Os indicativos já vêm sendo dados há alguns meses, mas o Ceará deve vivenciar o retorno durante o ano de 2020 do sorotipo 2 da dengue, considerado o mais grave. Sem predominância em anos anteriores, o tipo da doença foi registrado em 10 municípios cearenses no ano passado, de acordo com informações da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) repassadas a gestores da área em reunião na Escola de Saúde Pública, em Fortaleza, na manhã de ontem (13).
Seis municípios tiveram detecção simultânea dos sorotipos 1 e 2, são eles: Fortaleza, Maracanaú, Jaguaruana, Palhano, Limoeiro do Norte e Iguatu. Outros quatro registraram exclusivamente o tipo 2: Paramoti, Boa Viagem, Jaguaretama e Jati. Outras 11 cidades tiveram circulação apenas do sorotipo 1, conforme a Sesa. Nesse caso, a predominância foi no Litoral Leste, com ocorrências também no Sertão Central e na Região Metropolitana de Fortaleza.
A Sesa, no ano passado, isolou amostras para identificar os sorotipos de dengue circulantes no Estado. Das 136 amostras analisadas pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), 43 (31,6%) deram positivo para o tipo 2.
"Já que o perfil do Nordeste era mais tipo 1, você não exclui a possibilidade de isso estar vindo de outros estados ou de outras regiões", comenta o secretário da Saúde do Ceará, Dr. Cabeto. Ele lembra que viagens entre estados foram fatores importantes para maiores arcos epidemiológicos da doença por causa da Copa do Mundo e das Olimpíadas, ocorridas em 2014 e 2016, respectivamente. "Temos passado por ciclos de maior ou menor intensidade", diz.
Atualmente, há risco "de moderado a alto" para epidemia do tipo 2, conforme a titular da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS), Joana Maciel. "Em 2019, nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, foram confirmados quase dois milhões de casos e mais de 700 óbitos. É comum, um ano ou depois que acontece em alguma região do País, passar para as que não foram afetadas", alerta.
No começo do mês, especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste já indicavam preocupação com o aumento dos casos de dengue tipo 2 no Estado, que, segundo eles, é o mais agressivo nas regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. A última epidemia causada por esse tipo de vírus no Ceará foi em 2008. A tendência, conforme projetam pesquisadores, é que o tipo 2 se espalhe em 2020 em especial para as regiões Nordeste e Norte.
Histórico
A secretária Joana Maciel reitera que o sorotipo mais agressivo não circulava na Capital há 12 anos, tempo mais que suficiente para tornar vulneráveis muitos habitantes da cidade - hoje, são 2,66 milhões, conforme projeção do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). "Há uma camada importante da população que ainda não está imunizada a esse vírus ou por não ter tido a doença ou porque nasceu nesse período", relata Maciel.
A vigilância não se dá à toa. No ano passado, a Sesa confirmou 15.175 casos de dengue. Quase quatro vezes mais que os 3.720 registrados em 2018. No mesmo período, foram notificados 13 óbitos por dengue, sendo quatro em Fortaleza, dois em Iguatu e mais sete em municípios diferentes.
O secretário da Saúde, Dr. Cabeto, ressalta que, em 2020, a preocupação se volta para algumas áreas específicas. Primeiro, a Região Metropolitana de Fortaleza, pela maior densidade populacional. Em seguida, o Litoral Leste, que registrou muitos casos, e o Sertão Central, por fatores culturais na guarda domiciliar de reservatórios com água. "Diante de uma realidade de abastecimento irregular, esse risco aumenta. A gente começa a estocar de forma inadequada, embora por necessidade", afirma.
Esforço
Por isso, a força-tarefa de combate ao mosquito Aedes aegypti já começou a ser montada. O batalhão de 9,1 milhões de cearenses deve enfrentar o inimigo que infestou os 184 municípios do Estado, sendo responsável pela ocorrência de arboviroses em 98,9% deles e pelo incremento de 280% nos casos de dengue entre 2018 e 2019. Além de mortal, a doença preocupa também porque tem elevado potencial de morbidade (sequelas), principalmente para idosos e crianças.
Os planos do enfrentamento já começaram a ser traçados. Segundo Cabeto, como "é impossível deixar de ter arboviroses em curto espaço de tempo", é preciso que os profissionais de saúde consigam reconhecer casos suspeitos precocemente e tratá-los adequadamente. Deste modo, treinamentos vêm ocorrendo e a Escola de Saúde Pública trabalha na elaboração de materiais de suporte, incluindo webconferências e canais por aplicativos de mensagem, por onde, segundo ele, "especialistas a distância poderão auxiliar a tirar dúvidas e fornecer estratégias terapêuticas".
O secretário garante que, para 2020, o programa Todos Contra o Mosquito deve passar por ajustes nos critérios que destinam recursos aos municípios que atingirem os melhores indicadores no enfrentamento às arboviroses. Em 2018 e 2019, houve o rateio de R$ 10 milhões do incentivo instituído pelo Governo do Ceará.
Na prática, também serão distribuídas telas de nylon e está sendo licitada a compra de 10 mil litros de inseticida para combater a forma adulta do mosquito. O conjunto completo de ações contra as arboviroses deve ser divulgada até o fim de janeiro.
Operações
Em Fortaleza, a secretária Joana Maciel garante que são cruzados dados de locais onde há maior infestação com os de maior notificação de casos. São nas áreas de maior coincidência - especialmente nas regionais V e VI - onde se concentram os maiores esforços da Secretaria Municipal de Saúde, com ações como Operação Quintal Limpo e visitas domiciliares dos agentes de endemias. Só no ano passado, mais de dois milhões de residências foram visitadas, conforme a gestora.
Se a transmissão for inevitável, Joana antecipa que a rede de atendimento já passa por reestruturação de unidades. "Temos 23 postos de saúde preparados para fazer inclusive hidratação e entrega de exames mais rápidos. Também estamos fortalecendo o contrato com as UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) para termos um plano de contingência", especifica.