Ser aprovada, de uma vez, em três das mais prestigiadas universidades do mundo. A conquista é, na verdade, um feito: e se estampa no currículo da estudante Vitória Nunes, de 18 anos, que sairá das salas de aula do Ceará para as de New Haven, nos Estados Unidos.
Em agosto, Vitória inicia a jornada de estudos na Universidade Yale, instituição com a qual sonhava e que pôde escolher cursar – já que, além desta, ela foi aceita para graduação com bolsa na Universidade da Pensilvânia (UPenn) e na Universidade Brown.
“Passei, na verdade, em 5 universidades dos EUA, neste ano, mas essas três tiveram um destaque maior, porque estão na Ivy League, que reúne as mais antigas e prestigiadas universidades dos EUA”, explica. “Mas meu sonho sempre foi a Yale.”
Além da bolsa integral, Vitória receberá uma ajuda de custo da própria instituição para se manter estudando na faculdade que “tem mais de 60 prêmios Nobel e já formou 5 presidentes dos EUA”, como ela se orgulha em contar.
Para mudar de país sozinha, porém, Vitória precisou de um exército. Criada na periferia do Rio de Janeiro, a menina atribui à família e aos educadores do Organização Educacional Farias Brito, em Fortaleza, onde se preparou, o alcance do objetivo.
“Meus dois irmãos são meus patrocinadores”, ri a estudante. “Toda vez que precisei comprar um teste, livros preparatórios, eles me ajudaram. E meus pais são incansáveis. Mesmo. Sem ajuda deles não teria conseguido”, conta a menina.
“E não daria pra chegar a isso sem a minha fé. Pra você perseguir um sonho tão grande, vindo de uma realidade como a minha… Nunca imaginei que seria possível chegar numa das melhores instituições de ensino do mundo”, encanta-se Vitória.
Do Rio ao Ceará
A carioca veio morar em solo cearense em 2022, após ter saído da Força Aérea Brasileira (FAB) – onde entrou com 14 anos – “para perseguir outros planos”.
“Lá tinha o treinamento pra ser piloto de caça, com 14 anos minha carreira estava decidida. Mas eu me achava muito nova pra limitar meus planos tão cedo. E decidi ir pra fora do Brasil e conseguir o melhor ensino que eu pudesse alcançar”, relembra.
Na lista de adolescentes aprovados no concurso da FAB, então, o nome dela saltou aos olhos da instituição cearense, que concedeu bolsa de estudos e toda a estrutura para a menina se mudar para Fortaleza e se preparar para voos mais altos.
Estudando no Ceará, as medalhas em olimpíadas científicas continuaram a deitar sobre o peito. “Aqui é um pólo olímpico muito grande”, define Vitória, lembrando de que a preparação para esses torneios no estado de origem dela “não era uma realidade muito comum”.
Entre as premiações que a estudante coleciona estão prata e bronze na Olimpíada Brasileira de Física, dois ouros na Olimpíada Brasileira de Astronomia e uma menção honrosa no Torneio Internacional de Jovens Físicos (IYPT, na sigla em inglês).
Eco de conhecimento
O desempenho acadêmico não foi o único trunfo para Vitória alcançar o objetivo de estudar no exterior, já que, como a estudante explica, “o processo de entrar numa faculdade americana é muito diferente da brasileira, não requer só notas das provas”.
Além das atividades extracurriculares, das medalhas e da história de vida da jovem, outra tarefa somou pontos importantes para a conquista da vaga: Vitória é presidente da ONG Ampulheta do Saber, que oferece aulas gratuitas de olimpíadas científicas a alunos sem acesso.
É uma ONG fundada por estudantes do FB. Eu sou a terceira presidente, lidero 66 voluntários de 12 departamentos, desde aulas pra olimpíadas de matemática, física, robótica e história. A gente leva o conhecimento olímpico, que não é acessível a alunos de escola pública.
O material é disponibilizado por meio de um site, de um canal no YouTube e de visitas a escolas. Por meio da ONG, Vitória já desenvolveu projetos para secretarias de Educação de outros estados, como Rio de Janeiro e São Paulo.
Agora, montando a bagagem para os EUA, ela projeta ir além das fórmulas da física: cursar graduação em áreas como Economia e Ciências Políticas.