A Igreja Católica no Ceará pode passar por grande mudança em breve. Com o aniversário de 75 anos do atual arcebispo, Dom José Antonio Aparecido Tosi Marques, em 13 de maio deste ano, o religioso deve apresentar ao Papa uma carta de renúncia ao cargo.
O Diário do Nordeste solicitou à Arquidiocese de Fortaleza uma entrevista com o arcebispo para comentar sobre os feitos nos 24 anos de cargo e sobre as perspectivas para o período pós-renúncia. Ele não tinha agenda disponível nessa quinta-feira (16).
De acordo com o Código de Direito Canónico, reforçado em carta do Papa Francisco de fevereiro de 2018, quando bispos completam 75 anos “são convidados a apresentar a renúncia ao seu cargo pastoral”.
A renúncia deve ser aceita pelo Papa para ter validade. Segundo o pontífice, é preciso “aprender a despedir-se”, já que “a conclusão de um cargo eclesial deve ser considerada parte integrante do próprio serviço”.
Quem se prepara para apresentar a renúncia precisa de se preparar adequadamente diante de Deus, despojando-se dos desejos de poder e da pretensão de ser indispensável. Isto permitirá que atravesse com paz e confiança esse momento.
O arcebispo de Fortaleza, então, deve apresentar a resignação ao líder da Igreja Católica a partir de maio, mas, caso o Papa determine, Dom José Antonio pode permanecer à frente da arquidiocese.
Entre os motivos que podem ser considerados pelo Papa Francisco para prorrogar a permanência do bispo no cargo estão:
- a importância de completar adequadamente um projeto muito profícuo para a Igreja;
- a conveniência de garantir a continuidade de obras importantes;
- algumas dificuldades relacionadas com a composição do Dicastério num período de transição;
- a importância da contribuição que essa pessoa pode dar à aplicação de diretrizes recentemente emitidas pela Santa Sé ou ao recebimento de novas orientações magisteriais.
Como é escolhido o novo arcebispo
A escolha do sucessor de um arcebispo tem “todo um processo a ser observado”, incluindo consulta de possíveis candidatos e indicação de 3 nomes, como explica o padre Antônio Carlos do Nascimento, Vigário Judicial e presidente do Tribunal Eclesiástico do Ceará.
“O Papa pode acatar um dos nomes indicados ou aceitar a renúncia de imediato. Neste caso, a arquidiocese fica vacante e o Colégio de Consultores deve se reunir em até 8 dias para indicar um administrador diocesano para ficar no governo da Arquidiocese”, pontua.
Sobre o que se espera do futuro novo arcebispo de Fortaleza, padre Antônio Carlos resume: “que ele dê continuidade aos trabalhos pastorais e administrativos já realizados por Dom José Antônio”.
O perfil de um bispo, nas palavras do Papa Francisco, é aquele pastor com cheiro de ovelhas, que caminha ao lado do povo, de maneira especial, dos mais pobres e necessitados. Deve ser humilde, hospitaleiro, servidor, guardião, mestre e educador da fé do povo que lhe é confiado.
Em Fortaleza, a comunidade católica ventila possíveis nomes de perfil mais conservador para o cargo. O vigário afirma, porém, que “não há sucessor em vista”, uma vez que “a escolha é obra do Espírito Santo”.
“Há nomes que podem ser indicados, tanto pelos bispos do regional como também pelo Colégio de Consultores. Falam muito de bispo conservador. Todos são, porque conservam o depósito da fé”, frisa o padre.
Quem é Dom José Antonio
Dom José Antonio Aparecido Tosi Marques foi nomeado como Arcebispo de Fortaleza pelo Papa João Paulo II no dia 13 de janeiro de 1999, e tomou posse do cargo em março do mesmo ano – há quase 24 anos.
Nascido em Jaú, município de São Paulo, em 13 de maio de 1948, Dom José Antonio assumiu a função de Bispo Auxiliar na Arquidiocese de São Salvador da Bahia em 1991, e permaneceu como Vigário Geral até a vinda a Fortaleza, em 1999.
paróquias foram criadas pelo arcebispo entre 1999 e 2019, em Fortaleza e na Região Metropolitana, conforme publicação oficial da Arquidiocese.
Entre os feitos de Dom José Antonio, estão a doação de uma casa da Arquidiocese para servir de apoio a pessoas em situação de rua, sob orientação da Pastoral do Povo da Rua; e a criação da Faculdade Católica de Fortaleza, em agosto de 2009.
A Arquidiocese de Fortaleza abrange e é constituída não apenas pela capital cearense, mas por outros 30 municípios:
- Acarape
- Aquiraz
- Aracoiaba
- Aratuba
- Barreira
- Baturité
- Beberibe
- Canindé
- Caridade
- Cascavel
- Caucaia
- Chorozinho
- Eusébio
- Guaiúba
- Guaramiranga
- Horizonte
- Itaitinga
- Maracanaú
- Maranguape
- Morada Nova
- Mulungu
- Ocara
- Pacajus
- Pacatuba
- Pacoti
- Palmácia
- Paramoti
- Pindoretama
- Redenção
- São Gonçalo do Amarante
Nestes locais, estão distribuídas as regiões e paróquias e áreas pastorais.
Para o padre Antônio Carlos, “Dom José deixa um grande legado espiritual”. Algumas ações do arcebispo citadas pelo religioso são:
- Criação da Caminhada com Maria e da Caminhada Penitencial;
- Promoção das vocações, com um grande número de padres ordenados;
- Criação do Fundo de Sustentação do Clero, para amparar sobretudo os padres idosos e doentes;
- Criação da escola diaconal, onde há um bom grupo de diáconos permanentes;
- Criação do Centro de Pastoral Maria Mãe de Deus.
“E muitas outras ações administrativas que ajudaram na caminhada da evangelização”, conclui o vigário.
O que um arcebispo faz
Um arcebispo é o membro da Igreja Católica que tem a autoridade para tomar decisões administrativas e referentes às pastorais. Como líder da Arquidiocese, ele tem, entre outras funções, a de nomear párocos, instituir novos eventos reliogosos, criar novas paróquias e equipamentos ligados à igreja local.