Editorial: Agir como infectado

Enquanto muitas pessoas estão relaxando nas medidas de prevenção contra a Covid-19, estamos diante de um momento ainda mais grave: o surgimento de uma variante do coronavírus, que conforme pesquisas preliminares seria capaz de aumentar em até 70% o potencial de contágio. Os primeiros casos surgiram no Reino Unido. O ministro da Saúde britânico, Matt Hancock, resumiu o que poderia ser um lema de todas as nações: é importante não somente que as pessoas sigam as medidas sanitárias, mas que ajam como se tivessem o vírus, para parar de disseminá-lo.

Empatia nunca foi tão necessária, mas ainda parece algo tão distante de generalizações. Muitas culturas, como a nossa, são dadas a só agirem mediante uma ação anterior. Ou seja, reagimos - quando muito. É com o sentimento de "não vai acontecer comigo" que as pessoas se aglomeram em bares, restaurantes e confraternizações. Como se tem visto, ninguém está livre do contágio. Poderá acontecer com alguém conhecido, com a pessoa ao lado ou a que está em casa esperando. O número de arrependidos é muito menor que aqueles que ainda poderão se arrepender. Vivemos um horizonte de incertas proporções.

O curioso é que a raça humana se diferenciou das demais quando foi capaz de antever o inimigo e, por segurança, criou estratégias, armadilhas e abrigos. Precisamos nos abrigar em nossas "cavernas" se quisermos que mais pessoas vivam. Com a nova cepa do vírus se espalhando pelo sul da Inglaterra, países como Itália, Holanda e Bélgica já estão proibindo voos provindos do Reino Unido. Enquanto milhões de pessoas estão arrumando as malas para Natal e Réveillon, alguns países na Europa estão com a campanha "não viaje, a menos que seja absolutamente necessário".

Mesmo com as promissoras vacinas prestes a serem usadas em cada vez mais países, é preciso reconhecer que essa guerra não está vencida, e ainda falta muito a lutar. Com uma campanha de vacinação em curso, o Reino Unido entendeu ser necessário fechar estabelecimentos, em um novo lockdown. Não é tão curto o caminho até a imunidade, especialmente agora, com essa nova cepa mais contagiante.

No Brasil, onde as vacinas disponíveis ainda precisam ser aprovadas, as pessoas se aglomeram como se a Covid-19 fosse problema do passado. A pandemia não vai acabar com a virada do ano. Precisamos agir preparados para um cenário em que o vírus ainda será uma ameaça no decorrer de 2021. Temos a chance, mais uma, de amenizar as estatísticas da tragédia. Mas isso requer coragem: isolamento, distanciamento, álcool em gel, máscara, adiamento de reuniões não absolutamente necessárias. Somente com a adoção massiva e solidária das regras sanitárias, a sociedade será capaz de resistir e seguir. O que está em questão é o quanto ainda teremos capacidade de seguirmos se não soubermos nos proteger - e mesmo a economia depende desse compromisso coletivo, da adoção de hábitos responsáveis condizentes com o desafio presente.

Em dezembro, está sendo desenhado o mês janeiro, definindo-se o impacto que a pandemia terá sobre o primeiro mês do novo ano. É preciso estar atento à reta final do ano, para minimizar aglomerações e reforçar a importância de se seguir os protocolos sanitários.


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