Um estudo do Unicef (braço das Nações Unidas para direitos das crianças e dos adolescentes) publicado em novembro mostra que "com medidas básicas de segurança, os benefícios líquidos de manter as escolas abertas superam os custos de mantê-las fechadas".
A Europa é uma boa amostra de como isso pode ser feito. A maior parte dos países reabriu escolas há meses ou nem as fechou -e não teve uma incidência maior de contaminação na comparação com o que ocorreria com o fechamento.
Alemanha, França e Inglaterra anunciaram "lockdown" nas últimas semanas, diante do salto nos casos. Inúmeros locais públicos foram fechados -menos as escolas.
Segunda onda com escolas abertas
Na França, mesmo com resultado positivo em 11% dos testes de Covid, em média, o governo não fechou colégios. Na Itália, as escolas reabriram em setembro, início do ano letivo no hemisfério norte. Quando a segunda onda veio, em novembro, alunos do ensino médio e parte do ensino fundamental 2 passaram para as aulas online, enquanto se manteve o presencial para as crianças menores.
"O certo é fazer como a Europa, fecha bar, teatro e academia, reduz a circulação do vírus, e mantém escola aberta", diz Priscila Cruz, presidente-executiva da Todos pela Educação. "Mas as pessoas realmente acham que educação é prioridade? Estão dispostas a abrir mão do shopping para que os filhos possam ir para a escola?".
No Brasil, discussão foi contaminada por questões ideológicas
Para Priscila Cruz, a discussão sobre a reabertura das escolas no Brasil perdeu a racionalidade e foi contaminada por questões ideológicas. "As pessoas acham que, se você defende abrir as escolas, é bolsonarista e negacionista da Covid, e, se quer mantê-las fechadas, quer preservar vidas", diz.
Priscila afirma que as crianças com menos de dez anos precisam ter prioridade -são as que menos transmitem e as que menos conseguem aprender com ensino remoto.
Mas, em muitos municípios, prefeitos resistem a autorizar a abertura, com medo de reações dos sindicatos e da opinião pública -se determinarem que as crianças voltem às escolas e houver um surto de casos, o ônus político será deles.
Exemplos do Oriente
No Japão, colégios começaram a reabrir no meio de abril e, agora, alunos têm aulas normais, com limitação de pessoas por classe, distanciamento social e monitoramento de contaminados.
Na China, onde o vírus se originou, quase 200 milhões de alunos voltaram a ter aulas presenciais todos os dias. Todos passam por monitoramento de histórico de viagens e de testes de Covid-19, seguem regras de higiene e devem manter "espírito antiepidêmico". Os universitários ficam proibidos de sair do campus para comer ou encontrar amigos.
Na Índia, o governo federal autorizou a reabertura gradual a partir de 15 de outubro, mas a decisão final cabe aos estados. O país, como vários estados brasileiros, privilegiou a volta das crianças mais velhas, que têm exames finais. A volta é voluntária.
EUA
Nos EUA, as autoridades sanitárias se baseiam em porcentagens de testes positivos para decidir se abrem ou não as escolas. No entanto, faltam testes e sindicatos de professores ameaçaram fazer greve.
Depois de meses, o prefeito Bill de Blasio, de Nova York, anunciou, em outubro, a reabertura. Mas, em novembro, a média móvel de sete dias de testes positivos chegou a 3%, e o prefeito determinou que fechassem novamente. A decisão foi duramente criticada, e De Blasio voltou atrás. Agora, há aulas presenciais para alunos de até dez anos, os mais velhos ficam com aulas online.
Boston e Detroit suspenderam praticamente todo o ensino presencial com a recente alta de casos e, em Seattle, as escolas estão fechadas desde março. Mas estados como Delaware e Vermont as mantêm abertas.
Em Rhode Island, por exemplo, bares e academias ficaram fechados durante a pandemia -colégios, não. O estado mantém um centro de testes exclusivo para alunos, professores e funcionários de escolas. Michigan, com o aumento de casos em novembro, fechou para alunos do ensino médio, mas manteve as unidades abertas para ensino fundamental 1 e 2.
África e América Latina
Na África, segundo levantamento do Banco Mundial, 29 dos 54 países do continente, incluindo nações pobres como Benin, Burkina Faso, Níger e Serra Leoa, reabriram escolas.Já na América Latina, crianças e adolescentes estão tendo aulas presenciais em apenas três países: Cuba, Nicarágua e Uruguai.
Enquanto os dois primeiros nunca pararam a atividade, o Uruguai teve duas semanas com as escolas de portas fechadas, para que se preparassem para as novas regras sanitárias. Logo, os colégios retomaram suas atividades.
Na Argentina, as aulas ainda não voltaram. Porém, desde o início de novembro, os colégios estão autorizados a realizar "atividades de revinculação" -permitir que os estudantes, em grupos pequenos, voltem a conviver com colegas e professores. Mas a presença é optativa e o conteúdo não é o do currículo oficial.
No Chile, na Colômbia, no Equador e no Paraguai, algumas escolas estão reabrindo regionalmente, de acordo com a situação epidemiológica, mas ainda com assistência optativa e rodízio de alunos.
No Peru, só estão funcionando as escolas da zona rural, onde a situação epidemiológica está um pouco melhor do que nas cidades.Na Bolívia, na Venezuela e no México não há nenhuma modalidade presencial, e tudo está sendo realizado por meio de home school.