Embriões clones do veado-catingueiro, espécie que corre risco de extinção em alguns Estados do Brasil, foram produzidos no Laboratório de Fisiologia e Controle da Reprodução (LFCR) da Universidade Estadual do Ceará (Uece). A pesquisa foi publicada no periódico internacional Cellular Reprogramming.
“Em alguns estados, como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, a espécie é considerada em risco de extinção. Este trabalho tem grande importância, pois confirma que a transferência nuclear de células somáticas interespecífica (TNCSi) pode ser ferramenta útil na conservação de espécies”, explica Vicente Freitas, pesquisador do LFCR e professor da Faculdade de Veterinária (Favet/Uece).
O veado-catingueiro é uma espécie pequena de cervídeo neotropical, que pesa cerca de 18 quilos e tem uma altura média de 50 centímetros. Os animais são encontrados ao sul da região amazônica, até o Uruguai e a porção central da Argentina, ocupando o leste das regiões pré-andinas da Bolívia e Argentina até a costa Atlântica do Brasil.
Com o objetivo de ajudar na conservação desta e de outras espécies de cervídeo encontradas no Brasil, o Laboratório realiza pesquisas sobre o uso da TNCSi, ou seja, a clonagem de indivíduos utilizando células da pele do veado-catingueiro e óvulos de animais domésticos – vacas e cabras.
“A importância desta técnica é obter a clonagem sem a necessidade de colher óvulos de uma espécie silvestre de difícil manejo e com uma população diminuta”, detalha Vicente.
Com essa pesquisa, foram obtidos os primeiros embriões clones de um cervídeo neotropical. Utilizando óvulos de cabras, chegou-se até ao estágio de mórula, que é o primeiro estágio da formação e desenvolvimento do embrião; ao usar óvulos de vacas, porém, os embriões se desenvolveram mais e alcançaram o estágio de blastocisto, ou seja, o momento adequado para serem transferidos para o útero de uma fêmea receptora.
O trabalho foi realizado com o apoio da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap), e fez parte da tese da médica veterinária Lívia Magalhães, que realizou seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias (PPGCV/Uece), sob orientação do professor Vicente Freitas e coorientação do professor José Maurício Barbanti Duarte, da Universidade Estadual Paulista (UNESP).