Um cenário de incertezas se desenha sobre o futuro das reservas hídricas do Ceará. Afinal, até maio, vai chover bem? E o que cair do céu será suficiente para fazer subir o nível dos açudes e garantir mais um ano de abastecimento? As dúvidas lançam desafios sobre a gestão da água que está disponível, e a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) vasculha saídas para otimizar a distribuição.
Uma delas projeta a instalação de 160 Distritos de Medição e Controle (DMC's), setorização necessária para facilitar a supervisão do fornecimento em Fortaleza, Caucaia e Maracanaú, na Região Metropolitana. A Cagece estima que a implantação de todos os DMC's possa gerar, inicialmente, uma redução de 8,29% no resultado das perdas de água em Fortaleza e RMF.
Na Capital, o cronograma de implantação priorizará áreas com maior incidência de perdas e que operam com altas pressões, como alguns bairros da Unidade de Negócio Metropolitana Sul (UN-MTS), que abrange partes das Regionais V e VI de Fortaleza.
Recursos
Hoje, Fortaleza já possui 17 dos 160 DMC's em funcionamento. O primeiro foi implantado em 2016, no bairro Rodolfo Teófilo, agregando cerca de 1.600 imóveis. Segundo a Cagece, as perdas no setor giravam em torno de 40%; quando o projeto começou a funcionar, o índice foi reduzido para 20%. Um macromedidor instalado na entrada principal do setor hidráulico permite avaliar melhor a gestão da água.
O projeto dos DMC's está estimado em pouco mais de R$ 90 milhões. O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) entrará com R$ 58 milhões, e a arrecadação da Tarifa de Contingência, aplicada em Fortaleza e RMF, fornecerá mais R$ 32 milhões. Ela é aplicada hoje apenas aos clientes que consomem acima de 10 m³.
Segundo o presidente da Cagece, Neuri Freitas, a licitação dos serviços deve ser lançada até o mês de março. A primeira etapa deve ser concluída no segundo semestre de 2020.
Benefícios
As obras serão iniciadas nos setores hidráulicos Messejana, com 20 DMC's, e Castelão, com nove. Mucuripe, Aldeota, Expedicionários e Cocorote vêm depois. "Hoje, temos 17 setores imensos na Capital. Queremos quebrar um setor grandão, em torno de 100 mil ligações, em pequenos setores de até 5 mil ligações. É mais fácil gerenciar esses pequenos pedaços e saber se as pressões precisam ser mais altas ou baixas", explica o gerente de controle de perdas da Cagece, Jorge Medeiros.
Marco Aurélio Holanda, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental da Universidade Federal do Ceará (UFC), confirma que os DMC's trazem extensos benefícios, mas desde que a rede onde eles serão implantados seja bem conhecida. "Você não pode implantar aleatoriamente. Tem que saber quais são os materiais, o diâmetro e localização de outros dispositivos hidráulicos da rede", defende.
Conforme o especialista, o mecanismo não implica em aumento de tarifação e nem possui limite máximo de ligações por setor. "Ele é um sistema mais eficiente porque você tem dados em tempo real de vazão e pressão na rede. Esse maior controle pode até gerar economia. Durante a madrugada, por exemplo, o consumo é mínimo. Se você mantiver a pressão normal, você maximiza as perdas por vazamentos", esclarece.
O projeto se torna aliado dos programas de redução de perdas promovidos pela Cagece. Até dezembro do ano passado, 4 milhões de metros cúbicos foram recuperados com as medidas para retirada de vazamentos. Segundo o órgão, o tempo médio para tais correções caiu de 30 horas, em 2016, para 8 horas, em 2018. Já o combate a fraudes, com equipes diretamente em campo, permitiram a economia de 10 milhões de m³. "Algumas são bem visíveis, até grosseiras", explica Neuri Freitas.
Redução
"Conseguimos equilibrar um pouco mais as pressões pra ter uma distribuição melhor, evitando inclusive a quebra das redes e aumento de vazamentos", complementa.
Para ele, a população também teve papel importante na redução do consumo na Capital e na Região Metropolitana. Em 2014, cada ligação (família) utilizava 13,39 metros cúbicos por mês. Atualmente, o número fica em torno dos 10,9 metros cúbicos.