Nos quartéis, os bombeiros cantam e entoam, no refrão, o que seriam suas principais metas durante a atividade: "Vida alheia, riquezas salvar". Nos escombros do Edifício Andrea, a voz intensa de militares, civis e formados na atividade se transforma em salvamento. É por meio dela que ocorre a comunicação com quem ainda está soterrado. Assobios, gritos, chamados. Formas de entrar em contato com alguém que está em um espaço ermo, entre pedaços de um prédio que veio a ruir.
Bombeiro civil, Joel Lopes, de apenas 19 anos, já pegou para si os ensinamentos profissionais. Quando não está na sala de aula concluindo o 3º ano do Ensino Médio, ele tenta salvar vidas. "O que me faz vir trabalhar é só o amor pelo próximo mesmo. Poder ajudar uma pessoa porque, quando eu era mais novo, eu vi muita gente perecer próximo a mim e eu não pude fazer nada", sente o estudante, que almeja cursar Direito na Universidade.
Joel foi o primeiro bombeiro voluntário a chegar ao local, apenas meia hora após o desabamento. Ele participou ativamente de três salvamentos nos escombros do edifício, mas a saída, com vida, de Cleide Maria da Cruz Carvalho, de 60 anos, foi emocionante. "Foi difícil, ela saiu em estado grave, mas, graças a Deus, a gente conseguiu tirar. Foi muito gratificante poder ver que a gente tirou uma pessoa com vida, que ela saiu bem, que deu certo tirá-la dali naquela situação de agonia".
Operação
A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, em nota, que há 150 bombeiros militares empregados diretamente no resgate das vítimas. O comandante do Corpo de Bombeiros, coronel Eduardo Holanda, afirmou que os profissionais se revezam durante as atividades de busca. "Nosso número de bombeiros permanece 24 horas por dia no mesmo poder operacional. Todas as unidades do Corpo de Bombeiros estão cumprindo seus expedientes na cena do desastre e trabalhando por turnos", explica.
Segundo o coronel, os trabalhos de salvamento são realizados em cinco frentes, que foram determinadas conforme a atuação das equipes de terra, drones e cães farejadores. "A gente tem as melhores condições de trabalho possíveis. Estamos tendo todo o apoio no que se refere ao maquinário, locais de trabalho, e a operação em si", explica.
De longe
Distante da tragédia, Felipe Lima, de 30 anos, saiu da cidade de Itapipoca, a 134 Km de Fortaleza, para se juntar ao efetivo voluntário. Bombeiro militar formado na turma de novembro do ano passado, ele e os amigos ainda aguardam nomeação para se tornarem oficialmente servidores do Estado, mas isso não os impediu de trabalhar nos escombros do edifício.
"Diante do ocorrido, a nossa turma se sensibilizou pra dar um apoio como voluntário. Nossa expectativa é colher informações, ver a necessidade de substituição e ficar de prontidão para, na hora que for solicitado, fazer o trabalho manual, de formiguinha mesmo", narra o ex-representante comercial, um dos 60 formados que estão se dedicando no resgate.
Em Itapipoca, Felipe deixou a esposa e um filho de nove anos para se juntar aos amigos. "Estão lá esperando por mim, orando e pedindo a Deus para dar tudo certo. A gente já está com a vocação, treinado e disponível pra ajudar na medida do possível".
Emoção
Nataly Amaral é bombeiro civil há três anos, e a tragédia do Edifício Andrea foi o pior sinistro que já enfrentou na profissão. Assim como Joel, ela chegou ao local na terça-feira (15) e, desde então, está nas proximidades dos destroços do prédio com seu "canga", apelido carinhoso dado por militares aos parceiros de trabalho.
"Estou exausta, cansada, mas o trabalho de salvar, fazer resgate e poder proporcionar isso a uma possível vítima não tem cansaço, não tem tristeza, não tem dor que supere isso", narra a bombeira. Para ela, durante os resgates, o momento de estímulo sonoro é o mais sensível. "Todo mundo tem que fazer silêncio, e o coração vai a mil. Porque cada vez que o bombeiro manda a gente fazer silêncio é um fio de esperança de vida, e você fica a todo momento achando que a pessoa vai responder".
O calor
De acordo com o presidente da Associação dos Profissionais de Segurança (APS), Reginauro Sousa, que atuou no primeiro dia de buscas, os militares se revezam em turnos de duas horas cada.
O calor, que influencia no serviço operacional dos profissionais, acaba sendo acessório no momento das atividades. "A gente não consegue perceber essa variação de temperatura até que o corpo comece a cobrar. O calor estava muito intenso, há muita poeira, mas nosso interesse é tirar todos com vida. Cada vida é comemorada, e a gente viu muitos militares emocionados. Quando alguém sai com vida, é um momento de muita alegria".