Com o aumento de chuvas em diversas regiões do país, muitos brasileiros buscam por uma conta de luz mais barata. Apesar do otimismo, a crise elétrica ainda continuará em 2022. Segundo previsões da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), as contas de energia terão um reajuste de valor de dois dígitos e o racionamento deve continuar até pelo menos o mês de abril de 2022.
Para Dayane Carneiro, graduada em Engenheira Elétrica e professora do curso de Engenharia de Energias Renováveis da Universidade de Fortaleza (Unifor), o setor continuará passando por turbulências, especialmente pela falta de abastecimento dos recursos hídricos no país.
“Nosso país dispõe ricamente de diversas fontes primárias e secundárias para se produzir energia, mas nossa matriz energética ainda é refém dos recursos hídricos. E a cada ano, diversos fatores climáticos vêm alterando o volume e a concentração de chuvas ao longo dos anos, o que acaba afetando o abastecimento dos reservatórios e bacias”, explica.
Histórico de crises
O ano de 2021 registrou o menor índice de precipitações já visto nas últimas nove décadas. Para evitar apagões e uma paralisação econômica generalizada, usinas termelétricas foram reativadas, contas de energia encarecidas e medidas de racionamento implementadas.
Apesar do cenário preocupante da atualidade, o Brasil já registra um histórico significativo de crises energéticas. Em 2001, por exemplo, o país esteve à beira de um colapso. Por cerca de nove meses, residências e indústrias enfrentaram blecautes programados como forma de economizar energia de forma mais rápida. Durante a noite, a iluminação pública era sumariamente apagada e atividades festivas e esportivas eram proibidas.
Para Dayane Carneiro, não há probabilidade de a situação se repetir como no passado. As novas condições de produtividade e a redistribuição da matriz energética para inclusão de novas fontes de energia salvaguardam o Brasil dos fantasmas do apagão, avalia a professora.
“Na época, tínhamos uma matriz predominantemente hídrica, com uma participação de 80% das usinas elétricas e o restante de termelétricas à base da queima de carvão. Passados cerca de vinte anos, a porcentagem ganhou uma redistribuição mais participativa das hidrelétricas, como segunda fonte mais utilizada na matriz. E agora temos a fonte eólica, mais uma energia renovável a aproveitar. Então, em um sentido cooperativo-técnico, é um grande ponto de mudança”, explica.
A especialista ainda alerta sobre a necessidade de uma frente de ação conjunta e planejada para melhorar a distribuição e aproveitamento de energia de outras fontes renováveis que não dependam da capacidade hídrica, como eólicas e solares.
“Os governos devem incentivar mais e mais ações de uso racional e consciente. Ações de administração energética nos permitem maior contorno para prover eletricidade e evitar escassez. Além disso, a diversificação da matriz energética deve ser levantada para garantir um maior equilíbrio ambiental e garantia de acesso de energia continuado para as residências e setores do agronegócio e indústria”, pontua.
Espaço para inovação
Nos últimos anos, o Ceará tem concentrado esforços para aproveitamento de energias renováveis. Em dezembro, o Governo, em parceria com a empresa de energia AES Corp, assinou um memorando para implementação de um grande centro de produção de hidrogênio verde no Porto do Pecém.
Com novas energias surgindo e o aumento no consumo, os profissionais de Engenharia exercem um papel fundamental. Na Universidade de Fortaleza (Unifor), os estudantes do curso de Engenharia de Energias Renováveis adquirem conhecimentos e técnicas essenciais para atuar em diversos segmentos de produção energética e assim garantir soluções para uma transição energética sustentável.
“Na Unifor, proporcionamos uma infraestrutura completa com laboratórios a céu aberto, equipamentos de ponta e corpo docente formado por profissionais com experiência de mercado. Tudo isso para formar profissionais que possam propor soluções para o futuro e atuar significativamente nas novas engrenagens da geração e produção de energia”, ressalta a professora Dayane Carneiro.