Limitação no rotativo deve frear 'bola de neve'

Medida é vista com bons olhos para reduzir tanto a inadimplência quanto o endividamento dos consumidores no País

Escrito por Yohanna Pinheiro - Repórter ,
Legenda: Especialistas avaliam o cartão de crédito como uma excelente ferramenta para quem sabe aproveitar os benefícios
Foto: Foto: Helene Santos

O limite de 30 dias da permanência do consumidor no rotativo do cartão de crédito, anunciado na última quinta-feira (26) pelo Banco Central (BC), é visto por especialistas como uma parte da solução para reduzir o nível de endividamento e da inadimplência da população brasileira. No entanto, como a medida ainda deve ser regulamentada, não se sabe ainda de que maneira será o impacto sobre os consumidores.

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Conforme a nova norma, após esse prazo, se a dívida não for quitada, as instituições financeiras deverão oferecer financiamento do saldo devedor com juros menores que os do rotativo, que fechou dezembro em 484,6% ao ano, eliminado a possibilidade de seguir pagando o valor mínimo da fatura. A prática acabava por ampliar ainda mais a dívida inicialmente contratada pelo consumidor.

De acordo com Juliana Inhasz, professora de Economia da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), a medida deve reduzir o nível de endividamento e de inadimplência da população brasileira, uma vez que acaba com um "mecanismo perverso" que faz as dívidas crescerem astronomicamente. "É uma forma de segurar a mão de todo mundo, do consumidor, que terá menos crédito, e do banco, que deverá cobrar juros mais baixos".

Conhecer as novas regras

A professora avalia, entretanto, que ainda é preciso que o Comitê de Política Monetária (Copom) informe detalhes de como essa medida será implementada, tais como prazos, taxas de juros e tarifas regulamentadas. "Não sabemos ainda quais são as regras do jogo, não sabemos quando, como de fato isso vai funcionar. As instituições financeiras mal se pronunciaram", pondera. Entre os efeitos possíveis de se adiantar, com o que foi divulgado até agora, Juliana aponta que a medida deverá segurar um pouco o consumo, por um lado, por reduzir o crédito de quem não está conseguindo manter as contas em dia. "Pela nova regra, se eu pago o mínimo e deixo cair no rotativo, no mês seguinte ou eu parcelo ou quito tudo. Vai acabar reduzindo o crédito porque a pessoa vai perceber que não consegue fazer um pagamento regular".

Mesmo reconhecendo o benefício da medida anunciada pelo BC, Reinaldo Domingos, presidente da Dsop Educação Financeira, alerta que a norma não deve ser vista como um incentivo para o pagamento mínimo da fatura, que recomenda nunca ser feito. "Estar endividado no cartão de crédito não é um problema desde que haja condições de honrar o pagamento mensal; do contrário, acaba-se entrando na inadimplência", aponta.

Uso com consciência

Segundo Domingos, quem chegou ao ponto de não conseguir arcar com as despesas do cartão precisa, imediatamente, "rever sua situação e se educar financeiramente para combater a verdadeira causa do problema. "O descontrole financeiro tem origem nos hábitos e comportamentos, portanto é preciso, em primeiro lugar, mudar as atitudes para sair desta situação. Não basta trocar uma dívida pela outra", afirma.

Ele avalia o cartão de crédito como uma excelente ferramenta para quem sabe aproveitar seus benefícios, como serviços de milhagens e prêmios, mas é preciso atenção. "Se não for utilizado com consciência, pode promover compras por impulso. É preciso responsabilidade na hora de consumir. É importante que as dívidas no cartão de crédito não ultrapassem 30% do salário".

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