Jovens se unem para cadastrar idosos sem internet para tomarem a vacina contra Covid-19 em Fortaleza

Além dos mais velhos, o Coletivo Sabiá, do bairro Sabiaguaba, também tem ajudado no cadastro de outros grupos prioritários para a imunização

Vacinar o maior número de pessoas possível para conter o rápido avanço da pandemia é um dos objetivos em comum não só das autoridades, mas também de lideranças comunitárias. Pensando nisso, o Coletivo Sabiá, que atua no bairro Sabiaguaba, em Fortaleza, deu início na última quinta-feira (11) à ação de ajudar no cadastro de pessoas que se encaixem nos grupos prioritários de vacinação contra Covid-19 na comunidade. 

A iniciativa é promovida por Gleiciany Queiroz, de 26 anos, integrante do coletivo e mediadora na biblioteca comunitária Sabiá, em parceira com Alan Raymison, de 23 anos, professor de Educação Física e mestrando pela Fiocruz. Os dois são residentes do bairro Sabiaguaba e têm o intuito em chegar àqueles com alguma dificuldade para realizar essa primeira etapa para a imunização, o cadastro online.  

“Eu já tinha conversado com as mães [que frequentam a biblioteca comunitária] que eu ia começar esse trabalho fazendo cadastro com elas [mães] que não tinham acesso a computador, estavam tendo dificuldade para fazer pelo celular ou não tinham acesso à internet “, conta Gleiciany.  

Facilitar esse acesso ao cadastramento, de forma gratuita, foi visto como essencial, devido ao que já tinha sido observado quando surgiu o cadastro do auxilio emergencial. “O nosso intuito é facilitar o acesso das pessoas ao cadastramento da vacina. Nós sabemos que a comunidade tem muita dificuldade, seja por dúvidas em mexer no instrumento, internet e aplicativos, mas também por não ter acesso à internet”, destaca Alan.   

Primeiros atendimentos  

Mesmo sem ampla divulgação, feita apenas pela página do coletivo no instagram, já foram cadastrados, entre quinta (11) e sexta-feira (12), mais de 15 moradores pertencentes a grupos prioritários e que residem nos arredores da biblioteca comunitária. Além das dificuldades já citadas, Alan também observa que muitas pessoas tem chegado com muitas dúvidas, principalmente ocasionadas por meio de notícias falsas divulgadas na internet. 

“Então a solução foi a gente cadastrar e ajudar. Nós, enquanto pessoas que se preocupam com a comunidade”, enfatiza. “Infelizmente, sabemos que isso vai durar por muito tempo. Então, a ideia da gente é acelerar esse processo e fazer com quem precise tomar a vacina se cadastre o quanto antes”, completa o educador físico.  

"Graças a Deus, ela veio até minha casa ajudar"

Uma das beneficiadas por essa ação comunitária foi Darc de Sousa, 38 anos. Além de ter um filho portador da Síndrome de Dawn e transplantado do coração, o Jefferson Brasil, 18 anos, Darc também tem uma mãe idosa em casa, dona Maria Merinda, de 64 anos. Tanto a mãe dela quanto o filho se encaixa nos grupos prioritários. “Esse tempo de pandemia foi muito difícil para as famílias mais carentes. Para mim foi muito difícil Tenho meu filho especial, mais três filhos e minha mãe. A gente vendia um churrasquinho e tivemos que parar. Foi muito difícil”, pontua a dona de casa.  

Por frequentar a biblioteca comunitária há algum tempo, ela foi uma das primeiras a ser atendida pela iniciativa.“A Gleici que trabalha na comunidade ajudou muito. Ela veio até a minha casa, falou comigo sobre o cadastro do meu filho e da minha mãe, porque o que eu sabia era que eles só iam tomar a vacina depois que todos os idosos já tivessem tomado. Mas graças a Deus, ela veio até a minha casa ajudar”, conclui.  

Carona solidária 

Outra iniciativa dos líderes comunitários é a “carona solidária”, ainda em planejamento, já que grande parte da vacinação, na Capital, está ocorrendo por meio de drive thru.  

“Algumas pessoas nem sabem dessa modalidade, então estamos tentando implementar e ver como a gente consegue fazer essa carona solidária. Como iremos fazer para levar essas pessoas que não têm condições, não têm veículo, até um posto de vacinação. É algo que estamos tentando implementar no território”, explica Gleiciany.   

De acordo com o boletim epidemiológico divulgado pela Secretária Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS), na última sexta-feira (12), Sabiaguaba registra 160 casos de Covid-19 e 11 pessoas já perderam a vida em decorrência da doença no bairro.   

Vacinação em Fortaleza 

A Capital contabiliza 365.993 cadastros confirmados por e-mail para a vacinação contra a Covid-19, de acordo com dados da plataforma IntegraSUS, gerida pela Secretaria de Saúde do Estado do Ceará (Sesa). 

Dentre os cadastrados, 125.577 são idosos entre 60 e 74 anos, 5.016 são idosos com idade igual ou maior de 75 anos. Já pessoas com comorbidades somam 42. 910, quanto aos trabalhadores da saúde são 24.880.