O segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2023 trouxe questões com problemas cotidianos para os candidatos. A avaliação é de professores ouvidos pelo Diário do Nordeste neste domingo (12), após o início do Exame.
Sabrina Bileski, coordenadora de Avaliações no SAS Educação, aponta que principalmente a prova de Ciências da Natureza trouxe questões cotidianas. “Tinham assuntos interessantes relacionados à rotina cotidiana, então aproxima o assunto ciências da natureza com o dia-a-dia do aluno, o que é maravilhoso, porque dá significado para o aprendizado”, aponta.
Ela destaca ainda questões sobre a vacina da Covid-19. “Na prova anterior também caiu uma questão sobre vacina e, diante do movimento ‘anti-vax’, a gente falar tanto sobre vacina é um posicionamento importante”, ressalta.
Para Pedro Lopes, editor de Avaliações no SAS Educação, a questão sobre a vacina também foi destaque.
“Era uma questão sobre a vacina da Covid envolvendo RNA-Mensageiro, era um texto jornalístico e focava nesse aspecto. Tinha também uma questão com texto jornalístico sobre síndrome de Down, falava do caso de uma mulher com síndrome de Down que engravidou e trazia uma situação-problema nesse sentido. Também tinha uma questão sobre o ‘agro’, e tinha uma questão sobre inseticida agrícola”, destaca.
“Em Ciências da Natureza, me chamou a atenção uma questão que era uma tirinha do Cebolinha com o Cascão usando aqueles telefones de lata improvisado com barbante, era uma questão de física sobre ondas sonoras e pedia para o aluno indicar quais características das ondas sonoras eram reduzidas à medida que o barbante aumentava”
“Em Matemática, tinha uma questão que era com imagem também, uma imagem escala de cinza, que era de uma cisterna e tinha uma tabela de horário ao longo do dia e como o nível de água aumentava ao longo do dia. A questão pedia para o estudante calcular a vazão em metros cúbicos”, acrescenta.
“Também em Matemática tinha uma questão que era com imagem também, mas de cadeiras de cinema. Tinha uma rosa dos ventos, então era basicamente para o estudante localizar, não precisava fazer cálculos, era só orientação espacial ali”, afirma.
Prova mais fácil
Caê Lavor, diretor de Ensino Médio e Avaliações do SAS Plataforma de Educação, destaca ainda que, na prova de Matemática, “caiu uma questão que falava sobre a luz atravessando um corpo de água”.
“Dizia que a cada metro, aproximadamente, a luminosidade diminui em dois terços. Então perguntava, na questão, qual seria a luminosidade em relação à luminosidade na superfície após seis metros”, afirma.
Para Lavor, as provas deste ano foram mais fáceis que as aplicadas em anos anteriores. "Foi uma prova que caiu menos coisas técnicas e mais questões que tinham contextos com aplicação no cotidiano dos alunos ou com assuntos já bem relevantes e recorrentes nas aulas", ressalta.
O diretor também destaca ausências na prova. "Um tema que ficou de fora na prova de química foi eletroquímica, que era um assunto bem tradicional, costuma cair todo ano na prova até duas ou mais questões, mas neste ano não apareceu", diz.
"Não teve questão abordando diretamente o desmatamento, caiu mais como contexto para uma outra discussão que é aquela da extinção das abelhas, em que um dos grandes motivos da extinção das abelhas é justamente a falta de regiões onde elas possam produzir suas colmeias, tanto que uma das ações possíveis para reverter esse quadro é justamente o replantio de árvores nativas que serviriam como locais ou habitat possível para que elas possam se reproduzir e desenvolver suas colmeias novamente", conclui.
"Foi uma prova com muitas questões conceituais em que o aluno teria que analisar a aplicabilidade da Física em problemas do dia a dia e em problemas envolvendo tecnologia. Teve esse cunho de aplicações. Algumas questões que envolveram um pouquinho de conta, foram contas razoavelmente simples, não foram tão complicadas assim. Foi uma prova que, se o aluno deu uma passeada boa pelos conteúdos durante o ano, acredito que ele tenha gostado bastante. Com relação aos conteúdos, teve uma boa abordagem na parte de ondulatória, de termologia e de mecânica"
Igor Torres, professor da Organização Educacional Farias Brito, avalia que a prova de Ciências da Natureza "manteve o seu padrão".
