Qual o presente no Dia das Crianças?

Podemos fazer uma analogia simples: uma obra de pavimentação ou a inauguração de uma praça está para o político assim como um presente de Dia das Crianças está para um pai

Escrito por
Blesser Moreno producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 08:14)
Sociólogo
Legenda: Sociólogo

Ainda adolescente, ouvia de um ex-prefeito de nossa amada e sofrida Fortaleza uma frase que nunca saiu da minha cabeça: “O pretinho é que gera votos.”
Ele se referia ao asfalto novo nas ruas e avenidas da cidade, aquele “pretinho” que brilha aos olhos do eleitor e rende dividendos nas urnas.
Décadas depois, percebo que a lógica continua a mesma. Muitos políticos ainda se apegam ao resultado imediato, ao efeito visual de uma política efêmera. Fazem o cálculo político antes de pensar na política pública.

Esses dias, vi um político sugerir que um projeto fosse “enterrado”, literalmente, e me peguei pensando no quanto isso simboliza nossa relação com o tempo e as prioridades. Tudo o que não dá retorno rápido é empurrado para o subterrâneo. Vivemos o império do imediatismo, que consome nossos esforços e nos distancia dos projetos que realmente transformam o futuro: saneamento básico, infraestrutura escolar, novas creches, valorização e capacitação dos profissionais da saúde e da educação.

Podemos fazer uma analogia simples: uma obra de pavimentação ou a inauguração de uma praça está para o político assim como um presente de Dia das Crianças está para um pai. E com a data se aproximando, muitos pais e mães se perguntam: “Qual presente darei ao meu filho?”

Desde que meu filho Mattia chegou ao mundo, tenho vivido esse dilema. Entre a vontade de presentear e a necessidade de educar, procuro o equilíbrio. Há pais que, sabiamente, preferem não se endividar em troca de um sorriso passageiro. São bons gestores. E há aqueles que oferecem algo que não cabe em uma caixa de presente: um curso, um esporte, um cuidado com a saúde. Esses são gestores excelentes, pensam em planejamento e metas.

Assim também deveria ser o poder público.
O cidadão, como uma criança à espera do presente, anseia por obras e ações que tragam satisfação e esperança. Mas é preciso maturidade para compreender que o verdadeiro “presente” pode estar escondido no invisível ou “enterrado”, nas tubulações, nas redes de esgoto, na água limpa que chega à torneira.

Saneamento básico, por exemplo, é uma política que raramente ganha manchetes. Dá trabalho, causa transtorno e, quando termina, quase ninguém lembra. A cidade parece a mesma, mas não é.

Ah, se as pessoas soubessem o quanto se economiza em saúde a cada centavo investido em saneamento, entenderiam que esse, sim, é o melhor presente que um gestor pode oferecer, não só no Dia das Crianças, mas em todos os dias do ano.

Gonzaga Mota
08 de Novembro de 2025
Doutora em educação, professora da educação básica, membro da Coordenação Colegiada do Fórum EJA/CE
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