Com formaturas suspensas, estudantes buscam alternativas para celebrar conclusão de ensino médio

Devido aos casos da Covid-19, comemorações de encerramento escolar são impactadas e muitos preparativos precisaram ser suspensos ou remodelados em meio à pandemia

São anos de histórias, convivência, brincadeiras e desafios vividos em salas de aulas, corredores do colégio e até mesmo em confraternizações para além da escola. O crescimento na adolescência, abrindo caminho para a fase adulta, costuma ser compartilhado ao lado de amigos e é pela felicidade de simbolizar o fim de um ciclo, assim como de celebrar os momentos vividos, que estudantes realizam a festa da formatura. Porém, com a pandemia, muitas comemorações precisaram ser transformadas, suspensas ou mesmo canceladas no Ceará. 

Foi com um misto de tristeza e frustração que a estudante Lívia Mello, 17 anos, aluna do Colégio Militar de Fortaleza (CMF), percebeu que a festa de formatura sonhada não ocorreria da forma esperada. Então, motivada pelo desejo de encerrar simbolicamente uma etapa de sua vida, a jovem teve a iniciativa de organizar uma pequena confraternização com os amigos mais próximos, “as pessoas que mais estiveram ao meu lado nesses 3 anos”, explica. 

Ainda que fosse mais simples do que o esperado, Lívia percebe a comemoração como essencial. “Lembro de ver a minha irmã se formando quando eu era pequena e não comemorando com as amigas, e isso não fazia sentido para mim. Sempre pensei que era necessário celebrar o encerramento de algo que nunca iremos experienciar de novo”, comenta. Por isso, a jovem “fez questão” de possibilitar um encerramento com amigos. 

“Esse ano inteiro foi bastante atípico e todo mundo estava bastante desanimado por não termos vivido o terceirão que tanto queríamos. Então, eu comecei a planejar esta festa para  mostrar como apesar de tantas dificuldades, conseguimos terminar este ano juntos”, compartilha. 

Então, no dia 4 de dezembro, a confraternização ocorreu em sua casa em um espaço amplo e ventilado, próximo da churrasqueira. Com a ajuda de amigos, montou a decoração, reservou um espaço para a premiação, incluiu um momento para a oradora do grupo falar e até mesmo reproduziu um vídeo com os melhores momentos no colégio. No fim, mesmo sem a formatura, o que ficam são as memórias e experiências vividas durante os anos escolares. 

Cuidados

A infectologista Mônica Façanha, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC), reforça que é importante evitar a celebração presencial da formatura, considerando os riscos de contágio do coronavírus. No entanto, aponta que “diante da impossibilidade, a redução de danos é diminuir a quantidade de pessoas no local, realizar em um ambiente aberto, ventilado e manter a distância entre as pessoas e o uso de máscara”, elenca. 

Para Mônica, a quantidade de pessoas na celebração pode variar a depender do ambiente, mas relembra que segundo decreto estadual, o número máximo permitido se limita a somente 15. No entanto, recomenda que formandos do grupo de risco não estejam presentes ou, se forem, reduzirem o tempo durante a comemoração, atentos de usar a máscara a todo instante.

“É importante ter consciência de que quando você faz essa festa, está se expondo e expondo as pessoas que está convidando. Quem vai decidir por comemorar, tem que saber que pode ter consequência. Não pode comemorar achando que o risco é zero”, reforça a infectologista.

Suspender

Da mesma forma que ocorreu com Lívia, o aluno do EEM Dr. César Cals, Marcos Vinycius, 17 anos, recebeu com tristeza as mudanças de planos. Sua turma havia começado os preparativos durante reuniões escolares, organizando fotos, locais e até mesmo realizando o orçamento da celebração. “No início, quando foi decretado lockdown, pensei que seriam somente quinze dias ou um mês, porém não foi bem assim”, conta. 

Mesmo com os obstáculos, e sem esperar que a pandemia se estendesse por tanto tempo, alguns colegas decidiram manter a festa, ainda sem data definida. “Nossa formatura foi mantida, e tudo depende das regras de isolamento social. Nosso contato é o básico e não a sala em geral, algumas pessoas só”, completa a colega de Marcos, Bianca Dieb, 18 anos. Apesar de não ter sido cancelada, a comemoração de Bianca não será como ela sonhava. 

“Eu só gostaria que fosse aquela bagunça, bagunça no sentido bom, que a gente dançasse, chorasse e se abraçasse, e que o nosso 3º ano tivesse sido vivido em sala de aula, para a gente ter as melhores recordações possíveis. Desde o meu 1º ano a gente conversava sobre como iria ser a formatura”, relembra. 

Mudanças

No caso da turma de Felipe Rodrigues, 17 anos, estudante do Colégio 7 de Setembro, o planejamento da festa começou logo no início das aulas de 2020. Porém, após os meses de isolamento social e a permanência na quantidade de casos da Covid-19 no Ceará, o jovem aponta que a comemoração agora é incerta. “Não sabemos o que vamos fazer ou se vamos fazer. A escola tem nos ajudado a pensar em alternativas que se adaptem ao ‘novo normal'”, relata. 

A nova condição, à princípio, não atrapalhou os preparativos porque os estudantes tinham esperança de que a situação se resolvesse até este mês de dezembro, para quando a formatura estava marcada. “Chegamos até a bater as fotos para a festa, mas infelizmente, devido à pandemia, é bem provável que não tenhamos mais nada para marcar essa data”, lamenta a colega de sala de Felipe, Letícia Dutra, 18 anos.

“Eu desejava muito ter a nossa formatura. Imaginava nossas entradas na festa, os discursos emocionados, a saudade boa, o sentimento de dever cumprido e, claro, a comemoração”, acrescenta Felipe.  

Impactos

Em muitos casos, a importância da formatura vai além da festa, podendo carregar a felicidade de distintas gerações em comemorar a primeira conclusão do ensino médio de uma família. Conforme a professora da escola Dr.César Cals e coordenadora geral da comissão de formatura há seis anos, Aline Sales de Almeida, 31 anos, a comemoração se tornou tradição em sua escola. 

Devido à pandemia, a instituição optou por adiar para março, a fim de garantir a segurança. Se os casos da Covid-19 ainda estiverem elevados em março, comenta que ainda terão duas tentativas. “Uma em julho e outra, uma formatura com estudantes deste ano e de 2021. Vamos tentar ao máximo manter essa festa”, explica. Acima de tudo, o desejo é garantir a segurança dos participantes. 

“Não adianta fazer uma festa dessas para o avô não poder ir, ou o pai em tratamento com câncer. Preferimos fazer uma festa de segurança para todos, do que fazer uma comemoração reduzida que muitas pessoas quiseram estar lá, mas não poderão estar”, finaliza.