Casos de sífilis adquirida aumentam desde 2014 no Ceará

Há cinco anos, a taxa de detecção da doença era de 7,6 casos a cada 100 mil habitantes, de acordo com a Secretaria da Saúde do Estado. Número chegou a 41, 7 em 2018. De 2010 a setembro deste ano, o Ceará soma 10.794 casos

As consequências e os sintomas associados à sífilis vêm afetando o ser humano há, pelo menos, 2 mil anos. A doença, que atravessa gerações, é classificada como sífilis adquirida (por relações sexuais) ou congênita - quando é transmitida ao bebê durante a gestação ou o parto.

No Ceará, a sífilis adquirida afeta cada vez mais pessoas anualmente desde 2014, quando as taxas de detecção da doença passaram a aumentar, conforme dados divulgados pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).

De 2010 a setembro de 2019, ao todo, o Ceará soma 10.794 casos. Há cinco anos, a taxa era de 7,6 casos por 100 mil habitantes. Em 2016, o número de registros subiu para 15,9 casos a cada 100 mil habitantes. O recente ápice foi observado em 2018, quando a taxa de detecção alcançou 41,7. Até setembro deste ano, o Ceará registrou uma taxa de 30,8, porém espera-se que novos casos sejam contabilizados até o fim de 2019, de acordo com a articuladora do Grupo de Trabalho de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), Aids e Hepatites Virais da Sesa, Telma Martins.

"A taxa pode tanto aumentar como superar a do ano passado, também. A gente não tem como dizer por que as notificações chegam com um certo atraso. Não acredito que supere, mas deve aumentar até o fim do ano, com certeza".

Ela explica que o Ceará acompanha uma tendência nacional de aumento do número de casos da doença, que chegou a ser reconhecida como epidemia pelo Ministério da Saúde. "Como muitos casos são de sífilis latente, sem sintomas, as pessoas nem sabem que têm a bactéria. Então para enfrentar a epidemia, tem que ampliar o diagnóstico. Esse aumento do número de casos se deve também à melhora da vigilância e do diagnóstico, por aumentar a oferta e o acesso ao teste rápido", revela a especialista.

Risco

De acordo com Telma Martins, embora os testes rápidos tenham se tornado mais acessíveis, ainda há dificuldades para diagnosticar "pessoas que se expõem". A coordenadora diz que as pessoas devem primeiro reconhecer o risco que corre, e então buscar o diagnóstico.

"A gente sabe que o Brasil tem mostrado que o número de uso dos preservativos também vem caindo. Uma pesquisa de 2013 mostrou que os jovens aumentaram o número de relações casuais, mas o uso do preservativo continua no mesmo patamar, ou seja, as pessoas tiveram mais exposições de risco", afirma Telma.

Para prevenir a sífilis, recomenda-se o uso de preservativos em todas as relações sexuais, além do acompanhamento correto durante a gravidez, com o pré-natal.

Apesar de necessário, o teste rápido para sífilis não é definitivo, e sim de triagem. Caso apresente um resultado positivo, será preciso passar pelo exame VDRL (pesquisa laboratorial de doença venérea, na sigla em inglês) para confirmar.

"Eu acredito que as campanhas não têm sido suficientes, elas estão descontinuadas, e isso talvez tenha um prejuízo para a população", pondera a coordenadora. "Mas a ampliação do diagnóstico acontece no Ceará como um todo, e muitas cidades estão fazendo o teste tanto na Atenção Básica quanto em campanhas de mobilização, em praças, tentando ampliar esse acesso".

Os sintomas da doença se modificam de acordo com o estágio em que ela se encontra. No caso da sífilis primária, uma única ferida se forma no órgão sexual, de 10 a 90 dias após o contágio. O ferimento não dói, não coça, não arde e nem tem pus, e pode estar acompanhada de ínguas (caroços) na virilha.

Mal-estar

Na secundária, podem surgir manchas no corpo, que geralmente não coçam, e incluem as palmas das mãos e plantas dos pés. Mal-estar, dor de cabeça e ínguas pelo corpo também são possíveis.

Na fase latente, os sintomas não se manifestam, e, na terciária, costumam ocorrer lesões cutâneas, ósseas, cardiovasculares e neurológicas, podendo levar à morte. No caso de bebês diagnosticados, caso não passem pelo tratamento correto, podem sofrer com sequelas da doença, como surdez, problemas neurológicos e ósseos. As complicações da sífilis congênita também incluem o aborto espontâneo, parto prematuro e morte.

"Quando cada gestante inicia pré-natal, a gente faz o teste rápido de sífilis. Se der negativo, ela repete o exame com 28 semanas, e depois no parto. Se der positivo, a gente solicita o teste complementar e já inicia o tratamento", relata Jordana Parente, obstetra da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac).

A gestante recebe três doses de penicilina benzatina - o benzetacil - uma, por semana. Depois do parto, o teste deve continuar sendo feito a cada três meses. O tratamento da mãe permite impedir a passagem da bactéria para a criança, conforme explica a médica neonatologista Zilma Macedo.

"Se a mãe foi tratada, a criança é considerada exposta, mas não é notificada e não precisa de tratamento. Porém, se a criança nasce com sintomas ou indicadores maiores que o da mãe, nos exames, a gente trata", pontua Zilma.

Mulheres fora da situação de gravidez e homens devem buscar tratamento nas unidades básicas de saúde, caso sejam diagnosticados. Após o tratamento com penicilina, o paciente continua sendo acompanhado para verificar o controle da doença. "Durante o tratamento, é importante seguir os cuidados indicados, que são a abstinência sexual ou uso de preservativo em toda relação sexual", lembra Telma Martins.