A história do Estádio Presidente Vargas mudou para sempre depois de abril de 2020. Entre partidas de campeonatos e buscas por títulos esportivos, agora o espaço também será marcado pela luta de mais de 1.200 pacientes atendidos durante os três meses de funcionamento do hospital de campanha construído no gramado. O equipamento foi erguido para desafogar a rede de enfrentamento da pandemia causada pelo coronavírus em Fortaleza.
Ativo desde o dia 18 de abril, o local já chegou a receber uma internação por Covid-19 a cada 30 minutos, nas primeiras semanas de maio, quando a Capital passava pelo pico de infecções. No dia mais crítico de funcionamento, foram 48 pacientes em 24 horas. "Nós tivemos o pico da epidemia no Município na última semana de abril e nas primeiras semanas de maio. O que quer dizer que, quando a população mais precisou, o hospital estava em pleno funcionamento", afirma a secretária municipal da Saúde, Joana Maciel.
Ao todo, 1.215 pacientes foram atendidos, com 985 deles se recuperando e recebendo alta. O número representa 81% do total de pessoas tratadas no hospital de campanha. Outras 132 pessoas vieram a óbito no local, de acordo com a SMS. Além disso, 62 pacientes foram transferidos. O hospital chegou a registrar 100% da capacidade de ocupação, recebendo enfermos em todos os mais de 280 leitos, entre enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Mesmo com a diminuição da quantidade de pessoas buscando internação, ainda não foi divulgada a data em que o hospital será desativado.
Nilza Amélia Cavalcante, 95, foi uma das pacientes que precisou ser internada no PV. A idosa passou cerca de seis dias em um leito de enfermaria se recuperando das complicações que a Covid-19 causou em seus pulmões, tendo alta no dia 5 de junho. "A gente fica com a sensação de que a pessoa não volta. Acho que isso passa na cabeça de todo mundo. Principalmente no caso dela. Quando a gente viu que ela ia melhorando, ficou super animado", relembra Irisnalda Cavalcante Lima, 53, sobrinha da paciente.
Devido à característica infecciosa da doença, a presença de acompanhantes não era permitida no hospital. Além disso, a grande quantidade de pacientes atendidos sobrecarregou os profissionais da saúde, fazendo com que o repasse de informações para os familiares ficasse prejudicado.
A angústia maior da família de Nilza, que também teve parentes internados com coronavírus em outras unidades, era a comunicação. Antes de conseguir falar com a tia por chamada de vídeo, era difícil saber notícias da paciente. Com o contato virtual estabelecido, Iris disse que percebia a melhora imediata de Nilza.
Para uma técnica em enfermagem que trabalhou no hospital de campanha até o fim de junho, era perceptível a melhora dos pacientes, inclusive em relação ao quadro de saúde, quando conseguiam falar com a família. "Eles estavam sentindo falta, estavam carentes. Uma chamada mudava o dia deles", lembra. A profissional, que não quis se identificar, conta da sobrecarga e lotação que enfrentou com os colegas. "O paciente saía de alta e chegava outro, tinha muito óbito e era muito cansativo o trabalho". Nos últimos dias, ela afirma que o ambiente foi mudando, alguns setores fechando, o hospital mais vazio.
"Acho que a gente vai entrar para a história. No dia que chegar ali vai saber: 'poxa, aqui foi internada minha tia'", afirma Iris.
Capital: média de novos casos reduz
A média móvel de novos casos confirmados da Covid-19 em Fortaleza é a menor já registrada pela Secretaria Municipal da Saúde desde o início oficial da circulação do novo vírus. A média atual é de 22 novos casos e já chegou a ser de 824,9 casos no pico.
O número diz respeito à soma de novos casos dos últimos 7 dias e faz comparação com semanas anteriores, sempre considerando o período de uma semana. Os dados foram divulgados na edição desta sexta (17) do boletim epidemiológico da Capital.