O acúmulo em excesso de gordura, gerando a obesidade, pode acarretar em diversos problemas de saúde, como diabetes e hipertensão. Contudo, em tempos de pandemia, quem sofre dessa doença crônica, passa a estar, também, suscetível a complicações da Covid-19, transmitida pelo novo coronavírus. É o que afirma a médica endocrinologista e professora de Medicina Ana Flávia Torquato, de 39 anos.
Conforme Ana Flávia, pessoas que sofrem de obesidade não estão mais propensas a contrair o vírus, porém podem apresentar quadros mais graves da doença, já que ela diminui a capacidade de funcionamento do sistema imunológico do corpo, formado por células capazes de deterem substâncias maléficas por meio da produção de anticorpos.
“A obesidade é uma doença na qual existe um estado de inflamação crônica. O tecido gorduroso produz uma série de substâncias que podem interferir na resposta imune, prejudicando-a e ocasionando, assim, uma defesa do organismo alterada. Ou seja, pessoas que sofrem de obesidade podem desenvolver formas mais graves da Covid-19”, afirmou a especialista.
Em Fortaleza, epicentro da Covid-19 no Estado do Ceará, cerca de 19% dos homens e 21% das mulheres, do grupo adulto com idade igual ou superior a 18 anos, são obesos, de acordo com dados de 2019 da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde. Tais números, segundo Ana Flávia, indicam pessoas mais vulneráveis ao agravamento de problemas respiratórios, que se intensificam com o coronavírus.
“A obesidade é um fator de risco para outras doenças, como as respiratórias que já, por si só, elevam o risco de formas mais graves da Covid-19. A pessoa que está obesa pode ter uma pior capacidade de expansão do pulmão, pode ter apneia do sono ou asma. E essas são doenças pulmonares que podem agravar o quadro clínico de quem foi infectado com o coronavírus”, informou a endocrinologista.
Para a médica, por mais que o principal grupo de risco a contrair a Covid-19 sejam pessoas idosas, ou seja, acima de 60 anos, é de extrema importância salientar que o vírus pode atingir de forma mais danosa também adultos obesos e que apresentam outras comorbidades associadas ao excesso de peso, como diabetes e hipertensão.
“Em um primeiro momento, a idade, diabetes e doenças cardiovasculares foram o foco principal. No entanto, quando o coronavírus atingiu países como os EUA, onde a obesidade se apresenta em 42% da população, perceberam que pacientes mais jovens estavam sendo internados, e o único fator que apresentavam era a obesidade. Foi aí que perceberam que a obesidade é um fator de risco para as formas mais graves da Covid-19”, disse Ana.
Prevenção e tratamento
Ana ressalta ainda que a melhor maneira para se evitar o acúmulo de gordura, trazendo um possível quadro de obesidade, é por meio de hábitos saudáveis. Conforme a especialista, a perda do excesso de tecido adiposo em pacientes obesos causa, consequentemente, o aumento da imunidade.
“Quando as pessoas perdem o peso em excesso, a inflamação crônica causada pela obesidade melhora. A imunidade melhora bastante, voltando aos níveis normais. Por isso, é essencial manter um estilo de vida saudável. Com uma alimentação balanceada, fazer uma atividade física, dormir bem, se hidratar. Contudo, quem estiver infectado com o novo coronavírus, terá, também, que ter os cuidados que essa doença exige”, finalizou Ana.
Para ser considerada uma pessoa que sofre de obesidade, é necessário, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), que o Índice de Massa Corpórea (IMC) esteja igual ou superior a 30. O cálculo, válido somente para pessoas adultas, é feito a partir de uma conta matemática simples, na qual deverá ser dividida a massa corporal, em quilogramas, pela altura, em metros, multiplicada por dois.