Se você já reproduziu aquela frase “em briga de marido e mulher ninguém mete a colher”, pode retirá-la do seu discurso. “Hoje em dia, em briga de marido e mulher, a gente salva a mulher. As relações íntimas de afeto não são exclusivamente de direito privado”, orienta a defensora pública Jeritza Braga.
Neste Agosto Lilás, marcado pelos 15 anos da Lei Maria da Penha, profissionais de instituições cearenses especializadas no assunto reforçam o papel de uma rede de apoio que acolha e auxilie as vítimas de violência doméstica.
Ninguém vai conseguir fazer nada sozinho. É um trabalho que precisa ser integrado, em conjunto, uma cooperação da sociedade civil, da família e dos órgãos do poder público, porque para você conseguir reprimir, prevenir e diminuir essa violência doméstica, todos precisam estar nessa luta”, enfatiza.
Desde 2015, ela atua como supervisora do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher (Nudem), em funcionamento na Casa da Mulher Brasileira (CMB).
Só nestes seis primeiros meses de 2021, 4.772 procedimentos foram executados no Nudem Fortaleza, representando um aumento de 139% se comparado com o mesmo período do ano anterior, quando foram registrados 1.990 procedimentos.
Principais denúncias
A maioria dos casos relatados, cerca de 99%, segundo Jeritza, é de violência psicológica, seguida de moral, física, patrimonial e sexual, nesta sequência. Quando atendidas pelo Núcleo, essas mulheres recebem então auxílio jurídico e psicossocial.
Trabalho semelhante é realizado no Centro Estadual de Referência e Apoio à Mulher (Ceram), que também funciona na sede da CMB.
O órgão é direcionado às vítimas e à rede de proteção e atendimento a mulheres de todos os municípios do Estado do Ceará, priorizando aquelas que não são de Fortaleza.
Durante o ano de 2020, foram 450 casos acompanhados pelo Ceram. Só nos seis primeiros meses de 2021, já são 602 casos registrados.
“As principais violências relatadas são a psicológica, a moral e a violência física. Identificamos a dependência econômica da família do agressor como um dos grandes entraves para a consolidação da denúncia”, pontua a coordenadora Marta Lacerda.
Participação da rede de apoio
Em muitas situações, como observa a defensora pública Jeritza Braga, a mulher se sente sozinha e não encontra apoio nem mesmo no seio familiar.
“Algumas escondem, não querem falar, tem medo, tem vergonha, ou então, quando falam para a mãe ou para a irmã, geralmente elas escutam a seguinte resposta: ‘é assim mesmo, minha filha, mas ele é um bom pai, ele é um bom marido, não deixa faltar comida na sua casa; aguente porque homem é assim’”, lamenta Jeritza.
Por outro lado, a defensora tem observado um movimento maior por parte dos filhos nesses processos.
“Temos sim algumas situações onde eles, já na fase adulta, não querem deixar a mãe passar por isso. Mas, infelizmente, a gente não não tem visto muitos vizinhos, testemunhas, família... Ou é uma decisão delas ou então elas realmente vão encorajadas pelos filhos”, relata.
Diante deste cenário, a coordenadora do Ceram, Marta Lacerda, incentiva a caminhada da mulher em parceria com as instituições públicas.
Ela pode e deve procurar a ajuda do Ceram, a partir do qual acompanharemos e sempre dialogaremos, avaliando a evolução da violência e sempre procurando encorajá-la a quebrar o ciclo. Esse deve ser o papel das amizades e da família: apoiar e proporcionar condições para cada mulher se sentir segura e empoderada para efetivar a denúncia”, reforça.
De acordo com uma pesquisa do Nudem, essa busca por ajuda nos órgãos especializados costuma acontecer somente de cinco a dez anos após as primeiras agressões, daí a importância de uma rede que apoie esta mulher desde o princípio.
“Se algum vizinho ouvir barulhos, gritos, objetos domésticos sendo quebrados, ou se já percebeu que aquela vizinha às vezes fica machucada, é importante não se omitir. Então, assim, a gente sempre orienta a fazer uma denúncia anônima para o 190. Com essa atitude, você pode estar, inclusive, salvando uma vida”, conclui Jeritza Braga.
Serviço
Casa da Mulher Brasileira (CBM)
Telefones para informações e denúncias:
- Recepção: (85) 3108.2992 / 3108.2931 (plantão 24h)
- Delegacia de Defesa da Mulher: (85) 3108.2950 (plantão 24h, todos os dias)
- Centro Estadual de Referência e Apoio à Mulher (Ceram): (85) 3108.2966 (segunda a sexta, 8h às 20h)
- Defensoria Pública/Nudem: (85) 3108.2986 (segunda a sexta, 8h às 17h)
- Ministério Público: (85) 3108. 2940 / 3108.2941 (segunda a sexta, 8h às 16h)
- Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher: (85) 3108.2971 (segunda a sexta, 8h às 17h)
Para mulheres com filhos:
- A unidade dispõe de Brinquedoteca para acolhimento de crianças de 0 a 12 anos (plantão 24h)
*Observação: Devido à pandemia, os órgãos estão priorizando o atendimento de forma remota. Presencial, apenas com agendamento antecipado pelos telefones.