A esperança resiste em meio ao trauma. O sentimento é vivenciado pelo recepcionista Gilson Moreira, 58, que ficou a “dois ou três palmos” da morte, quando fazia compras no mercadinho localizado na Rua Tomás Acioly sobre o qual o Edifício Andrea, em Fortaleza desabou no dia 15 de outubro.
“Alguns dizem que eu tava no lugar errado, na hora errada, mas não: eu tava no lugar certo, na hora certa. Só Deus sabe, e Ele me deu outra oportunidade. Ele tá do meu lado. Eu tenho muita fé”, sentencia, sentado na cadeira de rodas e agarrado ao terço de madeira.
Gilson teve as duas pernas fraturadas pelo impacto dos escombros e, apesar da dor, transborda gratidão a Deus e às equipes de resgate. “Não queria aquilo pra ninguém. O impacto foi tão forte, arrastando tudo. A gente sendo pressionado pelos escombros, tudo caindo por cima da gente… Os olhos, o nariz, o ouvido cheio de areia, eu tentando respirar e não conseguia. Fiquei quase sete horas em pé. Se não fosse os bombeiros chegarem, eu não estaria aqui”.
Apesar da força, o homem baixo, de bigode largo, sucumbe às lágrimas ao lembrar de Frederick Santana, 30, que entregava água no mercadinho no momento da tragédia. “Eu peço até desculpa ao rapaz, que morreu do meu lado, e à família. Ele tava trabalhando pra fazer o aniversário da filhinha dele”. Silêncio, soluço.
“As pessoas que Deus recolheu, eu tenho certeza que estão bem no céu. Elas não têm culpa. Que fiquem em paz”
O recepcionista acrescenta que “se eu corresse, seria pior, como foi pro rapaz que tava a dois palmos de mim. Por que não fomos nós dois juntos? Eu me pergunto.”
Após o resgate, Gilson ficou hospitalizado no Instituto Doutor José Frota (IJF). Ele recebeu alta no início de novembro. Segundo o hospital, mesmo após alta, ele deverá continuar recebendo atendimento ambulatorial na unidade. A outra vida que ganhou, garante, já tem propósito: “ajudar quem puder, quando puder”.