Nos últimos cinco anos, 136 pessoas foram resgatadas de situações análogas à escravidão no Ceará. As operações de resgates dos trabalhadores foram realizadas pelo Ministério do Público Trabalho (MPT). Dentre as ações, 7 resgates foram feitos em 2019 no Estado, nos municipios de Fortaleza e Russas, segundo o levantamento do Radar SIT da Secretaria de Inspeção do Trabalho, vinculada ao Ministério da Economia.
No ano de 2015, foram 70 resgates; 3 em 2016; 20 em 2017 e 36 em 2018. A oscilação dos números, conforme explica a procuradora do trabalho responsável Coordenadoria de Erradicação do Trabalho Escravo (CONAETE), Ana Valéria Targino, pode ter relação com a quantidade de denúncias. “É de extrema importância que essa denúncia chegue até a gente [MPT]. É necessário essa conscientização porque o nosso desafio é combater e erradicar, mas nós precisamos da colaboração com as denúncias para que as providências sejam tomadas”, diz.
A denúncia pode ser feita através do site do Ministério Público, por ligação ou pessoalmente, na sede do MPT no Estado. “É importante dar o detalhamento da denúncia e da localização, seja o denunciante anônimo ou não, já que às vezes a ocorrência é no interior ou em um local mais distante ou isolada”, afirma.
Resgates
Os resgates realizados em 2019 foram resultado de três ações fiscais conduzidas no Estado. No mesmo período, o Ministério Público do Trabalho (MPT) recebeu 12 denúncias e firmou cinco Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) envolvendo o tema. Em 2018, 31 denúncias foram autuadas, 10 TACs firmados e duas ações ajuizadas.
“Os TACs servem como uma estipulação para regularizar o trabalho ofertado por aquele empregador para que no futuro a situação degradante não volte a se repetir, caso o empregado volte a trabalhar para ele. O trabalhador é retirado imediatamente da situação, logo são feitos os cálculos de salário, FGTS, férias e todos os direitos dele - que devem ser pagos -. A atuação é tanto repressiva como de prevenção para o futuro. Nós também propomos indenização por danos morais”, esclarece a procuradora Ana.
O levantamento de 2019 foi divulgado após Encontro Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo, realizado em Brasília na manhã de terça-feira (28).
A data marca o dia nacional de combate a esse crime, em homenagem aos auditores-fiscais do Trabalho Nélson José da Silva, João Batista Soares Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, além do motorista Aílton Pereira de Oliveira, assassinados no município de Unaí, em Minas Gerais, em 28 de janeiro de 2004. O trio investigava denúncias de trabalho escravo em uma das fazendas do empresário Norberto Mânica.
De acordo com dados do Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas, divulgados pelo Ministério Público do Trabalho no Ceará (MPT-CE), do total de trabalhadores submetidos a trabalho degradante no Brasil entre 2003 e 2018, quase 1.289 eram nascidos no Ceará e resgatados em diferentes estados do Brasil. O número gera uma média de 37,2 cearenses resgatados a cada ano.
Perfil
Durante o período, o perfil mais frequente de trabalhadores em condições análogas à escravidão foi de homens, entre 18 e 24 anos de idade. Dentre os cearenses resgatados em diferentes estados, 38% declararam ser analfabetos, enquanto outros 39% estudaram até o 5º ano incompleto do Ensino Fundamental.
Quando resgatados, 68% dos operários desempenhavam atividades agropecuárias em geral. Os demais segmentos de trabalho em que houve resgate incluem pecuária, venda ambulante e exploração da carnaúba.
“Em geral, as pessoas resgatadas estão dentro do mesmo perfil socioeconômico: não possuem muita escolaridade e o histórico da família é o mesmo. Infelizmente, por questão de oportunidade ou falta de atenção pública, essas pessoas acabam sendo aliciados com muita facilidade para trabalhar até por um prato de comida, por exemplo”, aponta.