Prejuízos mais evidentes após 6 meses do fim da refinaria

Situação econômica de habitantes do mais promissor complexo industrial do Estado encontra-se comprometida seis meses depois de o maior projeto já vislumbrado para o Ceará, a usina Premium II, ser cancelada pela Petrobras

Escrito por Redação ,

Nos últimos anos, não faltaram ao Ceará exemplos de obras que sofreram atrasos e permanecem se arrastando sem gerar qualquer efeito para a população - desde a ampliação do Aeroporto Pinto Martins até a construção do Acquario Ceará e da Linha Leste do Metrô de Fortaleza. Mesmo neste cenário, a refinaria Premium II conseguiu se destacar por, sem nem mesmo sair do papel, modificar a vida de centenas de cearenses - e para pior.

>Comissão cobra justificativa para o fim do projeto no Ceará 

>Prosperidade deu lugar a incertezas para os habitantes 

Com a promessa de gerar 90 mil postos de trabalho e alavancar a economia do Ceará, a usina era a principal aposta para promover um avanço significativo no Estado em um curto período de tempo. Embora nenhuma máquina e nenhum trabalhador tenham chegado a iniciar a construção da usina no terreno onde o empreendimento era aguardado, bastaram a expectativa e a especulação em torno de benefícios exaustivamente anunciados para provocar mudanças em uma região que cresce de forma intensa e desordenada.

Agora, seis meses após a Petrobras anunciar o cancelamento da refinaria, a população do Ceará sente os efeitos da espera frustrada. No distrito de Pecém, em São Gonçalo do Amarante, especificamente, terrenos supervalorizados no entorno da aguardada refinaria caem drasticamente de preço. Lojas de equipamentos e materiais de segurança cujo espaço foi ampliado hoje voltam ao tamanho original.

Trabalhadores que desejavam participar da construção da usina já não conseguem pagar o preço elevado do aluguel no Pecém e se preparam para voltar às cidades que deixaram em busca de emprego.

Da mesma forma, o poder público tenta lidar com os prejuízos, sem previsão de quando receberá de volta o que foi investido para viabilizar a refinaria. Esse reembolso torna-se ainda mais distante ao se observar a situação da Petrobras, cujos contratos permanecem sob investigação e já resultaram na prisão de ex-diretores e executivos de alto escalão da estatal.

Busca por alternativas

Enquanto contabiliza as perdas, o Estado busca alternativas para que os investimentos não tenham sido em vão - mas, até agora, sem perspectivas mais concretas. Questionada sobre de que forma pretende atrair algum empreendimento semelhante à refinaria para o Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp), a Casa Civil limitou-se a afirmar, por nota, que o Estado "continua empreendendo esforços para trazer investidores que queiram aproveitar as facilidades da infraestrutura construída no Pecém".

O governo também não esclareceu como prevê recuperar, através de compensações da Petrobras, os valores aplicados nos últimos anos, os quais envolvem desde a criação da infraestrutura necessária no local à construção de uma reserva indígena para os moradores que tiveram de ser removidos do terreno. Segundo a Casa Civil, a reserva indígena já soma 85% de execução. A administração não informou, todavia, quando as famílias deverão ser de fato transferidas.

Enquanto as perdas ainda são contabilizadas e detalhes sobre o cancelamento do projeto permanecem sendo exigidos à Petrobras, resta, em meio às incertezas, a constatação de que a Premium II está longe de ser um capítulo encerrado na história do Ceará.

João Moura
Repórter

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.