Ceará e Fortaleza encerraram suas participações nas Séries A1 e A2 do Brasileiro feminino de maneira melancólica. Enquanto as Meninas do Vozão fizeram a 2ª pior campanha da história da elite da modalidade no novo formato, as Leoas bateram na trave outra vez em busca do acesso.
Em ano de Copa do Mundo, de transmissões, de mulheres ocupando mais espaços no esporte, que futebol feminino queremos e qual é o possível?
A rodada de estreia do Brasileirão de 2023 teve o Corinthians, atual campeão nacional, aplicando um 14 a 0 no Ceará, a 2ª maior goleada da história do torneio. A discrepância no resultado entre times da elite do futebol feminino reacendeu vários alertas. Primeiro, é importante lembrar: no ano de maior orçamento do clube, o Vovô destinou 1,6% do valor (1,6 milhão) ao futebol feminino. Esse time conquistou o acesso e o título inédito da Série A2 no último ano e foi desmontado.
O Ceará alegou redução de verba do clube após o time masculino ser rebaixado à Série B, o que prejudicou os investimentos na categoria. Assim, teve reforços pontuais e com experiência no decorrer da competição. Atletas da base formaram a base do time. No maior torneio do país. Inexperientes e corajosas. Quem se negaria a entrar em campo pelo próprio sonho?
As goleadas adversárias se acumularam. Dos 15 jogos da 1ª fase, perderam 14 e empataram o último, diante do Atlético-MG, nesta segunda-feira (12). Foram 74 gols sofridos e sete marcados. O objetivo era a permanência, mas o vexame foi maior que a queda de divisão - causada menos pelo futebol em campo.
A rodada de despedida do torneio também foi marcada por quem não entrou no jogo. Não contra o futebol, mas pelo futebol como sustento. Em protesto por salários atrasados, as jogadoras do Real Ariquemes boicotaram a partida. O Santos venceu por WO. O fim da primeira fase da competição viu a esperada classificação dos times melhor estruturados e amargou a despedida do quarteto que conquistou o acesso em 2022: Ceará, Real Ariquemes, Athletico-PR e Bahia.
Leoas
Na 2ª divisão, o Fortaleza deixou escapar a vaga na Série A1 outra vez. Mesclando atletas da base e nomes mais experientes, a equipe comandada por Guilherme Giudice fez a melhor campanha geral da 1ª fase. Ao todo, foram 17 pontos, com cinco vitórias e dois empates, e a liderança do Grupo B. Porém, nas quartas de final, as Leoas viram o América-MG vencer as duas partidas e chegar à elite. Em 2023, com receita recorde, o Fortaleza destinou 0,43% desse valor ao futebol feminino (R$ 870 mil).
Será que o futebol feminino que queremos está tão distante assim daquele que é possível? A CBF decidiu pela expansão da modalidade com a participação de times de todas as divisões até 2025. Mas como será esse processo? É possível fixar uma porcentagem de investimento dessas instituições na categoria?
Os times cearenses encerram o primeiro semestre sem cumprir seus maiores objetivos. As Meninas do Vozão e as Leoas terão ainda o Campeonato Cearense.
É preciso estimular o consumo, propagar, organizar, profissionalizar e acompanhar. O futebol feminino está longe do que é possível hoje. Por quê?