O nome de Dimas Filgueiras sempre é lembrado quando o assunto é "ídolos do Ceará". O "Soldado Alvinegro", como é conhecido pela torcida, disputou mais de 600 jogos pelo clube, como jogador e como técnico, em 46 anos de serviços ao Vovô.
Hoje, quase três anos após sua aposentadoria do esporte, a paixão pelo futebol continua a mesma, acendendo as memórias mais vivas contra a doença de Alzheimer. Para manter o pai sempre ativo, sua filha mais nova, Vânia Filgueiras, tomou a iniciativa de criar um perfil nas redes sociais dedicado às lembranças do glorioso passado do Soldado e para abrir um canal de comunicação entre a torcida alvinegra e Dimas.
"Sempre quis criar, mas ele não mexia porque não gostava de tecnologia. Ele já tava com Alzheimer e ele não lembrava tanto, mas de futebol sim. Então criei no final de 2019 para aproximar ele da torcida novamente. Recebi mensagens de gentes novas querendo chances na base e eles não sabiam do estado dele. Foi quando na quinta-feira (14) falei que ele estava com Alzheimer. Abri uma caixa de perguntas e foram perguntando coisas", explica Vânia.
O carioca de 76 anos chegou à capital cearense em 1971 para jogar pelo Fortaleza, mas se transferiu no ano seguinte para o Ceará, clube pelo qual defendeu até 1976, quando pendurou as chuteiras. Porém, fora de campo, continuou atuando no Vovô em outras funções e, com frequência, era "convocado" para assumir o comando técnico do time de forma interina.
Além dos títulos estaduais dentro e à beira do gramado, Dimas ainda figura como o técnico com mais partidas na história do Vovô: 504 jogos (239 vitórias, 152 empates e 109 derrotas) e o único a ter conseguido duas classificações para competições internacionais (Copa Conmebol de 1995 e Copa Sul-Americana de 2011).
Despedida do Alvinegro
Após sair do clube em janeiro de 2018, Dimas passou a focar no caiaque como maneira de manter a saúde física e mental e não deixar o lado competitivo de lado. Porém, com a pandemia, precisou parar as atividades, viajando para o norte do Estado em busca de isolamento e tranquilidade em uma fazenda da família, em Itapajé.
"Antes da pandemia estava super ativo, indo para o Colosso no projeto. Com a pandemia, foi para a fazenda Itapajé, no interior da minha mãe. E foi bom para ele porque andava muito, tendo contato com animais. Quando vim para Fortaleza em julho, vi que ele deu uma decaída por ficar casa sem fazer exercícios. Ele fazia fisioterapia e teve que parar por medo da Covid-19. Ele hoje dorme mais do que faz outras coisas", conta a filha do Soldado.
Dimas tem terapia ocupacional em casa devido ao Alzheimer, mas não deixa de acompanhar o time do coração e lembrar de histórias marcantes, como a amizade com Garrincha.
"Nos últimos dois meses ele está mais mole. Ele assiste jogo normal. Quando ele conta uma história é quando alguém lembra. Sempre fala das Olimpíadas de Tóquio de 1964, quando escrevia cartas para o Garrincha, que pedia a ele porque dizia que meu pai escrevia bonito", contou Vânia.
A filha lembra que, perto de sua saída do Vovô, notaram que Dimas não acertou uma vez o percurso do clube até sua casa, o mesmo que fez por mais de 40 anos, já mostrando o início da doença.
Com o perfil nas redes sociais, Dimas recebeu mensagens de vários ex-companheiros de Vovô, como Geraldo, Arlindo, Boiadeiro, Michel, Adilson, Erivelton, Fabrício, Cleisson e Washington, além da visita de Lula Pereira, outro ídolo alvinegro.
A ligação emocional é a única que continua entre o Soldado e o Ceará após tantas décadas. Um dos vestiários em Porangabuçu leva o nome de Dimas como forma de memória.
Como homenagem, uma torcida organizada alvinegra está preparando um grande mosaico para o duelo contra o Palmeiras na 32ª rodada da Série A, no dia 24 de janeiro (domingo).
"Estamos tentando com o clube e com a CBF a autorização para irmos ao jogo e ele ver o mosaico, mas acho difícil", relatou Vânia à reportagem.