Desabamentos de construções se repetem há anos na Capital

Mortes e prejuízos por queda ou ruínas parciais de edificações acontecem de forma corriqueira há pelo menos oito anos em Fortaleza. Obras irregulares e falhas de planejamento estão entre as principais causas para as ocorrências

O cenário de incertezas em relação à segurança predial em Fortaleza se concretizou em mais uma tragédia. Ao longo dos últimos anos, chama atenção a quantidade de edificações que ruíram parcialmente ou totalmente, gerando, além de impactos financeiros, mortes e danos emocionais às vítimas e familiares.

Somente de janeiro a maio deste ano, a Defesa Civil de Fortaleza havia contabilizado 142 desabamentos na cidade, um aumento de 246% em relação a igual período do ano anterior.

Somando os dados de 2018 e 2019, a Regional I foi a mais afetada, com 37 ocorrências. A reportagem tentou obter o número atualizado com o órgão municipal, mas até o fechamento desta edição não recebeu o dado.

A queda do Andrea acontece apenas quatro meses depois que as colunas de sustentação do Edifício Benedito Cunha, no bairro Maraponga, ruíram, tombando parcialmente a construção. Felizmente, as 16 famílias que residiam no local - na Travessa Campo Grande - foram removidas a tempo. Os pertences dos moradores, no entanto, ficaram no prédio, que teve sua demolição iniciada quase um mês depois.

Os proprietários foram indiciados pela Polícia Civil já que o prédio não tinha alvará de construção. Segundo as investigações, ele foi construído em um solo sensível à presença de água e com erros de projeto e execução. Até hoje, o local se encontra isolado.

Também neste ano, no mês de agosto, o dono de um restaurante em reforma ficou ferido após a laje do local cair sobre ele na Avenida Gomes de Matos, no Bairro Montese.

Em novembro do ano passado, um imóvel dúplex - onde funcionava um comércio, além de uma residência - desabou na Avenida Augusto dos Anjos, no bairro Parangaba. Ao todo, seis pessoas, incluindo três crianças - dentre elas um bebê de um ano - estavam na construção. Todos foram socorridos com vida.

O Centro de Fortaleza também é uma das localidades com grande demanda de ocorrências. Em janeiro de 2018, parte da estrutura de um prédio que passava por obras na Rua Assunção desabou, ferindo uma das cinco pessoas que trabalhavam no local.

De janeiro a maio deste ano, a Defesa Civil contabilizou 142 desabamentos na cidade, um aumento de 246% em relação a igual período do ano anterior. A reportagem não recebeu dados atuais do órgão

Em março de 2015, a tentativa de estabilização das lajes do Edifício Versailles, no bairro Meirelles, causou a morte de dois operários, deixando outro ferido, após o desabamento de uma das varandas da construção. Para a realização daquela obra, era preciso a emissão de uma Licença de Reparos Gerais, emitida pela Prefeitura de Fortaleza, mas o documento não foi solicitado na época.

O prédio foi condenado e demolido no ano passado, para dar lugar a um novo empreendimento.

Morte

Em agosto de 2015, novamente no Centro da Capital, a queda da laje de uma loja de importados na Rua Major Facundo provocou a morte de duas crianças, de oito e dez anos - filhos dos proprietários do comércio - e deixou cinco pessoas feridas. O imóvel havia passado por reforma quatro anos antes, quando a laje foi construída.

No dia do acidente, telhas haviam sido empilhadas sobre esta laje, que não aguentou o peso. Na época, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE) constatou que o prédio passava por reforma irregular, sem o registro e acompanhamento de engenheiro.

Menos de 20 dias depois, uma das sacadas da cobertura de um edifício residencial de quatro andares no bairro Varjota desabou, ferindo levemente duas jovens que passavam pela Rua Tavares Coutinho. Na época, o Corpo de Bombeiros verificou que o imóvel apresentava inúmeras rachaduras.

Em abril de 2011, um prédio de quatro andares e 16 apartamentos ainda em construção no bairro Luciano Cavalcante teve parte de sua estrutura desabada. As residências próximas foram interditadas pela Defesa Civil e o restante da construção precisou ser demolida dias depois. Na época, o proprietário do imóvel alegou que o empreendimento estava sendo levantado de forma regular. Ninguém se feriu.