Fortalezenses formam rede de apoio para auxiliar nos resgates

Desde ajudas pontuais a grandes equipes desenvolvendo trabalho voluntário, as doações de insumos e de tempo no entorno do Edifício Andrea não cessam. Grupos religiosos e iniciativa privada fortalecem solidariedade

O intenso calor ou mesmo a distância não foram empecilhos para que muitos fortalezenses saíssem de suas casas rumo às imediações dos escombros do Edifício Andrea. Ao redor da tragédia, uma rede de apoio se montou imediata e espontaneamente, com um único intuito: o de ajudar.

Chegando de carro ou a pé, o ir e vir de doações, ontem (16), permanecia incessante. Isopores, sacolas, colchões, utensílios descartáveis, garrafas de água e alimentos não paravam de chegar aos pontos de apoio, onde voluntários se revezam para auxiliar familiares e trabalhadores que atuam dia e noite nos resgates.

Além da ajuda com suprimentos para arrefecer a fome, sede ou cansaço, ainda havia quem oferecesse amparo psicológico e mesmo espiritual. Na tarde desta quarta, entre feições angustiadas, um grupo de católicos fazia orações e entoava cânticos, como demonstração de esperança e respeito às vítimas. Exceto quando o apito forte dos Bombeiros exigia silêncio, num esforço para ouvir com precisão qualquer som que pudesse sinalizar um pedido de socorro de algum sobrevivente.

Solidariedade

No lado de fora dos escombros, entre o ir e vir de ajudantes estava Lucas Lacerda, de 25 anos, motorista de aplicativo. Desde o momento em que soube dos resgates, reduziu a própria carga horária de trabalho para dedicar 12 horas do seu dia à solidariedade. Ele é um dos voluntários responsáveis por receber as doações de alimentos e objetos, que chegam a todo momento, e encaminhá-las à Cruz Vermelha.

"Apesar de ser uma tragédia, algo tão sério e ruim, você sente muita energia positiva. Desde ontem (15 de outubro), passei a acreditar mais no ser humano. Vi pessoas vindo de longe se disponibilizando a ajudar. Fiquei impressionado", afirma. Segundo Lucas, que se autointitula como alguém com "vocação para ajudar", ele colabora representando todos os motoristas de aplicativos da Cidade.

Representando a Igreja Universal, o pastor Ricardo Azevedo detalha que a instituição religiosa montou dois acampamentos em diferentes pontos de acesso ao local onde o prédio caiu. Ao todo, ele coordena uma equipe com cerca de 300 voluntários, que atuam em diferentes turnos. E realizando os mais diversos tipos de atividades, que vão desde a retirada de entulhos dos escombros até a distribuição de alimentos e água a bombeiros, policiais e familiares das vítimas.

Acima de tudo

"Por mais que aqui seja uma organização da Igreja Universal, quem doa são pessoas de diferentes religiões. Então, o amor ao próximo está acima de tudo", resume o pastor, ressaltando que os voluntários devem continuar disponíveis até que seja encerrado todo o processo de resgate. As equipes estavam identificadas com um uniforme específico, para diferenciá-las.

Profissional com experiência em dar apoio socioassistencial, Juliana Rodrigues, 32, integra o projeto Abraçando a Comunidade, responsável por arrecadar doações e fazer mobilizações solidárias com a plataforma Fortaleza Solidária. Para ela, embora o momento seja de tristeza para todos, especialmente para os familiares das vítimas do desabamento, é possível sentir um clima de solidariedade, apoio e acolhimento no local.

"Graças a Deus, estamos conseguindo fazer uma grande mobilização porque os fortalezenses são muito solidários. Nas próprias famílias a gente nota uma tristeza profunda no olhar por não saberem dos seus, mas ao mesmo tempo elas veem que estão sendo acolhidas".

A professora de Yoga Anabela Alcântara, 51, passou em um dos postos de apoio para deixar um colchão, copos descartáveis e talheres. Ainda que considere uma pequena ajuda, compreende como necessária. "Vir aqui dá uma emoção forte na gente. E é incrível qualquer coisa que se traga, nem que seja um olhar", recomenda, sorrindo.

Foi o que fez o professor e servidor público, Pio Barbosa Neto. Junto a um amigo, saiu de casa para doar duas cestas básicas. "Fiquei extremamente chocado com toda essa tragédia. Nosso trabalho humano e de toda a sociedade é solidarizar-se, apoiar e dizer a todos que eles são muito bem-vindos em nosso coração"

Entidades auxiliam famílias

Desde que o desabamento do Edifício Andrea foi noticiado, muitas iniciativas vêm sendo empreendidas em Fortaleza, em prol dos familiares das vítimas. A Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (Abih-CE), por exemplo, disponibilizou quartos dos hotéis associados para que parentes das vítimas permaneçam, gratuitamente, por até uma semana. O Hemoce também preparou um estoque de bolsas de sangue suficiente para atender à demanda gerada pela tragédia.

A Defensoria Pública do Estado do Ceará também está ofertando assessoria jurídica aos envolvidos na tragédia. "Dada a circunstância geral e vulnerabilidade, fomos ao local da tragédia para fazer os contatos necessários do que cada um vai precisar em termos de indenização, aluguel social, gastos com funeral, o que for", afirma a defensora pública Elizabeth Chagas, titular do Núcleo de Habitação e Moradia. Para resolver qualquer questão jurídica, as famílias podem se dirigir ao Núcleo de Habitação e Moradia (Av. Senador Virgílio Távora, n° 2184, Dionísio Torres) ou ligar para o (85) 3262-4708.

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