Morando na China há quase três anos, o tradutor cearense Lucas Dasaieve, de 29 anos, viu a própria rotina ser alterada no último mês diante do surto do novo coronavírus, do tipo 2019-nCov. Até o momento, o país contabiliza 170 pessoas mortas e mais de 8 mil infectadas pela doença, que também chegou a outros 18 países.
O cearense de Limoeiro do Norte mora em Shenzhen, que fica a cerca de 1.000 km de Wuhan, epicentro da transmissão. Segundo ele, os estoques de álcool, máscaras e luvas descartáveis se esgotaram rapidamente nas farmácias, após a divulgação rápida de notícias e de orientações do Governo chinês.
“Consegui comprar logo no primeiro dia, mas tive que ir em cinco farmácias. Hoje, raramente você consegue. Na minha cidade, que é a quarta maior da China, não encontro mais em lugar nenhum”, diz. A situação também “complicou” porque os estoques de lojas de produtos paramédicos foram requisitados para Wuhan.
O tradutor relata que passa a maior parte do dia em casa, só saindo para abastecer a geladeira. Quando vai às ruas, os cuidados são maiores. “Tento cobrir o corpo o máximo que eu posso. Coloco jaqueta longa por cima, casaco, luvas, gorro e levo um tubinho de álcool em spray para se precisar tocar em campainhas ou maçanetas”, exemplifica.
Disseminação do vírus
Lucas considera que um fator capaz de favorecer a contaminação pelo coronavírus são os hábitos de higiene dos chineses, que só começaram a utilizar máscaras após comunicados oficiais e a veiculação de vídeos orientando a como usá-las. “Alguns não entendem que a máscara não é para proteger só a eles, mas a outras pessoas. Quando vão espirrar ou tossir, eles tiram”, conta.
> O que se sabe sobre transmissão, sintomas e prevenção da doença
Para ele, não há otimismo quanto ao futuro. Atualmente, por causa do Ano Novo chinês, grande parte da população viajou às cidades-natais para rever as famílias. “Quando passar o feriado, todo mundo volta e muitos vão espalhar os casos em todas as áreas do país”, acredita o cearense, que tem três amigos que viajaram a locais próximos a Wuhan.
Diante das “incertezas de informações”, Dasaieve decidiu sair de Shenzhen, nesta sexta-feira (31), para viver em Portugal “até que a situação fique sob controle”. “O Governo achou que ia controlar tudo até domingo (26), mas estenderam o feriado de Ano Novo por mais 10 dias. Meu receio é continuarem estendendo esse prazo e eu ficar só Deus sabe quantas semanas trancado em casa, correndo risco”, projeta.