Na dureza aparente de quem vive na zona rural, mesmo tão próximo da cidade "grande", a esperança é expressa pelo olhar. Entre tantas tristezas e um dedo de desilusões, essa confiança é a única que mantém os sonhos e a fé de poder até jurar, de tanto desejo, que há água da boa bem embaixo de seus pés. Para essa gente, o poço artesiano, tão esperado e motivo de lutas, há de se confirmar. Com ele, a comida mais farta na mesa, pessoas menos endurecidas, algum sorriso e, para as crianças, uma daquelas antigas brincadeiras de infância: tomar banho de mangueira.
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A oferta que ainda resta nos reservatórios e mananciais traz em si um valor mais do que simplesmente ser uma composição química: H2O. Ela representa vida, esperança, sobrevivência. Em cinco anos de estiagem, a seca extrapola limites e chega determinada na Região Metropolitana de Fortaleza.
O período, para meteorologistas da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), é o mais severo já enfrentado pelo cearense, com consequências imensuráveis não só para o adulto, como, principalmente, para a criança e adolescente. Não importa a faixa etária, o que se faz, como se vive. Todos dependem dessa água para viver.
Clima
O geógrafo Jeovah Meireles, da Universidade Federal do Ceará (UFC), analisa que o clima do Ceará é marcado pela aridez. As secas são periódicas, e, desde que a ocupação territorial foi consolidada, a população busca alternativas.
A professora do Departamento de Geografia da UFC e coordenadora do Curso de Doutorado em Desenvolvimento e Meio Ambiente em Rede, Vládia Pinto Vidal de Oliveira, aponta que grande parcela do território do Ceará, em torno de 85,47%, é suscetível à desertificação. Assim, as áreas passíveis a esse processo, no Ceará, são os núcleos de Irauçuba, principalmente, os municípios de Irauçuba, Santa Quitéria e Canindé, as regiões dos Inhamuns/Sertões de Crateús e o Médio Jaguaribe. "Dessa forma, a Região Metropolitana de Fortaleza não está inserida nesse contexto", frisa. Qualquer alteração negativa da paisagem, que tenha sido afetada pela ação do homem, é considerada degradação e não desertificação. Por exemplo, não posso dizer que as áreas dos tabuleiros pré-litorâneos ou mesmo o ecossistema manguezal estejam desertificados, mas posso dizer que estão degradados", diferencia.
Por outro lado, salienta, independente que a Região Metropolitana não esteja inserida no conceito de desertificação, a problemática da seca que ocorre nas áreas circunvizinhas ou sertanejas repercute na RMF, por meio dos seus aspectos socioambientais, pois tudo está conectado. "Citamos o êxodo rural quando o homem abandona o campo em busca de melhores condições e oportunidades na Capital, onde provavelmente se instalará em favelas ou em áreas de riscos".
Entrevista - Dedé Teixeira - Titular da SDA
Os programas Água para Todos e São José são considerados vitais para a região. Os dois estão recebendo recursos do Ministério da Integração?
Houve cortes, sim, nos repasses da União em relação aos programas. O primeiro, por exemplo, ainda aguarda liberação da ordem de R$52 milhões. Mesmo assim, no São José, entre 2015 e 2016, já foram executados 42 sistemas de abastecimento d'água beneficiando 4,8 mil famílias, em 23 municípios num investimento total de R$17,6 milhões. No período, foram instalados 5,5 mil módulos sanitários em 53 municípios e 15 Sistemas de Reúso de Água, num total investido de R$203milhões.
Qual o papel das prefeituras nesse processo?
Semana passada foi fechado um acordo inédito entre o governo do Ceará e gestões municipais. Antes, os poços eram perfurados pelo Estado, mas o serviço de instalação sofria com interrupções e atrasos. Agora, o município e o gestor do saneamento, no caso Cagece ou Sistema de Abastecimento de Água e Esgoto (SAEE), serão responsáveis pela instalação e gestão dos poços.