Editorial: Impasse

Nem em sua mais pessimista projeção a equipe econômica do Governo Federal poderia imaginar que, em 2020, a União precisaria ter um gasto extraordinário do montante que foi necessário para pagar o auxílio emergencial. 

O número aproximado de beneficiados é de 68 milhões, com um aporte financeiro que, ao fim do ano, deve chegar a R$ 321,8 bilhões. Não é preciso ser um especialista para imaginar o quanto esse custo impactou as contas públicas. Os especialistas, contudo, é quem têm melhores condições de avaliar como ficam os cofres e as contas públicas, já degradadas, com esse gasto tão elevado.

A se considerar políticas públicas adotadas em outros países, em princípio, o Brasil fez o que precisava fazer, diante de uma emergência sanitária que abalou a economia e deixou quem vivia em situações precárias à mercê de uma ameaça ainda maior. 

Diante das incertezas, do imperativo de frear por mais tempo os setores produtivos, a União não viu outra alternativa senão prorrogar o repasse e, depois, alinhado com os indicativos de recuperação da economia, reduzir os valores repassados para cada beneficiário.

É tautológico explicitar que o socorro do Governo foi importante para as pessoas – e, é mister salientar, trata-se aqui daquelas que, de fato, se encontraram em condições adversas. Foi também importante para indústria e comércio, pois injetou recursos quando esses escasseavam, conferindo poder de consumo a quem não o tinha ou a quem o havia perdido por conta do desdobramento econômico da crise sanitária. 

A fazer valer o que está acordado, definido legalmente, o auxílio emergencial será extinto no fim do ano. Há contudo pressão para que ele continue – implicando que a União ignore o teto de gastos ou encontre uma solução jurídica para o imbróglio. 

A intensão, claro, tem apelo popular. Setores da indústria e do comércio também têm interesse numa nova prorrogação, preocupados com a perda de recursos em um momento no qual algumas atividades ainda estão iniciando a sua recuperação. 

A retomada econômica é uma das justificativas do Governo Federal para manter dezembro como o último mês de pagamento do auxílio, além, claro, do mais importante para a equipe econômica, que é frear o endividamento do País. A solução para o impasse é difícil, pois é quase impossível conciliar todos os interesses e expectativas envolvidos. 

Contudo, a dúvida tampouco é produtiva. É imperativo que haja um desenlace da questão, de forma que o próximo ano possa ser planejado, por instituições, das instâncias pública e privada, e por indivíduos. 

Sem que a pandemia tenha sido superada e diante do risco, real, sejam qual for sua probabilidade, de novas ondas de contágio, internações e mortes, 2021 já se abre no horizonte envolto em névoa, que turva a visão e atrapalha projeções mais seguras.

Para além do auxílio emergencial, é fundamental que a sociedade, suas instituições e indivíduos tenham respostas para seus anseios econômicos. Em ambos os casos, está em jogo não somente o futuro, como o presente de muitas pessoas e empresas no País.


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