"Os textos ficaram mais curtos e a prova ficou muito bem distribuída em termos de assuntos em todos os âmbitos da Ciência da Natureza, tanto na Física e Química quanto na Biologia. Um assunto que brilhou muito na prova de Química foi bioacumulação. Falou-se muito sobre soluções e aplicação de detergente (...) Foi citado também a questão de isomeria óptica, ligações químicas, principalmente a ação da ligação iônica, foi discutido sobre a ação da gasolina.(...) radiação, estequiometria, usina nuclear e reações orgânicas, sempre com conteúdos aplicados ao meio ambiente e à visão do ecossistema e à vida moderna humana", conclui.
Já sobre a prova de Biologia, o professor Marcelo Henrique, da Organização Educacional Farias Brito, classificou o nível de dificuldade como "médio, adequado e bem balanceado".
"Foram abordadas questões de ecologia, ciclo de nitrogênio, respiração celular, tivemos sobre a vacina da Covid, abordando biotecnologia, tivemos fisiologia, abordando sobre ciclo menstrual e ciclo hormonal e tivemos três questões de botânica", diz.
"Este ano, a prova diminuiu a quantidade de questões cansativas, com tabelas enormes e análises de casos, e optou por questões mais objetivas, com análises de gráficos. Muitos gráficos diferentes prezavam a atenção do aluno para uma análise bem assertiva. Três coisas me chamaram a atenção: logaritmos (...) sequências, além de cair questões de progressão geométrica e aritmética, também apareceu uma questão sobre o PA de segunda ordem, que era simples, mas não é usual cair nessa prova, e, por último, geometria plana"
Ausências
Diogo D’Ippolito, professor e autor do Colégio e Sistema pH, avalia o nível de dificuldade como “médio”. Segundo ele, tanto em Natureza quando em Matemática, questões clássicas da prova não apareceram desta vez.
“Em matemática, tivemos um nível um pouquinho mais baixo em relação ao ano passado, mas nada muito discrepante. Foi muito exigido dos candidatos a análise de gráficos, tabelas, matemática básica, operações elementares, razões e proporções. Ficaram de fora e eram comuns questões sobre prisma, projeções ortogonais e planificação de sólidos”, aponta.
“Em relação à Física, a prova veio mais fácil do que normalmente é, o que é muito bom, porque a prova de física geralmente vem muito difícil. É mais adequado esse formato, pensando no dia 2 do Enem, que é extremamente desafiador”, ressalta.
“A prova também veio concentrada em poucos assuntos. Não teve energia, óptica, impulso, hidrostática, que são assuntos extremamente comuns na prova de Física todos os anos. Em relação à Biologia, a gente tem uma prova que veio conteudista, mas isso não surpreende, a prova de Biologia geralmente é conteudista, e a gente também teve uma pouca variedade de temas, ficou muito concentrada em citologia, ecologia, fisiologia animal, botânica”.
“Em relação à Química, alguns temas também mais comuns não apareceram, como separação de mistura, forças intermoleculares, termoquímica, eletroquímica, são temas que são muito comuns no Enem, não apareceram nesta edição. Já alguns temas clássicos apareceram, como reações químicas, cadeias carbônicas e estequiometria, foram bem comuns também na prova deste ano”, conclui.
Prova colorida
Ainda na análise das provas, Sabrina Bileski, coordenadora de Avaliações no SAS Educação, questionou sobre a inovação deste ano do Enem: algumas imagens da prova apareceram coloridas.
“Não ficou clara a questão da cor, a intencionalidade pedagógica por trás do uso da cor neste segundo dia. No primeiro dia, a gente ficou com algumas dúvidas, porque três imagens estavam em preto e branco, mas algumas imagens coloridas ajudaram na resolução das questões. Agora, hoje realmente não ficou claro qual era o critério, acho que algum uso talvez tenha ajudado, mas me parece que ficamos no meio do caminho, ou faz tudo ou não faz"