O nosso papel continua

O jornalismo é, por sua própria natureza, voltado para o espaço-tempo em que a sociedade busca direção e sentido. Parte do presente para não se estagnar no passado e, assim, mirar o horizonte que será caminhado. É o que o Diário do Nordeste tem feito nas últimas quatro décadas. É o que continuaremos fazendo. Tudo o que guarda o jornalismo em sua essência é o que nos move: consciência social, inteligência, informação, caráter, pluralidade, rigor na apuração da notícia, que pode ser uma pequena nota de última hora ou uma grande reportagem. Continuaremos exercendo o nosso papel. O tempo sempre nos convidou, algumas vezes mais, outras menos, ao exercício da capacidade de mudanças. Quem não se perguntou, neste período em que temos vivido, quais mudanças (e quando) poderão ser feitas em suas vidas?

Ainda que os planos realizados hoje tenham sido sonhados e projetados muito antes, não se consegue antecipar um sentimento até que se viva. A edição impressa sai, não sem saudosismo. São 39 anos folheando com orgulho as histórias que contamos. Estará na parede da memória deste veículo, como de tantos profissionais que fizeram e fazem o que somos. Mas não deixaremos de comemorar a nossa capacidade e coragem pela mudança. Uma nova geração de jornalistas, como de leitores, já é digital. O consumo da notícia, em sua maioria, também é digital, nas variadas gerações de leitores. Hoje, as páginas são viradas quando deslizamos os dedos na tela do smartphone, esse verdadeiro “computador de mão” presente nos lares de todas as camadas sociais.

Quando as analógicas “máquinas de escrever” foram introduzidas nas redações dos jornais brasileiros, no início dos anos 1900, era natural a resistência dos bons veteranos, que ainda preferiam escrever à mão, antes que o rabisco assumisse outra forma nos linotipos, o mesmo ocorreu com a câmera fotográfica digital; antes de nova mudança de século, os computadores vieram com todas as suas potências e gygabites substituir a datilografia tradicional e nos lançar para a Word Wide Web, ou apenas “www”. A notícia é construída nas telas de desktops, mas também de celulares. Não foi uma evolução apenas do dito “jornalismo impresso”. Até mesmo na TV, um jornalista em alguma parte do mundo está apurando a informação e registrando em texto, áudio e imagens pelo celular. A grandiosidade não está no equipamento, por mais tecnológico que seja, mas no jornalismo profissional que o executa para a apuração da notícia e a ética que regula o fazer jornalístico. 

A forma de escrever uma reportagem mudou, porque a maneira de ler a notícia também mudou. Uma redação atualizada e bem “antenada”, para enxergar as mudanças de fora, precisa reconhecer as suas próprias transformações. É um passo decisivo para reconhecer o que o leitor espera de nós.

O nosso papel continua, e a nossa responsabilidade só aumenta, porque fomos feitos para contar histórias, veiculadas nas mais diversas plataformas eletrônicas. O jornalismo profissional é um dever nosso e um direito da sociedade. Nos tempos em que a desinformação pode causar mortes, nosso trabalho é vital, pois somos, da democracia, um essencial instrumento. Porta-voz de uma importante região do Brasil.


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