Árvore ‘invasora’: nim indiano é comum em Fortaleza, mas retirada deve seguir plano ambiental

Planta popular pelo crescimento rápido e pela boa formação de sombras pode causar danos ao meio ambiente

O calor intenso dos últimos meses no Ceará traz um lembrete: é preciso arborizar as cidades. Com isso em mente, moradores do bairro Jóquei Clube, em Fortaleza, se surpreenderam com a derrubada de 9 árvores em um canteiro central – supressão autorizada pela Prefeitura.

As árvores da espécie “nim indiano” ficavam na Rua Professor Manoel Lourenço, em frente a um shopping da cidade, e formavam uma área de sombra utilizada diariamente por vendedores ambulantes de alimentos.

O nim indiano é uma árvore “exótica e invasora” e, por isso, não deve ser plantada em áreas urbanas, como explica Lamartine Oliveira, professor de silvicultura e assessor técnico em manejo da arborização da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Na arborização urbana, ela pode se dispersar além da zona onde foi plantada, chegando aos remanescentes florestais e às Unidades de Conservação. Nesses ambientes, elas dominam, causam alteração ecossistêmica e redução das espécies nativas”, explica.

“Outra particularidade é que as flores e pólens dessa espécie são tóxicos pra algumas abelhas: não matam, mas enfraquecem a colmeia. Ambientalmente falando, o nim indiano não é bom pra nossa região”, completa o professor.

Em nota, a Secretaria Municipal da Gestão Regional (Seger) reforçou que “a planta é uma espécie invasora que pode causar danos para a fauna e flora locais” e garantiu que 18 árvores nativas adultas serão transplantadas ao mesmo local pelo shopping, “para compensar a retirada”.

“Vale ressaltar que a Prefeitura de Fortaleza mantém um Plano de Arborização em andamento. De 2021 até outubro deste ano, já foram mais de 185 mil mudas, entre pequenas, semi adultas e adultas”, complementa a Pasta.

Retirada deve seguir critérios

Outros impactos urbanos que o nim indiano pode causar, devido ao crescimento acelerado, são os danos a calçadas e caixas hidrossanitárias, já que as raízes extrapolam e rompem as estruturas; e a fiações, sinais e placas de trânsito, como observa Lamartine.

Apesar disso, apenas remover as árvores não é o ideal. O especialista reconhece que “invasão biológica é um problema real e tem que ser combatido”, mas explica que isso deve ser “muito bem planejado e executado por equipe técnica especializada”.

Mesmo no meio urbano, um nim indiano já bem estabelecido traz alguns benefícios: é barreira contra ventos, ruídos e luz, controla a temperatura e umidade do ar, intercepta água das chuvas, armazena carbono, proporciona sombra, aumenta a permeabilidade do solo, torna o ambiente mais bonito e evita risco de erosão e alagamento.
Lamartine Oliveira
Professor da UFC e assessor técnico em manejo da arborização
 

A técnica a ser empregada para evitar os danos da espécie, então, deve ser a “substituição paulatina”, que consiste em “avaliar os espaços em que foram plantados e verificar a possibilidade de plantar uma espécie nativa, como o ‘pau branco’, entre um nim indiano e outro”. 

“No momento em que plantar, reduzo a copa do nim para favorecer o ‘pau branco’. Só dois ou três anos depois é que faço a remoção do nim indiano, e ainda compensando com duas outras novas mudas”, destaca Lamartine.

Mas por que o nim indiano é tão popular?

O assessor técnico em manejo de arborização da UFC pontua que “é muito comum as pessoas buscarem, independentemente se a espécie é nativa ou exótica, uma árvore que cresça rápido e forme boa sombra”. 

“O nim indiano entrou no Ceará justamente por esse potencial de crescer mais rápido que a maioria das espécies nativas”, lembra Lamartine, alertando que é preciso priorizar o plantio de mudas nativas.

O Manual de Arborização de Fortaleza, publicado em 2020, reconhece que “é bem comum encontrarmos essas espécies (invasoras) em Fortaleza, que possui um representativo número de exóticas na sua arborização, sendo as plantas nativas do Ceará bem menos cultivadas”.

“Espécies como o juazeiro, a carnaúba, o cajueiro, a pitombeira e tantas outras plantas marcantes da nossa flora nativa ficarão virtualmente desconhecidas pela população, caso não haja um cultivo mais intenso dessas plantas”, complementa o Manual.

Outro documento que discorre sobre a importância do plantio de árvores nativas nas cidades é o Programa Estadual de Valorização das Espécies Vegetais Nativas, instituído em maio de 2016 pela Lei Estadual nº 16.002.

O texto prevê como uma das estratégias para isso “potencializar o índice de arborização com espécies nativas e a substituição gradativa de espécies exóticas invasoras por nativas nas áreas públicas e privadas no Estado”.