Cesta básica podia ser adquirida a R$ 60,55

Em julho de 1994, os 12 itens considerados básicos custavam mais de 93% do Mínimo. Hoje, o impacto é de 42%

Escrito por Redação ,
Legenda: Na época da hiperinflação, havia empregados nos supermercados que tinham a única função de remarcar os preços com as máquinas de mão
Foto: Foto: ITACI BATISTA

Durante os 22 anos de vigência do real, o preço da cesta básica de Fortaleza ficou seis vezes mais elevado, de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Em julho de 1994, o trabalhador desembolsava R$ 60,55 para comprar os 12 produtos considerados básicos para a alimentação, valor que saltou para R$ 375,13 em maio deste ano - um avanço de 519,53% ao longo de mais de duas décadas. Pode parecer contraditório, mas, mesmo com o grande avanço, a cesta ficou bem menos pesada para os consumidores da Capital cearense.

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Isso aconteceu porque o real conseguiu estabilizar a inflação e permitiu que o salário dos trabalhadores ficasse menos deteriorado, além de possibilitar uma evolução nos ganhos reais ao longo dos anos seguintes. Em julho de 1994, por exemplo, a cesta básica de Fortaleza custava R$ 60,55 para um salário mínimo de R$ 64,79, ou seja, o peso dos alimentos era de 93,45% sobre a renda do mês.

Hoje, como o Mínimo se encontra em R$ 880,00, o impacto da cesta da Capital cearense no salário é de cerca de 42,6%. "Os grandes prejudicados, na época pré-real, eram os mais pobres, que não tinham acesso aos bancos e andavam com dinheiro no bolso. Como a mudança de preços era muito rápida, aquele mesmo dinheiro ia perdendo valor aos poucos. Assim, mesmo a compra de uma cesta básica se tornava algo complicado", destaca o economista Alex Araújo.

Comércio clandestino

Fica difícil de acreditar nos dias atuais, mas, com a hiperinflação da década de 90, o acesso a simples itens como o leite e seus derivados, tal qual o iogurte, era bastante restrito, principalmente para os mais pobres. Pode parecer cômico, mas as pessoas chegavam a criar até um "mercado negro" de leite e fraudas, por exemplo, para conseguir adquirir mais unidades dos produtos ou pagar um valor mais barato.

"As pessoas tinham pouca variedade de produtos nas prateleiras, além de haver uma restrição de itens importados. Além disso, qualquer mercadoria eletrônica ou que tivesse componentes do tipo só era acessível para os mais ricos", pontua Araújo. "O carro de luxo era o Monza e não havia muitos outros modelos", completa. Na época, o litro da gasolina custava R$ 0,53, valor 652,8% abaixo da média de R$ 3,99 cobrada atualmente em Fortaleza.

Inflação superou 2.500%

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação de Fortaleza chegou a fechar um ano com alta de 2.506,89%, em 1993, período em que o índice nacional foi de 2.477,15%. De janeiro a junho de 1994, antes da chegada do real, a situação seguia caótica, com taxa acumulada de 743,47% na Capital cearense.

"Havia empregados nos supermercados que tinham a única função de remarcar o preços com as máquinas de mão, pois não existia código de barras. Era uma realidade difícil, que prendia muitas pessoas na linha de pobreza. Não havia mudança de classes", diz. Para o economista, o real foi a base da evolução que o País teve nos anos seguintes. "O simples fato de as pessoas conseguirem se programar no longo prazo foi um ganho significativo", conclui.

dsa

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