Debilitado por causa da intubação devido à Covid-19, o fabricante de sal Francisco Oliveira Maia, de 59 anos, precisou usar placas com letras e gravuras para conseguir se comunicar com a equipe médica e os filhos durante os meses de internação, entre março e abril deste ano.
Francisco mora em Icapuí, a 202 quilômetros de Fortaleza, e precisou ser transferido para o Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar (HMJMA), na Capital, devido ao tratamento da doença pandêmica. No HMJMA, as placas são utilizadas pela equipe de psicologia como uma ferramenta para monitorar os pacientes internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Após 25 dias intubado, o paciente despertou sem conseguir falar, além de apresentar uma memória falha. “Depois de uns três dias na enfermaria, eu não conseguia falar nada. Depois, chegou a ideia das placas. Para mim, foi uma ótima ideia. De acordo com as perguntas que a psicóloga fazia, eu formava as palavras apontando as letras ou com as imagens, e ela entendia o que eu queria dizer”, conta Francisco.
O paciente chegou a duvidar de que a família estava sendo comunicada sobre o seu estado de saúde. “Eu queria vê-los [família], mas não conseguia me comunicar. Aconteceu que, em uma chamada de vídeo, eu comecei a formar as perguntas e ela repassava pra eles. E assim eu fui tirando a preocupação da minha cabeça”, diz.
Método
De acordo com a psicóloga Fernanda Pereira, atuante na unidade de saúde, por causa das complicações na fala, sequelas de intubações, pacientes têm ficado angustiados e ansiosos por não conseguirem se comunicar plenamente. A partir dessa percepção, com a inauguração da UTI no HMJMA em março deste ano, o método de comunicação alternativo começou a ser aplicado em diversos pacientes.
“Eu vi a necessidade de trazer equipamentos de outras áreas, como as placas que são utilizadas na fonoaudiologia. Esse instrumento é para viabilizar a expressão subjetiva do paciente”, explica a profissional.
No atendimento ao paciente, Fernanda apresenta as placas que mostram necessidades pessoais, emocionais e físicas. “São folhas simples, A4, com símbolos, perguntas básicas e teclado numérico”. Com o método, “a melhora é perceptível”, completa Fernanda.
Os objetos são inspirados no equipamento criado pela Faculdade de Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), conforme a psicóloga.
Recuperação
Após o período de internação, Francisco teve alta no último dia 15 de abril, mas segue fazendo fisioterapia em casa, no interior do Estado. “Tá indo tudo ótimo. Cheguei cansado, mas agora já estou bem melhor. Estou indo aos médicos aqui, em acompanhamento, fazendo exames, porque eu estou muito rouco devido a uma sequela que ficou. Mas com a fisioterapia eu tenho percebido uma melhora”, finaliza.