Os canteiros de obras para a construção e reforma de equipamentos públicos voltam à ativa, em Fortaleza, nesta fase inicial de flexibilização dos serviços interrompidos em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Pela Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf), 112 obras públicas, que foram paralisadas entre março e abril, são retomadas gradualmente desde 1° junho.
Com o período de paralisação de dois meses e o retorno sem a integralidade dos funcionários como medida de segurança, as obras podem ter conclusão em cerca de três meses depois do prazo definido inicialmente.
Manuela Nogueira, titular da Seinf, explica que o cronograma pode mudar a cada semana de acordo com aumento do número de trabalhadores em casa local. "A gente dividiu, por fases, a retomada dessas obras, bem como a quantidade de funcionários. As obras não iniciam com 100% do efetivo, depende muito do tipo, algumas iniciam com 30% do efetivo, outras com 40%. Essa diferença porque, das obras que a gente tem, algumas como na Avenida Beira Mar tem um canteiro muito grande, então tenho como espalhar os funcionários, evitar aglomeração e conseguimos ter mais gente trabalhando. Em uma reforma de prédio menor, eu já não posso ter muita gente", pondera. Também é feita a entrega de máscaras, disponibilização de álcool em gel e de pias para lavagem das mãos, além do revezamento para uso do refeitório.
Durante os meses de maior restrição para evitar o avanço da doença, apenas 28 obras essenciais do setor da saúde, como reformas e construção de hospitais, policlínicas, Unidades Básicas de Saúde (UBS), manutenção e reforma de equipamentos de saúde, não foram paralisadas pela Seinf. "Qualquer obra da saúde que fique pronta também será utilizada para o próprio combate à pandemia", destaca. A Pasta comanda 140 obras públicas.
Mesmo com o funcionamento de parte do comércio e de outros serviços presenciais, as ruas da Capital estão com movimento menor do que o comum. Dessa forma, a Secretaria de Infraestrutura aproveita o momento para dar andamento aos procedimentos de maior escala.
Maior impacto
"As obras viárias e de drenagem têm um impacto maior, não só na população ao redor delas, mas até por conta do trânsito e da interrupção de vias. São obras essenciais para que a gente aproveite esse momento, com menos circulação de trânsito, para que quando as pessoas puderem voltar já termos várias dessas obras finalizadas", esclarece a secretária Manuela Nogueira
A retomada dessas obras em Fortaleza, inclusive, já causou impacto na rotina de pessoas como a consultora de vendas Ariela Silva, de 34 anos, que trabalha dentro de um salão de beleza, na Avenida Desembargador Moreira. Por lá, a via está em processo de requalificação desde 13 de novembro de 2019 e, agora, a previsão de encerramento da intervenção é para o mês de agosto de 2020. Segundo Ariela, o pensamento inicial era de que "a obra já estava bem avançada e vários operários estavam trabalhando nisso", mas as chuvas do início do ano parecem tê-la atrasado mais ainda.
"Muitas vezes vimos que um dia eram feitas escavações e quando chovia toda a areia escorria junto com a água e se espalhava pela Abolição. Quando a pandemia começou, a gente até pensou aqui no salão que eles continuariam as obras, já que não tinha ninguém nas ruas, mas eles pararam e agora retomaram essa semana". Após voltar às atividades no trabalho durante a fase de transição para a retomada gradual da economia na Capital, ela conta que, esta semana, percebeu a movimentação mais intensa ao redor do canteiro de obras.
"Já começou a atrapalhar tudo. Nessa sexta, vieram asfaltar na frente do salão, mas o acesso por aqui está bem difícil, tem maquinário, material de obra", opina também ao contar que, desde então, voltou a fazer o percurso de descida do ônibus na Avenida Abolição para chegar ao trabalho na Desembargador.
Planejamento
A partir de agora, o cenário de cada semana será analisado para que os canteiros de obras voltem ao funcionamento, conforme a escala da Seinf. "O que a gente entende de uma forma macro é que, no mínimo, dois meses terão impacto no cronograma original dessa obra. Por exemplo, uma obra que estava prevista para ser entregue em março, como ela ficou paralisada dois meses, vamos precisar de dois meses pra frente, mas isso não é uma regra. Algumas obras a gente pode conseguir adiantar e outras, como não vamos estar com equipes completas, os dois meses podem não ser suficientes", explica a secretária.
Também são analisados os editais e contratos para acompanhar quais obras devem ser entregues no prazo previsto originalmente. "Na Beira Mar e na Desembargador Moreira, o que eu posso garantir é que a gente vai trabalhar para entregar elas até novembro, numa previsão desse ano, mas que é possível entregar antes", exemplifica.
Nessa sexta-feira (12), começou o período para a 2ª etapa de alargamento e urbanização da Avenida Sargento Hermínio, no Álvaro Weyne, com a instalação do sistema de drenagem. Trecho da via, entre as ruas São Judas Tadeu e Heráclito Domingues, será bloqueado por dois meses. Também serão construídas novas calçadas, canteiro central, drenagem, iluminação, pavimentação, instalação de duas faixas de tráfego em ambos os sentidos. A entrega final deve ser em 15 meses.
Moradora do bairro Monte Castelo há quase nove anos, Ana Maria Dias, 55, já aguarda pela obra da Sargento Hermínio e expressa a vontade pela finalização. "Quantos anos já não se estende essa obra, né? Os transtornos são muitos há bastante tempo, já escuto falar disso desde antes de vir morar efetivamente aqui. Já vimos acidentes de carros, falta de respeito com pedestres, buracos que se abrem na via", comenta. Para a pensionista, o ideal seria que a retomada fosse capaz de finalizar com sucesso as mudanças na avenida, o que impossibilitaria, segundo ela, os problemas com as chuvas, por exemplo.
"Seria muito bom pra gente se a obra fosse concluída. As informações que recebemos foi de que seriam retomadas hoje, mas ainda não vimos nenhuma movimentação por aqui até então", explicou.
Desafio antigo
O novo coronavírus, que conseguiu se propagar com maior facilidade na periferia de Fortaleza, onde as estruturas ideais para moradia ainda não são realidade, evidenciou problemas antigos. "Essa questão da drenagem e do saneamento básico é uma dívida do Poder Público do Brasil para com as comunidades, principalmente, as mais carentes. Foi isso que o prefeito investiu muito do ano passado para cá, com esse programa de infraestrutura urbana, que tira as comunidades do pé da lama, traz dignidade e sensação de pertencimento", analisa Manuela Nogueira.
Os reflexos da paralisação das obras devido à pandemia de Covid-19 podem se desdobrar em problemas antigos em Fortaleza. "Têm comunidades que precisam dessas obras como as de drenagem, que se a gente não finalizar, começa o outro período de chuvas no começo do ano e aquela comunidade vai continuar sofrendo com isso. A gente faz a obra para trazer benefício para a população", destaca a titular da Seinf.
A Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra) foi procurada pela reportagem para detalhar o impacto da pandemia do novo coronavírus nas obras públicas em andamento em Fortaleza. Até o fechamento desta edição, a Pasta não enviou resposta à demanda.
As obras da Linha Leste do Metrô de Fortaleza, inclusive, estão sob a supervisão da Seinfra. Uma parte resultou em interferências na Praça da Estação, localizada no Centro, onde o objetivo é a realização de serviços necessários para a construção de um poço de ventilação da linha. Além disso, na Avenida Santos Dumont, a Secretaria realiza a construção da Estação Nunes Valente, com um bloqueio entre as ruas Tibúrcio Cavalcante e Nunes Valente, iniciado em outubro do ano passado.