Após sofrer transfobia em uma loja de roupas de Pacajus, no interior do Ceará, uma professora da rede estadual de ensino recebeu uma linda homenagem dos próprios alunos, na última quarta-feira (8).
Vídeos do momento mostram Jhosy Gadêlha sendo recepcionada por um longo corredor humano formado por estudantes da Escola de Ensino Médio Padre Coriolano. Diante de cartazes com palavras de afeto e sob palmas e gritos de apoio, a docente se viu acolhida diante da violência que sofreu.
“Não tenho palavras para agradecer a minha família, EEM Padre Coriolano, por esta homenagem. Foi uma linda corrente do amor, solidariedade, respeito e empatia. São sementes, que eu planto diariamente não só no meu trabalho, mas em todos os lugares que eu ando. Essa luta é nossa, e nós vamos vencer”, escreveu.
Ao Diário do Nordeste, a professora disse ter ficado bastante emocionada com o carinho dos estudantes. "As pessoas abraçaram a minha dor. Eu fiquei sem reação, não conseguia nem andar, foi a injeção de força que eu precisava naquele momento. Esse é o retrato de quem eu sou como professora, da pessoa humana que eu sou, representa quem eu sou na minha vida", disse, emocionada.
Já na quinta-feira (9), Jhosy recebeu mais demonstrações de carinho durante um café da tarde organizado por alunos do 1º ano, da qual é Diretora de Turma.
"Tenho mais de dez anos de docência, eu acredito na educação. Essas homenagens foram um marco de amor na minha vida em meio a esse momento tão ruim, e que está servindo de exemplo não apenas para Pacajus, pois estou recebendo mensagens do mundo inteiro", conta.
Entenda o caso
Mulher trans, Jhosy denunciou o caso nas redes sociais na última segunda-feira (6). A docente disse ter sido vítima de transfobia ao ser atendida na loja Jacira Modas, no Centro de Pacajus, quando tentava comprar uma saia. A agressora foi a proprietária do estabelecimento, que se recusou a tratá-la pelo pronome feminino. Um boletim de ocorrência (BO) foi registrado no mesmo dia.
“Eu pedi com muita educação que ela parasse com aquilo porque ela estava me ofendendo. Ela olhou na minha cara e disse que não ia me tratar como mulher, porque eu não sou mulher. 'Porque sua voz não é feminina. Por acaso você fez cirurgia de mudança de sexo?' Ela se validou da religião evangélica dela a todo momento para me atacar. Ela disse que pessoas como nós vamos para o inferno", disse.
A docente afirma que, mesmo diante das falas, se manteve calma e tentou conscientizar a mulher, que é evangélica, para a respeitar, mas as agressões continuaram.
"Ela a todo momento me olhava e dizendo: 'Eu não vou te tratar como mulher porque a minha religião não aceita, porque Deus não aceita, você sabe do fim de vocês, Deus não aceita a opção de vocês'. Eu vi tanto ódio nas palavras daquela mulher, no olhar dela, e eu tentando me equilibrar, ser forte, tentando conscientizar aquela mulher e não consegui, então sei dos meus direitos, e vou lutar por eles, ela tem que pagar. Transfobia é crime, e nós não devemos normalizar o ódio e o preconceito, basta", disse Jhosy.
A reportagem entrou em contato com a loja, mas as ligações não foram atendidas até a publicação desse texto.
Durante a semana, a proprietária se posicionou nas redes sociais classificando o caso como calúnia. No entanto, voltou a se referir a Jhosy com o pronome masculino. "Sujeito totalmente tendencioso e agressivo. Usando de minha imagem para denegrir meu nome", disse.
Após os vídeos publicados por Jhosy repercutirem e ela receber a homenagem de estudantes e colegas docentes, a professora voltou a se pronunciar, nesta sexta-feira (10).
"Eu estou muito emocionada diante de tanto apoio que estou recebendo. Muita gente me mandou mensagem de força, de solidariedade, isso se trata de ser humano, de ter humanidade, de ter o mínimo de empatia, e to recebendo muitas palavras de força e amor", disse ela, pelos stories do Instagram.
"Eu decidi lutar por mim e por todas as pessoas da nossa comunidade, que sofrem, que perderam as suas vidas, que sofrem diariamente por terem medo, por se calarem e assim acabam acontecendo as repetidas violências. Essa luta não é somente minha, é nossa, e a justiça vai ser feita pra mostrar a essas pessoas que elas devem sim nos respeitar", disse.