Com marcas próprias, Ceará e Fortaleza se aproximam das torcidas e combatem a pirataria

Os clubes estreitam laços com torcedores através de produtos licenciados

O sentimento de pertencimento a um time de futebol é um movimento singular. A construção chega de diversas formas, com múltiplas expressões, como o ato de vestir a camisa, a “segunda pele”. Com as marcas próprias, Ceará e Fortaleza estreitaram esses laços através dos uniformes licenciados.

Os desafios são muitos, há margem para evolução e popularização das marcas, mas a Vozão e a Leão 1918 ajudaram no combate à pirataria dos “mantos sagrados” de muitos. Com maior oferta de modelos, fluxo de compra (lojas ou e-commerce) e promoções, as camisas até se multiplicaram.

Em muitos locais, os itens alvinegros e tricolores são as peças principais, seja na rua, no shopping ou no trabalho. O orgulho também é expresso assim, principalmente com a manutenção na Série A.

“A gente percebeu que o nosso cliente precisava contar com maior variedade de produtos disponíveis dentro de lojas para que fossem adquiridos. O torcedor tem orgulho de consumir os produtos do Ceará. Desenvolvemos muitas ações nesse sentido. A construção de marca também se baseou na realização de campanhas que resgatassem o orgulho do torcedor em adotar um estilo de vida alvinegro”.
Lavor Neto
Diretor de Marketing e Comercial do Ceará

Para intensificar a relação com o torcedor, o clube consolidou um novo estilo de atendimento e ainda oferece descontos nos produtos aos sócios-torcedores. Na sede em Porangabuçu, ações são planejadas, sempre visando a aproximação com os alvinegros e uma interação entre as partes.

Modelo POP

A preocupação também existe no Fortaleza Esporte Clube. Na tentativa de se aproximar do torcedor comum, o clube criou a ‘Blusa POP’, uma versão mais simples e barata da camisa oficial do time.

Na análise do presidente tricolor Marcelo Paz, a estratégia ainda pode ser melhorada, com um calendário de lançamento mais fixo ao longo da temporada. A medida visa o combate à pirataria.

"O caminho que o clube criou foi a camisa POP, que não sai sempre, acho até que a gente tem que trabalhar para sair sempre, isso é algo que pode melhorar, mas o POP é de popular, é mais barato, se aproxima do preço da pirada [...] Não podemos aplaudir o trabalho do pirada porque vou na contramão do que é certo, eles não têm responsabilidade, não pagam imposto, e não tem como combater a pirataria. O melhor caminho é ter o POP para atender a parcela da torcida”.
Marcelo Paz
Presidente do Fortaleza

O contato com o torcedor também chega por meio de outras plataformas, como uma melhor experiência aos sócios, com descontos nos produtos. O clube também organiza iniciativas de aproximação, a exemplo das visitas guiadas ao Centro de Excelência, do Pici, a sede do clube.

Pirataria no Brasil

No Brasil, 37% das camisas de times de futebol comercializadas são falsificadas. Os números são de um estudo realizado pelo Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria) e encomendado pela Ápice (Associação pela Indústria e Comércio Esportivo), entidade formada por grandes empresas do setor de produtos esportivos do mundo, como Nike, Adidas e Puma.

Em 2021, foram vendidos 60 milhões de camisas de times de futebol no Brasil, sendo 22 milhões falsificados. A perda foi proporcional ao lucro. A Ápice informou que o faturamento das empresas com o comércio de produtos esportivos, incluindo nesse montante outros itens, como agasalhos e tênis, chegou a R$ 9,12 bilhões durante a temporada de 2021.

O prejuízo chegou à mesma cifra: R$ 9 bilhões. Foram comercializadas mais de 150 milhões de peças falsificadas. Só com artigos de futebol o prejuízo foi de R$ 2 bilhões em 2020, segundo levantamento do Fórum Nacional contra a Pirataria e Ilegalidade (FNCP).

Soluções

Para Renato Jardim, diretor executivo da Ápice, "não existe uma bala de prata que possa resolver ou mudar drasticamente o cenário da falsificação de artigos esportivos", mas ele entende que "medidas conjuntas podem ajudar" no combate ao comércio de camisas piratas.

"A diferença de preço entre o produto original e o pirata é um dos elementos que gera essa comercialização em grande escala. A parte relevante do preço do original está na tributação. Você precisa ter uma política tributária adequada justamente por saber que esse produto é alvo de pirataria. Quem tem um poder aquisitivo menor também quer ter acesso", disse.

Atualmente, incide sobre a produção das camisas o ICMS e IPI na saída do estabelecimento. Sobre a receita de venda, o fabricante recolhe IRPJ, CSLL, PIS e Cofins. Tudo isso encarece o preço final do artigo, que é repassado ao consumidor. Já quem produz o artigo pirata não paga imposto.

"É um desafio muito grande para os clubes baratearem e tornarem acessíveis seus produtos, já que várias medidas dependem do poder público, como, por exemplo, uma concessão de benefícios fiscais, uma diminuição da tributação", afirmou Rafael Marin, advogado tributarista.

A diminuição da tributação, acrescentou Rafael Marin, depende de articulação com Estados e União e ainda da aprovação nas respectivas casas legislativas. Outra questão diz respeito às leis para aqueles que cometem a pirataria. Segundo ele, é necessária uma atualização da tipificação.