Área que teve campo de concentração em Fortaleza deve ganhar placa alusiva no 2º semestre de 2019

Um espaço do bairro Otávio Bonfim deverá receber, ainda esse ano, o primeiro marco físico oficial que reconhece a existência de campos de concentração na Capital.

Nascer em uma cidade cujo imaginário popular, ancorado na presença de um conjunto arquitetônico de ruínas, guarda um dos episódios mais emblemáticos da história brasileira: a existência de campos de concentração de retirantes da seca. É a realidade do advogado e estudioso dos campos de concentração, Valdecy Alves, que, hoje, morador da Capital, tenta reconstituir a história desses locais no cenário urbano.

Após alguns anos de batalha de Valdecy junto a outros moradores do Otávio Bonfim, Fortaleza deverá receber, no segundo semestre de 2019, o primeiro marco físico oficial que reconhece a existência de campos de concentração na cidade. 

Em novembro de 2018, a inauguração de um monumento, um vagão de trem, cedido pela Transnordestina, em uma área da Av. José Jatahy - área por onde a estrada de ferro de Baturité (1º via férrea estruturada no Ceará) passava -, no bairro Otávio Bonfim, deu início a um processo de preservação dessa lembrança. O Bosque dos Ferroviários foi estruturado pela Prefeitura de Fortaleza e é nele que uma placa - uma espécie de memorial - deverá ser fixada fazendo referência a existência do campo de concentração no endereço. 

Com isto, este será o único local que abrigou um campo de concentração em Fortaleza a ter um monumento que referencie este fato histórico.

A ideia é com isto rememorar as vidas flageladas e encurraladas. A estimativa da Secretaria Regional I é que o novo espaço terá ainda um biblioteca, que está sendo construída no vagão. O espaço deverá livros que também tratem desse momento da história do Ceará. 

Em Fortaleza, a falta de marcas físicas dissimula os horrores vivenciados pela população de flagelados, que era confinada em terrenos próximos à via férrea para evitar que dissipassem a miséria e o flagelo pela Capital, na década de 1930. 

Preservação

Para o historiador Airton de Farias, quando o Estado se dispõem a preservar a memória dessas áreas - a exemplo do tombamento das ruínas em Senador Pompeu, que também teve campos de concentração - é um reconhecimento das contradições que permeiam o passado. "A seca é moldada de várias formas. Para o segmento pobres tem um sentido e o tombamento é uma grande conquista. Não tenho dúvida que precisamos dar uma atenção maior a história do Ceará". 

Já o historiador Fred de Castro Neves explica que embora Fortaleza não tenha vestígios materiais da existência dos campos de concentração é possível tombar esses espaços nos livros de registros do patrimônio imaterial. Porém ele pondera, não saber se essa seria a melhor opção. Na sua avaliação, a estruturação de centros de memória e documentação podem fazer melhor o papel de mediação da informação e educação.