O carinho e o conforto de um lar, na maioria dos casos, são direitos negados a crianças e adolescentes com medida protetivas decretadas pela Justiça. Apenas em Fortaleza, nesta situação, quase 90 meninos e meninas estão em acolhimentos institucionais mantidos pela Prefeitura, sem contar os que permanecem em abrigos conveniados ou não ao Município.
Atendendo ao estímulo de políticas públicas para os municípios do Ministério do Desenvolvimento Social, a Capital implementou em junho deste ano o serviço de acolhimento familiar. O programa intitulado "Família Acolhedora - Tempo de Acolher", é responsável pelo cadastro, capacitação e acompanhamento de famílias interessadas em receber estas crianças e adolescentes até que elas sejam encaminhadas para adoção ou retorne para a família de origem.
"Principalmente na primeira infância, essas crianças têm um desenvolvimento com déficit se estiverem dentro do acolhimento (institucional)", pontua a primeira-dama do Município, Carol Bezerra. "Elas precisam do afeto e carinho do seio familiar, de regras que se tem dentro de uma família, do olhar".
Ao todo, 11 famílias já estão inscritas. Assim como a de Maria Kubiskleide Machado, de 42 anos. Ao saber do processo de cadastramento, que definiu como "muito prático e fácil", a assistente social tomou todas as providências para poder participar. "O que importa é ter condições de dar atenção, amor, respeito e segurança para essa criança passar por essa fase", reforça.
"Essa criança vai vir carente, machucada, cheia de ansiedade. Pra ela também é muito difícil, vai estar em um ambiente que não é dela", explica Kleide, como prefere ser chamada. Apesar de escutarem comentários desestimulantes de pessoas próximas por conta da decisão, a vontade de ajudar prevaleceu.
Durante o processo de cadastro são repassados alguns alertas, pela delicadeza da situação. Segundo a primeira-dama, a necessidade surge por conta do contexto de violação de direitos no âmbito familiar do qual essas crianças e adolescentes são afastados.
Família
No bairro Benfica, Kleide mora em um apartamento há 13 anos com a filha Heloísa Helena Machado Alves Lima (15 anos), a irmã Neide Jane Ferreira Nascimento (30 anos), e o cachorrinho de estimação Myke. Num lar só de mulheres, a preferência da família é por outra menina, entre três e seis anos, já que os interessados em acolher têm a possibilidade de especificar o perfil.
A empolgação e a ansiedade de todas pela chegada da pequena são palpáveis. "Quero muito que chegue antes do Natal, um período mágico e encantador para as crianças. Todo mundo está ansioso pra ver como é, o que vai acontecer, o que é uma criança dentro de casa novamente", afirma Kleide. "Apesar de a gente saber que é passageiro, estamos todos ansiosos. Esperamos dar toda a atenção possível pra ela", ressalta.
acolhimentos é a meta até o fim deste ano. Sob a responsabilidade da Secretaria dos Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SDHDS), a intenção que, em 2019, essa estimativa fique entre 30 e 50.
Critérios
Possuir residência fixa em Fortaleza há mais de um ano; disponibilidade de horário; idade entre 21 e 65anos (sem restrição ao sexo ou estado civil); ser pelo menos 16 anos mais velho que o acolhido; não ter interesse em adoção; apresentar concordância de todos os membros da família (maiores de 18 anos) que vivam no lar e seguir às orientações do serviço técnico que acompanhará a família.
Capacitação
A SDHDS promove a capacitação das famílias por meio de equipe multifuncional formada por psicólogos, assistentes sociais e pedagogo que prestarão acompanhamento constante. O processo é composto por três módulos, com carga horária de 12 horas e certificação fornecida pela secretaria ao final.