Em janeiro deste ano, o Governo do Estado sinalizou a possibilidade da utilização das águas da barragem do Rio Cocó, na Capital, para o abastecimento humano da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Cinco meses depois, a ideia está próxima de sair do papel. Segundo o secretário estadual dos Recursos Hídricos, Francisco Teixeira, a licitação do sistema adutor deverá ser lançada "nos próximos dias", depois do firmamento de parceria entre a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) e a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).
"A ideia é pegar essa água da Barragem do Cocó e levar até o Eixão das Águas, onde ela vai servir para múltiplos usos, tanto na Estação de Tratamento de Água (ETA) Oeste, que é da Cagece, como para uso no Distrito Industrial do Porto do Pecém", detalha o presidente da Cagece, Neuri Freitas.
A Companhia realizou estudos técnicos de qualidade da água para viabilizar a execução do processo, e o resultado foi positivo. "Toda água bruta tem impurezas, e a do Cocó não é diferente da água do Gavião, do Castanhão ou da barragem do Maranguapinho. Elas não podem ser consumidas naquele estado, mas possuem qualidade suficiente para que a estação de tratamento as deixe no padrão exigido pelo Ministério da Saúde", afirma Freitas.
A medida integra as ações na tentativa de evitar o colapso hídrico na Capital. A barragem, inaugurada pelo Governo do Estado em junho de 2017, tem como função reter o excedente de água nos períodos chuvosos, promovendo o controle da vazão do Rio e evitando alagamentos em áreas consideradas vulneráveis em Fortaleza. Atualmente, segundo o Portal Hidrológico do Ceará, o Reservatório está com 100% da capacidade.
Uma operação semelhante de bombeamento ocorre na barragem do Rio Maranguapinho desde 2016. Parte das águas do reservatório é retirada para o abastecimento humano da população de Maranguape e do Distrito industrial de Maracanaú. Segundo o secretário Francisco Teixeira, o uso da água de lá começou transferindo 200 litros por segundo, mas já dobrou e hoje opera com 400 litros por segundo.
Contudo, na visão do gestor, é preciso mudar a "cultura do açude" em todo o Estado. Segundo levantamento da Funceme, baseado em imagens de satélite, em 2013, foram detectados 28.195 espelhos d'água no território cearense. Em 2016, esse número caiu 9.303. "Quase 20 mil desapareceram. Isso mostra que o pequeno açude não resiste às grandes secas, e muitos acham que açude resolve tudo", avalia Teixeira.
Diversificação
Para ele, os esforços e investimentos devem se voltar para adutoras, tubulações e barragens subterrâneas, que protegem a água da evaporação - afinal, segundo o secretário, "o maior consumidor é o sol". Além disso, defende, é preciso buscar a diversificação da matriz hídrica do Ceará, com a prospecção de novas fontes de água para consumo humano.
Nesse sentido, a Cogerh já elaborou um estudo para aproveitar as águas subterrâneas de dunas entre o Cumbuco, em Caucaia, e o município Paracuru, explorando o potencial dessas formações geológicas do lado Oeste de Fortaleza. "A Cogerh está comprando parte dessa área, já que há dunas loteadas. Já foram adquiridos quase 100 hectares para fazermos um grande parque, e vamos usá-lo como manancial para ajudar a abastecer a Região Metropolitana. Com isto, ao mesmo tempo, podemos preservar e usar, que é o correto a se fazer", garante Teixeira.
Além disso, está em avaliação a expansão de medidas para a captação de água da chuva, principalmente no litoral de Fortaleza, onde chove com mais regularidade. Outra ação mantida pelo Estado na expectativa de garantir mais segurança hídrica é a construção de poços. Só em 2018, a Sohidra executou 820 instalações. Nos últimos três anos e meio, esse total já chega a 5.335 poços.