Causando feridas na pele e em mucosas, como nariz e boca, os casos confirmados de Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) estão em crescimento no Ceará. Entre 2018 e 2021, por exemplo, houve aumento de 82,4% de pessoas contaminadas. Apesar do registro ser menor do que em anos anteriores, o movimento alerta para evitar deformações.
Para ter uma melhor dimensão da doença, que cresce anualmente há pelo menos 4 anos, em 2018 foram registrados 381 casos. Já em 2021, 695 pacientes receberam o diagnóstico da doença. Entre janeiro e junho deste ano, foram 244 casos de LTA, como registra a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
A LTA causa lesões na pele e, quando mais grave, nas mucosas do nariz e boa - diferente da leishmaniose visceral, popularmente chamada de calazar, que afeta órgãos como fígado e até a medula óssea.
A série histórica elaborada para o boletim epidemiológico sobre a doença mostra que o ano com maior registro da doença, no período analisado, foi 2007 com 1.162 casos. Os números foram oscilando até cair para a menor notificação em 2018, quando passou a subir.
O dermatologista Guilherme Holanda explica que ainda não existe uma resposta específica para esse novo aumento de casos. O alerta, no entanto, acontece para o diagnóstico da doença.
“A infecção pode variar desde um paciente sem sintomas ou com sintomas muito pouco aparentes; ou, como acontece na maioria dos pacientes que apresentam susceptibilidade imunológica, apresentar um leque espectral de manifestações clínicas”, detalha.
Sintomas da LTA:
- Entre duas e três semanas após a picada, como informa o Ministério da Saúde, aparece uma pequena elevação da pele avermelhada.
- Essa lesão aumenta até formar uma ferida recoberta por crosta ou secreção purulenta.
- A doença também pode se manifestar como lesões inflamatórias nas mucosas do nariz ou da boca.
Mas como acontece a transmissão da doença? A doença é causada por parasitas do gênero Leishmania e a transmissão acontece pela picada dos flebotomíneos, que são mosquitos amarelados ou acinzentados, conhecidos como mosquito palha.
“A transmissão da LTA ocorre por meio da picada de fêmeas de flebotomíneos infectadas. Não há transmissão de pessoa a pessoa. Na grande maioria dos casos, mais de 90%, a doença se manifesta através de uma úlcera na pele de contornos circulares, borda infiltrada, saliente e fundo avermelhado”, acrescenta.
Como a doença afeta os municípios
Na análise do período entre 2007 e 2021, a região Norte concentra os casos confirmados: 79,26% dos pacientes são residentes de lá. O boletim pondera que o maior percentual de casos confirmados por critério laboratorial está relacionado com uma boa capacidade de vigilância.
Os pacientes, na maioria, são da faixa etária de 20 a 34 anos. Os homens também concentram as pessoas infectadas pela doença, conforme análise registrada no boletim. Foram 5.918 homens e 5.153 mulheres.
Além disso, as pessoas mais acometidas possuem baixo nível de escolaridade com ensino fundamental incompleto (40%), são identificados como pardos (75%) e moradores da zona rural (64%).
A LTA é uma infecção por protozoário de mamíferos silvestres, como explica Guilherme Holanda, por isso os moradores ou viajantes em áreas rurais estão mais vulneráveis. Os profissionais como agricultores, por exemplo, podem ser mais atingidos.
“A pessoa adquire a infecção ao entrar em contato com as áreas florestais onde é comum a infecção desse protozoário nesses animais silvestres”, explica.
Como prevenir a leishmaniose?
Sem a existência de uma vacina contra a leishmaniose, a prevenção envolve o distanciamento de áreas de risco, uso de roupas adequadas e de repelentes, como orienta Guilherme. O mosquito costuma agir, principalmente, à noite.
“Em relação ao domicílio, evitar construir casas e acampamentos em áreas próximas à mata, utilizar telas de proteção nas janelas e mosquiteiros”, frisa.
- Manter sempre limpas as áreas próximas às residências e os abrigos de animais domésticos
- Realizar podas periódicas nas árvores para que não se criem os ambientes sombreados; além de não acumular lixo orgânico
- Evitar a presença de mamíferos comensais próximos às residências, como marsupiais e roedores, que são prováveis fontes de infecção para os flebotomíneos.
Além disso, uma estratégia de saúde abrange o combate aos mosquitos em áreas mais afetadas. “No âmbito coletivo, podem ser realizadas ações de controle químico do vetor realizadas pelas autoridades de saúde”, conclui.