Quando o assunto é dinheiro, você é daquelas que vivem no vermelho ou tem as contas pagas em dia e ainda sobra? Talvez não perceba, mas o modo como lida com as finanças pode indicar uma autoestima saudável ou uma necessidade urgente de rever as crenças sobre si mesma.
Como observa Darla Lopes, consultora e terapeuta financeira, a crença de não merecimento financeiro é comum entre mulheres com baixa autoestima, afetando diretamente o modo como elas se sentem em todas as esferas da vida que envolvem as finanças.
“A mentalidade de não merecimento financeiro é muito comum entre as mulheres e pode ser identificada facilmente quando você sente resistência em fazer o que é preciso, sente desconforto em receber pelo seu trabalho ou sente-se uma fraude quando tem excelentes resultados”, pontua a consultora.
As decisões de consumo também podem ser reflexo de uma baixa autoestima ou por questões emocionais não resolvidas. Quem nunca comprou algum produto sem necessidade quando estava triste que atire o primeiro cartão de crédito. “É uma armadilha muito grande querer preencher os vazios das nossas vidas com compras”, afirma Kayline Moreira, economista especialista em planejamento financeiro e finanças comportamentais, mestra em Economia, doutoranda em Administração e professora da Universidade de Fortaleza.
Para a economista, por trás de muitas sacolas de compras está a necessidade de aprovação e a busca por uma felicidade temporária. E é aí que está o perigo de endividamento, especialmente com o mal uso do cartão de crédito.
“As pessoas contabilizam o crédito como se fosse parte da renda delas, quando na verdade não é. O crédito é um meio de pagamento, mas ele não faz parte da sua renda”, ensina Kayline Moreira.
Virada financeira
Mudar o comportamento financeiro começa por fazer uma melhor gestão das emoções. “É reconhecer o que realmente está nos incomodando e parar de querer suprir necessidades que são emocionais com o consumo. A verdadeira felicidade do ser humano não vem do consumo. Isso é algo que a gente tem que internalizar, porque é um primeiro passo para o controle”, analisa Kayline Moreira.
A psicóloga Kátia Velasco explica que autoestima tem a ver com a forma como a pessoa se relaciona consigo mesma, estabelecendo um suporte interno que não é influenciado pelo externo. “Eu sei quem eu sou, conheço os meus pontos fortes e fracos. E aí, estabeleço uma autoestima elevada, porque eu gosto daquilo que eu vejo em mim”, ilustra. Para a psicoterapeuta, o caminho é construir uma autoestima pautada em valores, que não tem a ver com o consumismo. “Porque dinheiro a gente perde. Isso é muito volátil, mas a minha potência como pessoa, saber quem eu sou, não está preso a ele. Ou seja, eu gosto de mim, independente dos fatores externos”, explica.
Este caminho do autoconhecimento passa por equilibrar as finanças e lidar melhor com as decisões relacionadas ao dinheiro. “Quando nossa autoestima está boa, isso nos deixa numa situação psicologicamente confortável para lidar com as nossas finanças”, destaca a economista Kayline Moreira. Ela aponta a educação financeira como meio para ajudar mulheres a saírem do vermelho e a realizar sonhos. “A educação financeira provoca mudança de mentalidade e a mudança de mentalidade reverbera numa mudança de atitude em relação ao dinheiro que pode fazer com que as mulheres passem a fazer uma melhor gestão dos seus recursos e assim possam realizar os seus sonhos”, afirma.
Seguindo este raciocínio, a consultora Darla Lopes orienta às mulheres que estudem sobre finanças e economia. “Conhecimento é poder. Estudar sobre finanças e economia é fundamental e, principalmente, conhecer a si mesma”. Aliado a isso, um bom planejamento financeiro, com metas claras e direcionamento de recursos vão levar as mulheres a um outro patamar de vida financeira. “Se observo que a pessoa não consegue poupar, então combinamos transferências compulsórias e recorrentes para uma conta de investimento, por exemplo. Incluímos metas de pagar as contas em dia, verbas para gastos supérfluos e há sempre o incentivo de comemorar as conquistas”, elenca.
Dona de si
Para muitas mulheres, conquistar a independência financeira e ser dona do próprio dinheiro representa um salto na autoestima. “Muitas vezes, quando uma mulher vivencia um sistema de opressão, de dependência, tanto do companheiro, quanto de parente, ao conseguir a liberdade financeira, ela começa a trilhar seu caminho nesse lugar de autonomia. Isso também ajuda na autoestima dela, porque começa a se sentir dona de si”, observa a psicóloga Kátia Velasco.
Pensando nessas mulheres que passaram por relações adoecidas ou abusivas, a psicóloga observa que muitas não conseguem se sentir capazes de realizar os próprios sonhos, por se sentirem limitadas financeiramente.
“Mas quando elas conseguem ver que são capazes de buscar um sonho, de lutar para que isso aconteça, e aí como resultado conseguem essa autonomia financeira, isso eleva a autoestima, porque elas sentem valorizadas”, ilustra.
Para Darla Lopes, com a autoestima elevada, as mulheres conseguem ter mais confiança, disposição física e mental para iniciar/manter a inteligência financeira em todas as áreas da vida. “Eu diria que as mulheres nunca se esqueçam de que o feminino em nós representa a força da criação e essa energia pode ser direcionada para tudo que quisermos”, finaliza a terapeuta financeira.