessia de nível será implantada em frente ao Theatro José de Alencar. "O projeto foi aprovado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em torno do bem tombado. Já foi lançada a licitação, com abertura marcada para o dia 16 de julho. Após essa data, ocorrem os trâmites burocráticos de licitação, que duram entre 45 e 60 dias. "A partir disso, temos a empresa vencedora, que vai fazer a reforma. Em mais 10 dias, a gente inicia a obra", diz a titular da Seinf, Manuela Nogueira. Já de acordo com Roberto Cláudio, coincidindo com o início das intervenções, os ambulantes serão realocados em um espaço alugado na Rua São Paulo.

Apesar das queixas quanto à segurança nas praças, a Polícia Militar garante que o Centro "está entre os bairros mais bem policiados da Capital", com policiamento a pé e motorizado. A região, informa a PMCE, conta com o apoio da Força Tática (FT), de equipes do CPRaio e da Cavalaria.