Medalha de ouro aos 14 anos, aluno de Fortaleza tem afinidade com fórmulas e questões científicas

Daniel cursa o 9º ano do Ensino Fundamental na Escola de Tempo Integral Prisco Bezerra e fica na unidade das 7h20 às 17h todos os dias

Escrito por Thatiany Nascimento , thatiany.nascimento@svm.com.br
Daniel Barros Lopes
Legenda: Daniel Barros Lopes, morador do Conjunto Ceará saiu da rede particular e migrou para a pública.
Foto: Fabiane de Paula

O avô materno que todos os dias deixa o estudante Daniel Barros Lopes, de 14 anos, na escola, em Fortaleza, não teve a oportunidade de “concluir os estudos”. A mãe de Daniel, conseguiu “o feito” já adulta - com mais de 40 anos finalizou um curso técnico superior. Daniel, morador do Conjunto Ceará e estudante da rede pública municipal tem tido chances diferentes. Da família recebe inúmeros incentivos.

Estímulos revertidos em conquistas que, aos poucos, comprovam que a educação é motor de melhoria no percurso. Aos 14 anos, Daniel cursa o 9º ano do Ensino Fundamental e fica na escola das 7h20 às 17h. A unidade, ETI Prisco Bezerra, é de tempo integral. Em 2021, o estudante saiu da rede particular e migrou para a pública. 

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No primeiro ano na nova escola Daniel alcançou uma marca positiva e representativa: foi medalha de ouro na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA). “Eu já tinha participado da OBA no antigo colégio, só que eu não me saí bem. Mas agora tomei gosto de participar”, explica. 

Esta matéria integra a série “Terra de Sabidos", publicada pelo Diário do Nordeste com patrocínio da Assembleia Legislativa do Ceará e cujo foco é contar histórias de estudantes da rede pública estadual do Ceará  e da rede municipal de Fortaleza, que, via educação, tiveram as trajetórias alteradas, conquistado oportunidades, e reconhecimentos local, estadual e nacional

Experiência da Olimpíada

A prova envolve algumas das matérias preferidas de Daniel. Ciências, matemática e geografia compõem a lista dos maiores interesses e afinidades entre as disciplinas. Gostar de “estudar os seres, saber como funciona o corpo”, “acompanhar curiosidades científicas” e “aplicar fórmulas” são marcas da jornada do estudante. 

“Quando eu fui fazer a prova eu senti uma certa facilidade. Ao meu ver, eu estava entendendo o que estava pedindo lá. E quando fui ver o resultado, eu realmente tirei nota boa”, relata sobre a realização da OBA. O anúncio do bom desempenho, conta ele, veio primeiro pelo Instagram da escola. 

Daniel Barros Lopes
Foto: Fabiane de Paula

Como ele e outro aluno tiveram bom resultado, foram convidados a tentar uma seletiva para fazer parte da Equipe Brasileira para disputar olimpíadas internacionais de Astronomia. O processo tem acontecido e até o fim deste mês terá a última prova da seletiva. 

As competições escolares, embora muitas vezes sejam vistas com certa tensão entre os estudantes ou mesmo falta de confiança no próprio desenvolvimento, são experiências que revelam competências e habilidades.

Sobre esses processos, Daniel destaca: "acho que é importante porque quando a escola anunciou a primeira prova da OBA, eu entrei sem esperar nada. Não tinha noção do que podia cair. E me surpreendi com o conhecimento”. 

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A escola, para ele, tem sido o lugar de relações sociais. “Até porque é tempo integral e a gente vai socializando. Me desenvolvo mais com as pessoas. Na minha antiga escola eu não era tão bom nisso”. 

Incentivos em casa

Em casa, Daniel sabe que a mensagem é de que “a educação é importante. Fundamental. Estruturante”. A afirmativa é consenso e os familiares trabalham para isso.

A mãe de Daniel, auxiliar de cozinha, Meire Barros da Silva, destaca: “Nós lá em casa fazemos de tudo para que eles (Daniel e a irmã) tenham chance. Estamos direto incentivando, buscando. É uma cultura nossa, não medir esforços para que eles cresçam através do estudo e mudar a realidade”. 

Daniel Barros Lopes
Foto: Fabiane de Paula

Meire  relata que, embora o pai não tenha concluído a educação formal, ele sempre incentivou bastante a continuidade dos estudos, “sempre teve essa visão, nos incentivou a buscar”. 

Na mudança de escola, Meire indica que ficou apreensiva, mas os filhos foram “muito bem acolhidos na escola”, na qual “os professores têm uma parceria grande com as famílias”. Sobre o desempenho na OBA, ela ressalta: "tenho muita alegria no meu coração e sei que meu pai está mais ainda”. 

Em 2023, Daniel deve mudar de escola, pois a atual tem até o 9º ano do Ensino Fundamental. A tentativa é ingressar no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) para cursar o Ensino Médio. 

Sobre o futuro, Daniel ainda não tem projeções específicas. Sabe das afinidades, encara as experiências, persiste na busca por entender o que lhe chama atenção e impulsiona sua formação.

Apesar dos obstáculos, o estudante da rede pública experimenta outras e novas chances. Aquelas que a própria família não teve. Mas também nunca abriu mão: educação é possibilidade concreta de mudar.