Almejando chamar a atenção para os impactos ambientais do novo aterro da Praia de Iracema – as obras deverão ser realizadas entre os espigões das Avenidas Rui Barbosa e Desembargador Moreira, conforme a Prefeitura de Fortaleza – um ato realizado na manhã deste domingo (5) envolveu voluntários de 11 instituições ligadas ao meio-ambiente, além de transeuntes que passavam na Avenida Beira-Mar.
Iniciada às 7h e indo até o meio dia, a ação promoveu, no Espigão do Náutico, diversas atividades, entre elas limpeza de praia e subaquática, exposição de fotos e vídeos da fauna local, debates e apresentação musical com a ONG Brigada da Natureza. Um abaixo-assinado também estava coletando nomes de pessoas que não apoiam as obras no local.
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Até às 9h30, o montante de lixo coletado na praia pelas equipes de voluntários chegou a 68kg e vários que estavam de passagem pararam para ouvir informações sobre as espécies do ecossistema marinho, fornecidas por ONGs como o Grupo de Interesse Ambiental (GIA), a Aldeia Surf Escola e a Associação Brasileira de Combate ao Lixo no Mar.
De acordo com a bióloga e ativista do Instituto Verdeluz, Liana Queiroz, o ato foi planejado desde o anúncio da Prefeitura quando do início das interferências nessa parte da orla. “Procuramos ver os estudos ambientais divulgados e constatamos uma série de falhas neles”, afirma.
Dentre eles, ela enumera a ausência de levantamento da fauna da região, do impacto nos corais, boto-cinza e tartarugas.
“O boto-cinza é uma espécie ameaçada de extinção e patrimônio natural de Fortaleza; já as tartarugas, temos diversas espécies delas também ameaçadas que se alimentam aqui. Mas talvez o que terá mais impacto seja o ecossistema de coral, que será literalmente soterrado”.
Liana também comenta que, enquanto representantes de entidades ligadas ao meio ambiente, eles estão escrevendo um parecer para enviar ao Ministério Público solicitando mais análises ambientais com relação à obra, para que sejam feitos de maneira adequada e com os impactos mitigados. "É algo que não tem de forma nenhuma no estudo ambiental proposto", sublinha.
Corpo a corpo
Além das entidades, vários profissionais das áreas de Oceanografia, Geografia e Engenharia de Pesca estiveram presentes na ocasião. Para a voluntária da Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis), Gabriela Ramires, o fato de os estudiosos e voluntários ocuparem o espaço pode volver os olhares da população para a problemática.
“Estamos fazendo essa conscientização corpo a corpo porque acreditamos que é preciso ter menos papel na natureza, menos lixo. O pedido é para que as pessoas espalhem essas práticas. Um milhão de metros cúbicos de areia vai afetar a nossa praia de forma irreversível”, dimensiona a bióloga.
No mesmo rastro de Gabriela, Manuel Vitor Braga, de 12 anos, diz estar preocupado com o ambiente marinho. Ele, que quer ser biólogo, é um dos integrantes do projeto Brigada da Natureza, da Aquasis, e, no ato, tocou o instrumento ganzá como maneira de convocar todos a se unirem ao protesto.
“Eu vim me apresentar porque eles estão tentando aterrar mais o chão e isso vai atingir vários peixes, as algas e o boto-cinza; se acontecer, tudo vai ficar ameaçado. Tenho aprendido muitas coisas sobre tartarugas e outros animais e vejo o quanto vamos perder”, lamenta.
Com a intenção de fazer com que reflexões sobre a temática ganhe ainda mais adeptos, Liana adianta que, no dia 8 de maio, os grupos participarão de um debate na Universidade Estadual do Ceará (Uece) e, no decorrer da semana, outros atos e atividades serão propostos.
“É um prejuízo geral para a fauna. Do jeito como está sendo proposto, um prejuízo inimaginável. É morte completa, completa mesmo”, finaliza.
Resposta
Nota enviada pela Secretaria Municipal da Infraestrutura (Seinf) consta que toda a obra da Avenida Beira-Mar, incluindo o novo aterro, está rigorosamente em dia com todas as licenças e autorizações, expedidas pela Superintendência do Patrimônio da União no Ceará (SPU/CE), Capitania dos Portos do Ceará, Superintendência Estadual do Meio Ambiente (SEMACE) e Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (SEUMA).
Além disso, conforme a nota, o documento atesta que “não se encontram transgressões à legislação ambiental vigente. Neste tipo de projeto, a implementação das obras de engenharia está associada à geração de uma série de impactos adversos sobre o meio ambiente, contudo, na sua maioria são de caráter local e podem ser mitigados e monitorados através da incorporação das medidas de recuperação e controle ambiental por parte dos responsáveis pela sua implantação e operação”.