Cooperativismo no CE: união que estimula o desenvolvimento

Elas funcionam tal como uma empresa comum, mas em vez de um dono, toda uma comunidade é proprietária do negócio, que utiliza meios democráticos de controle. E não é o lucro o seu principal objetivo, mas a prestação dos serviços à sociedade

Escrito por Yohanna Pinheiro / Raone Saraiva - Repórteres ,

Ainda que as cooperativas façam parte do cotidiano da população, poucos têm noção da representatividade desse modelo para a economia cearense. São mais de 37 mil cooperados em 156 cooperativas no Estado, que geram 4,5 mil empregos diretos. Os dados, relativos a 2016, são os mais recentes do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Ceará (Sescoop-CE), ligado à Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB).

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Prova de que "a união faz a força", a cooperativa é uma associação de pelo menos 20 pessoas com o mesmo objetivo - satisfazer necessidades econômicas, sociais ou culturais - por meio de uma empresa de propriedade conjunta e democraticamente controlada. Cada sócio entra com um valor para o desenvolvimento da cooperativa, que forma o capital social do empreendimento e, após a aplicação dos recursos, as sobras são divididas entre todos.

Em outras palavras, a cooperativa funciona como uma empresa que, em vez de ter somente um proprietário, tem vários (dezenas, centenas, milhares - não há limite definido, a depender da associação).

Todos os sócios são considerados donos do negócio e têm igual poder de voto nas tomadas de decisão. Existe uma regulamentação bem definida para a prática, como a eleição de um conselho administrativo e fiscal por períodos pré-determinados. No Ceará, essa modalidade se desenvolveu principalmente pela iniciativa de médicos e profissionais de saúde que enfrentavam dificuldades para atuar no mercado de trabalho local. Eles se uniram e, seguindo os moldes de iniciativa semelhante em outros estados, criaram a Unimed Fortaleza, hoje a maior cooperativa de médicos do Norte/Nordeste e uma das maiores empresas do Estado. De acordo com João Nicédio Alves Nogueira, presidente do Sistema OCB-Sescoop/CE, o modelo tem se fortalecido no Ceará, sendo os ramos de Saúde, Crédito, Agropecuário e Trabalho os mais significativos. "O principal retorno para a sociedade é a possibilidade de inclusão de profissionais e produtores que, sozinhos, não conseguiriam se inserir com sucesso no mercado de trabalho", aponta.

11% do PIB nacional

Conforme dados da OCB, as cooperativas representam aproximadamente 11% do Produto Interno Brasileiro (PIB). Já dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) dão conta que, em 2015, 222 cooperativas brasileiras realizaram exportações diretas. No total, os negócios foram realizados com 148 países e foram responsáveis pela movimentação de US$ 5,3 bilhões.

De acordo com Nogueira, 55% do PIB agrícola do Paraná corresponde à atividade de cooperativas do setor. Ele estima que, no Ceará, 6% a 8% do PIB estadual seja proveniente do cooperativismo, mas pondera ainda ser difícil fazer essa estimativa por ainda não haver uma maior organização desses números. "Ainda temos uma dificuldade muito grande em levantar essas informações. É um processo", explica o presidente.

Outro problema a ser superado, segundo o presidente, é conscientização dos próprios cooperados dos valores do modelo. "Ainda temos que trabalhar muito a cultura da cooperação. Somos muito individualistas", lamenta Nogueira, destacando a baixa participação de sócios nas assembleias. "Mesmo em uma reunião de condomínio para tratar do maior bem que temos, que é a casa em que vivemos, ainda são poucos os que participam".

História

Com origem na era da Revolução Industrial, o cooperativismo surgiu como uma alternativa para trabalhadores que enfrentavam o aumento do desemprego e baixos salários nas empresas europeias do século XVIII. Sem conseguir comprar o básico para sobreviver, um grupo se uniu para comprar produtos em maior quantidade e montar um armazém próprio, conseguindo preços melhores, e distribuindo-os igualitariamente entre seus membros.

Desde então, o modelo ganhou adeptos de vários ramos com objetivos distintos. No Brasil, a primeira cooperativa de crédito foi criada em 1902, no interior do Rio Grande do Sul, por produtores rurais e imigrantes que buscavam financiamentos para iniciar plantações e não tinham acesso a bancos na região. A instituição, hoje chamada Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi), ainda existe e atua em 20 estados brasileiros.

Foram marcos importantes para o setor no Brasil a criação, em 1971, da legislação regulamentando as sociedades cooperativas e, na Constituição de 1988, a proibição da interferência do Estado sobre elas. O desafio agora, aponta Nogueira, é fazer com que a sociedade tenha conhecimento desse modelo e que ele seja reconhecido por sua competitividade, integridade e capacidade de promover a felicidade dos cooperados.

Inclusão

"(O cooperativismo dá) a possibilidade de inclusão a profissionais que, sozinhos, não se inseririam no mercado"

João Nicédio Alves Nogueira
Presidente do Sistema OCB-Sescoop/CE

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