Pesquisas envolvendo a produção de biofármacos em território brasileiro fomentam o alcance das grandes tecnologias e buscam relevante economia frente ao mercado internacional. No Ceará, o destaque vem do Núcleo de Biologia Experimental (Nubex) da Universidade de Fortaleza (Unifor), que desde o ano passado desenvolve um projeto para produzir o anticorpo monoclonal, conhecido como rituximab, já utilizado no tratamento contra o linfoma não-Hodgkin e doenças autoimunes, como a artrite reumatoide.
O desenvolvimento do anticorpo tem como base a plataforma animal, produzido a partir do leite de caprinos geneticamente modificados, sendo criado em duas versões: uma biossimilar ao que já existe no mercado e uma "biobetter", que se trata de uma versão melhorada. O projeto, realizado numa parceria entre a Unifor e a Fundação Oswaldo Cruz, se encontra na fase de biologia molecular, em que as construções de DNA estão sendo sintetizadas para a produção dos animais transgênicos.
Esta etapa, por sua vez, está prevista para ter início ainda em 2018, segundo informou o pesquisador do Nubex, Leonardo Tondello. "Quando essa fase estiver pronta, nós utilizamos as construções de DNA, que tem um gene de interesse na produção, para as produções dos caprinos geneticamente modificados, que são caprinos comuns, mas que têm no seu genoma essa construção de DNA, e é isso que permite a ele produzir o medicamento no leite", explica.
Uma vez adquirido o leite com o devido anticorpo, com estimativa para 2019, conforme prevê Tondello, este entrará na fase de purificação, que chegando a uma quantidade considerável, será possível iniciar os testes pré-clínicos farmacológicos e toxicológicos, necessários para assegurar a eficácia e a segurança do medicamento. A partir daí, obtendo-se resultados positivos, a última etapa, então, consistirá no teste em humanos.
Vantagens
Por se tratar de medicamentos produzidos a partir de uma plataforma animal, considerada mais econômica, Leonardo Tondello acredita numa importante redução de custos. "Hoje, o Brasil tem um custo anual, comprando esses anticorpos de companhias estrangeiras, de 350 milhões de reais. É uma droga de grande impacto nacional", diz.
Outro benefício, conforme aponta, está na produção do medicamento do tipo "biobetter", por apresentar uma vantagem terapêutica em relação aos produtos do mercado. "Neste caso, a equipe está trabalhando na modificação da molécula do anticorpo para aumentar a afinidade dele pelo sítio de ligação do tumor", esclarece.
A Fundação Edson Queiroz ainda mantém outros dois projetos para a produção de anticorpos também a partir do leite de caprinos transgênicos. Trata-se do L-asparaginase, utilizado no tratamento contra a leucemia, e o anti-VEGF, para tratar múltiplos tipos de câncer, como os de pulmão, colo retal, rins e ovários. Os projetos também se encontram em fase de finalização das etapas laboratoriais com estimativa da produção de leite a partir de 2019.
Os biofármacos são medicamentos produzidos a partir de organismos vivos como bactérias, fungos, leveduras, células animais ou vegetais, em plantas ou animais, e se destacam pelo efeito terapêutico específico, aumentando, assim, a probabilidade de cura e reduzindo os efeitos colaterais. A Universidade de Fortaleza é pioneira no País na produção de biofármacos por meio de plataforma animal, utilizando a clonagem por transferência nuclear de células somáticas como meio para estabelecer um sistema de expressão em leite de cabra.