Na contramão do pedido dos pais, Alberto Leitão, 26, optou por assumir o posto de médico generalista uma semana após a formatura. Diante da incidência dos casos, os genitores temiam que ele se contaminasse e levasse o vírus para dentro de casa. Apesar do temor, o profissional aceitou o trabalho na Capital e em Solonópole, município a 277km de Fortaleza. A decisão, no entanto, foi seguida de outra: sair de casa e alugar um apartamento para resguardar a família.
"Dá até um nó na garganta quando falo sobre isso porque domingo agora foi a última vez que tive contato com meus pais e minha irmã de sete anos. Não sei quando isso vai se resolver, por isso, achei melhor alugar um apartamento com outras três colegas que também estão trabalhando na linha de frente", conta.
Ele conseguiu vaga em duas unidades de saúde de Solonópole após indicação de uma amiga. No hospital municipal, o plantão é de 24 horas e nos outros três dias, atende durante oito horas no posto de saúde. Aos fins de semana, Alberto faz o expediente em UPAs de Fortaleza.
Quando voltar da cidade para a Capital na próxima sexta-feira (8), o médico já irá para o novo imóvel. A saudade de casa, ele diz, será "inevitável", mas entende que foi uma medida acertada.
"Foi uma decisão de autocuidado, mas foi também muito maior de cuidado com os meus pais, porque minha mãe tem obesidade, e o meu pai, hipertensão",explica.
Antes da pandemia, Alberto planejava se especializar em anestesiologia. O curso passou a ser um plano para o futuro. "Vou atrasar esse sonho para o próximo ano". Até lá, ele continuará se dividindo entre a Capital e o interior. "Fiquei assustado com essa ideia no início, porque há muitos casos confirmados da Covid-19, mas também estou atendendo muita gente com crise de ansiedade na emergência. Eles se mostram preocupados com a doença. E em Fortaleza, as UPAs estão lotadas", diz.