Aos 68 anos de idade, Maria de Lourdes Freire realiza um sonho que achou nunca poder alcançar: entrar, pela primeira vez, em sua casa dentro na primeira Reserva Indígena do Ceará, inaugurada na manhã desta terça-feira pelo governador Camilo Santana. A área, de 543 hectares está localizada no KM 13 da CE-085, município de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
A reserva foi uma das condicionantes incluídas no Termo de Compromisso para a instalação da Refinaria Premium II, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP). Ali, ainda vivem comunidades indígenas de duas aldeias: Matões e Bolso, que estão sendo transferidas aos poucos. Além delas, mais duas do mesmo povo foram beneficiadas: Baixa das Carnaúbas e Currupião. Durante solenidade, Camilo Santana apontou que a obra só saiu pelo esforço redobrado do governo do Estado. "Já que a Petrobras deu mais um calote no Ceará e não cumpriu o acordo assumido", detonou.
O governador explicou que o compromisso era que a estatal arcaria com 50% dos custos de um total de R$ 30 milhões ou seja R$ 15 milhões e só liberou R$ 6 milhões. "O governo assumiu a obra, pelo respeito ao povo indígena cearense, adquiriu o terreno por R$ 15 mi e investiu em obras e equipamentos, sob a responsabilidade da Secretaria da infraestrutura (Seinfra)", afirmou Camilo Santana.
Desculpas
O chefe do Executivo estadual pediu desculpas aos indígenas por tudo que aconteceu na história deles e prometeu empenho em mais ganhos. "O Estado reconhece as comunidades indígenas, como os Anacé que não tem culpa se alguém não honrou o compromisso firmado", diz.
A nova Reserva Anacé conta com 163 unidades habitacionais (de 80 metros quadrados de área cada), uma escola (padrão indígena), um posto de saúde (padrão indígena), acesso viário, vias internas, além de sistemas de energia elétrica, iluminação pública, água (caixas d'água e poços profundos), esgoto (fossas sépticas) e também drenagem. "Para mim representa tranquilidade, paz e alegria", destaca Maria de Lourdes
Seu filho e nora, Adonias e Mayara, também ganharam uma casa e dizem que essa foi a melhor solução para a luta de seu povo. "A área é protegida e me sinto muito feliz pois nossa filha vai estudar na escola dentro da área, já plantei melão, feijão e coentro. Agora é seguir em frente", comemora ele.
Vínculos
A coordenadora da Igualdade Racial do Ceará, Zelma Medeira, explica que as 163 famílias estão sendo instalada aos poucos. "É importante fortalecer os vínculos, a cultura e não é fácil deixar o local onde muitos nasceram, no entanto, é a garantia da terra e isso representa novas conquistas", frisa. O cacique Índio Dourado, dos Tapeba, também ressalta a iniciativa, no entanto, aponta que ainda existe um longo caminho a seguir para os outros 13 povos indígenas do Ceará. "É preciso muita luta para conseguirmos outras questões importantes para a gente".