Ser feminista não é uma opção. Aos 8 anos, Lola Aronovich, argentina naturalizada brasileira, já escrevia textos que falavam sobre a igualdade de direitos. Hoje, prestes a completar 50, sabe que ainda precisa bradar para que mulheres sejam vistas, ouvidas e respeitadas como os homens. O instrumento para isso é o “Escreva, lola, escreva”, considerado o maior blog feminista do Brasil com aproximadamente 400 mil acessos por mês.
Desde 2008 vem inspirando homens e mulheres a pensarem e agirem em favor dessa igualdade. Lola, que hoje é professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Ceará, conta que tudo começou “sem querer”. Com apenas dois meses de atividade, escreveu um texto “Toda mulher tem uma história de horror para contar" e em resposta ouviu e leu episódios absurdos que reforçaram que era preciso falar sobre feminismo. De lá para cá, gerações foram impactadas. Meninas se tornaram mulheres mais conscientes e empoderadas.
"Meu blog acabou se tornando porta de entrada para muitas meninas. Com 9 anos, você acaba acompanhando a vida de muitas pessoas. Tem meninas que começaram a ver o blog com 12 anos e agora estão na faculdade”.
Escrever e disseminar ideias “revolucionárias” causou alguns transtornos. Ataques e ameaças são constantes. “As ameaças de morte são diárias. Não param. Mandaram ameaça para o reitor da UFC dizendo que se eu não fosse despedida iriam fazer um ataque. A Polícia Federal entrou no caso. Conseguiram derrubar meu blog uns dias. Lançam sites de ódio no meu nome. Convivo com essas ameaças há mais de seis anos, fiz mais de 6 BOS. Não tenho medo. O objetivo é nos calar. Eles querem me calar”, disse com firmeza e coragem.
Conquistas
A professora comemora as conquistas dos últimos anos. Lembra que a legislação avançou, sobretudo com leis, como a Maria da Penha, a do feminicídio e até mesmo a possibilidade do divórcio, que há alguns anos não era permitido. A cultura, no entanto, ela sabe que demora mais tempo. Esperar, com luta, para que o feminismo seja apenas uma marca do que se conquistou. “As mulheres hoje têm mais consciência dos seus direitos. Não tem volta. Aconteceu mesmo. A gente tem uma educação diferente, que ainda é muito patriarcal, mas que tem mais questionamento disso. Sonho com o dia em que o feminismo se torne obsoleto. Mas está muito difícil de acontecer. As meninas que estão nascendo hoje vão precisar ainda lutar muito. Só a igualdade salarial é uma coisa para 200 anos”, aposta.
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