Com limitações, Fortaleza tem último dia de campanha morno

No último dia permitido pela lei para pedir votos, a maioria dos candidatos optou por eventos pouco movimentados, “lives” nas redes sociais ou agenda interna. Campanha morna é reflexo não só da pandemia, avaliam analistas

Escrito por Flávio Rovere , flavio.rovere@svm.com.br
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Legenda: Na Praça Portugal, na Aldeota, nada de pessoas ontem: apenas bandeiras de candidatos
Foto: Fabiane de Paula

A campanha dos prefeituráveis de Fortaleza seguiu, no último dia, um roteiro já esperado. Se, em anos anteriores, a reta final antes do pleito costumava ser marcada por carreatas, comícios e caminhadas que pudessem demonstrar adesão popular e tentar formar as chamadas “ondas”, a nova realidade trazida pela pandemia de Covid-19 tornou o sábado pré-eleição extraordinariamente morno, como boa parte da campanha. Os candidatos, em maioria, optaram por eventos pouco movimentados, pronunciamentos virtuais ou agenda interna. 

Heitor Férrer (Solidariedade) e Célio Studart (PV) escolheram se comunicar com os eleitores por meio de “lives” nas redes sociais. Também com transmissão ao vivo, Capitão Wagner (Pros) se reuniu com lideranças evangélicas e em seguida cumpriu agenda externa. Percorreu as ruas do Pirambu e de outros bairros cumprimentando eleitores na caçamba de uma caminhonete. Dessa vez, sem a presença de outros veículos, como vinha fazendo no início da campanha, em carreatas que acabaram proibidas pela Justiça Eleitoral em todo o Estado. 

Paula Colares (UP) visitou apoiadores no Planalto Ayrton Senna e Samuel Braga (Patriota) cumpriu agenda, no sábado (14), no Conselho Regional de Administração. 

Quatro candidatos escolheram o Centro como cenário para o último contato direto com o fortalezense. José Sarto (PDT), Luizianne Lins (PT), Renato Roseno (Psol) e Anízio Melo (PCdoB) caminharam por ruas, praças e pontos tradicionais do bairro, fizeram panfletagem e conversaram com eleitores. Ao lado de apoiadores, o candidato do PDT fez a tradicional parada para cliques comendo pastel. Já Luizianne Lins, ao fim da caminhada, fez uma “live” na Praça do Passeio Público. Roseno encerrou a agenda com uma plenária na sede do Psol e Anízio foi ao Conjunto Ceará conversar com apoiadores. Heitor Freire (PSL) foi o único candidato que não realizou atos de campanha no sábado. Ele teve apenas agenda interna.

Avaliação

O comparecimento às urnas neste domingo vai dar números a uma campanha que parece não ter engrenado. Os motivos não são decorrentes apenas da pandemia, na avaliação do cientista político e professor universitário Cleyton Monte. “Se você circular pela cidade, vai ver poucos adesivos, poucos espaços e pouca gente ostentando seus candidatos. Não atribuo isso tão somente à pandemia. É uma série de fatores, são os mesmos candidatos se apresentando, você tem uma crise política, um certo desgaste”, afirma. 

Cleyton Monte também aponta a importância da internet em um ano eleitoral com características sem precedentes. “A campanha majoritária em Fortaleza se destacou no Brasil entre as que mais investiram em impulsionamento nas redes sociais. A ideia de que a gente não ter campanha de rua iria baratear as campanhas, isso não existiu. O dinheiro que os candidatos investiriam nas campanhas de rua, investiram maciçamente nas redes sociais”, afirma ele, que é pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem), da Universidade Federal do Ceará (UFC). 

Apesar da importância amplificada da internet, para o cientista político, estas eleições ratificam o valor da propaganda no rádio e na TV. “Basta a gente ver o posicionamento dos três principais candidatos. Por que o Sarto subiu tanto? Por causa do horário político no rádio e na TV. O Capitão Wagner conseguiu se manter porque tinha tempo de rádio e TV para responder às ofensivas. Luizianne também. Essa campanha demonstra que o horário político eleitoral é muito importante”, diz Cleyton Monte. 

Embates

Em meio às trocas de acusações e críticas pessoais que tomaram boa parte do debate, o também cientista político Emanuel Freitas, professor de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), acredita que as discussões sobre os problemas da cidade acabaram ficando em segundo plano. “A cidade começou a ser discutida muito superficialmente, e à medida que as candidaturas competitivas foram se estabelecendo, o debate se deslocou então para a questão das personas, das contradições das personas. Inclusive porque a disparidade entre os horários eleitorais não permite que alguns candidatos façam esse debate propositivo. Eu acredito que, mais uma vez, nós não vimos esse debate sobre a cidade, sobre os problemas da Educação do município, que se aprofundaram durante a pandemia, a questão dos postos de saúde, das cirurgias eletivas”, cita o pesquisador. 

Emanuel Freitas divide a campanha em dois momentos distintos: antes e depois da decisão do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), que, no último dia 4 de novembro, proibiu em todo o Estado quaisquer atos de campanha capazes de provocar aglomerações. A decisão levou ainda mais a disputa para o campo virtual. “Antes mesmo da proibição, houve um forte investimento nas redes sociais. Você consegue ver claramente, inclusive nas peças publicitárias de alguns candidatos, a própria linguagem que foi levada para a TV, foi uma linguagem, inclusive visual, própria das redes sociais”, analisa. 

Câmara

Com a exibição na televisão restrita às inserções concedidas aos partidos, os candidatos a vereador também precisaram trabalhar forte nas redes sociais. “O corpo a corpo acabou virando de WhatsApp a WhatsApp, o contato foi mais virtual. Acho que as ferramentas mais importantes hoje, nas eleições, são as redes sociais. Os desafios são driblar a falta de recursos, a falta de tempo, saber ter criatividade, se apresentar bem e ter uma boa comunicação”, disse um candidato que tenta pela primeira vez chegar à Câmara Municipal de Fortaleza. 

Outro candidato, este já com mandato no Legislativo Municipal, falou sobre a estratégia para fazer as propostas chegarem ao maior número possível de eleitores na busca pela reeleição. “O nosso comitê, na verdade, passou a ser a nossa própria casa, na comunicação direta com os eleitores. Procurei fazer isso permanentemente, elaborando quadros de perguntas e respostas, apresentando nossas propostas por todas as redes sociais, YouTube, Facebook, Instagram, Twitter, fizemos um podcast, enfim, todas as possibilidades comunicacionais”, disse o postulante. 

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